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CÚPULA DAS AMÉRICAS
Em discurso duro, presidente lista condições para país ingressar no bloco econômico
FHC diz que Alca pode ser "indesejável"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A QUÉBEC
O presidente FHC fez ontem o
discurso até agora mais duro de
uma autoridade brasileira sobre a
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), a ponto de dizer que
ela pode ser "indesejável".
FHC listou um punhado de exigências para disparar em seguida:
"Não sendo assim, [a Alca" seria
irrelevante ou, na pior das hipóteses, indesejável".
O presidente discursava na cerimônia de abertura da 3ª Cúpula
das Américas, que começou às
19h45 (20h45 em Brasília), com
uma hora e 15 minutos de atraso
em relação ao horário previsto.
Motivo: Québec tornou-se uma
cidade sitiada pelos manifestantes
e parcialmente sufocada por uma
nuvem de gás lacrimogêneo.
Em consequência, os chefes de
Estado tiveram dificuldades em
seus deslocamentos, tanto que
FHC atrasou-se em uma hora para um encontro com seu colega
norte-americano George W. Bush
e os presidentes dos países andinos e do Panamá.
O primeiro-ministro canadense, Jean Chrétien, teve que referir-se aos protestos para dizer que,
"na democracia, protestos pacíficos são direitos fundamentais".
Emendou: "Mas a violência e a
provocação são inaceitáveis".
Já FHC afirmou que "a Alca será
bem-vinda se sua criação for um
passo para dar acesso aos mercados mais dinâmicos", em óbvia
alusão ao mercado dos EUA.
Depois, o presidente brasileiro
listou as demais condições:
1) "Regras compartilhadas sobre antidumping", em alusão ao
fato de que os EUA utilizam sua
própria legislação para barrar importações a preços de custo ou
abaixo do custo (o dumping). As
normas dos EUA são consideradas protecionistas pelo governo
brasileiro, entre outros.
2) "Reduzir as barreiras não-tarifárias". É uma alusão a uma série de medidas que os norte-americanas usam para proteger seus
produtores, mesmo quando têm
tarifas de importação baixas.
3) "Evitar a distorção protecionista das boas regras sanitárias".
De novo, é alusão à práticas de
países ricos de usar supostos riscos sanitários para não importar
do Brasil (como ocorreu quando
o Canadá colocou a carne brasileira sob suspeita de ter o mal da
"vaca louca").
4) "Ao proteger a propriedade
intelectual, promover, ao mesmo
tempo, a capacidade tecnológica
de nossos povos". É uma referência ao contencioso Brasil/EUA sobre a lei brasileira de patentes.
5) "Ir além da Rodada Uruguai e
corrigir as assimetrias então cristalizadas, sobretudo na área agrícola". Refere-se ao fato de que os
países ricos subsidiam pesadamente seus produtores agrícolas e
prejudicam, com isso, países de
elevada competitividade nessa
área, como é o caso do Brasil.
Defesa do Mercosul
Duro em relação à Alca, FHC foi
igualmente enfático na defesa do
Mercosul, exatamente no momento em que o bloco regional vive a sua maior crise.
Disse que, "para o Brasil, o Mercosul é uma prioridade absoluta,
uma conquista que veio para ficar
e que não deixará de existir pela
participação em esquemas de integração de maior abrangência
geográfica".
As estocadas indiretas nos EUA
não se limitaram ao capítulo Alca.
FHC tocou no problema dos remédios para a Aids, enfatizando a
necessidade de "assegurar aos
que sofrem da doença tratamento
ao menor custo possível".
É clara alusão à disputa entre o
Brasil e laboratórios dos EUA,
com apoio de seu governo, pelo
fornecimento de medicamentos.
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