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REGIME MILITAR
Relatórios mantinham governo informado sobre as supostas atividades de João Goulart no exterior
Espiões vigiavam presidente no exílio
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente João Goulart era
vigiado em seu exílio no Uruguai
e na Argentina, a partir de 1964,
por espiões a serviço dos órgãos
de informação do regime militar
brasileiro.
No prontuário 1.305, guardado
no Arquivo Público do Estado do
Rio de Janeiro, estão dados coletados por ""arapongas" sobre Goulart desde 1952, um ano antes de
ele assumir o Ministério do Trabalho do governo Vargas.
Há relatórios sobre Goulart relativos ao período 1961 e 1964
-demonstrando que ele foi
mantido sob vigilância enquanto
era presidente da República.
A Folha teve acesso ao prontuário depois de obter autorização de
João Vicente Goulart, filho do
presidente. Segundo João Vicente, é a primeira vez que o conteúdo da pasta sobre o pai se torna
público, inclusive para ele.
Em 1965, um ano após a deposição de Goulart pelo movimento
militar de 1964, dois relatórios
chegaram à Secretaria de Segurança Pública do então Estado da
Guanabara. Não são identificados
o autor e nem a repartição para a
qual ele trabalhava.
Relatório
O informante relatou: "Segundo
consta, o prontuariado [Goulart"
dirige com o senhor Leonel Brizola uma articulação entre os asilados de Montevidéu no sentido de
uma contra-revolução".
O relatório afirma: ""Goulart,
asilado que foi para o Uruguai,
não cessou as suas atividades
conspiradoras contra o regime vigente (sic), senão vejamos: vários
são os pombos-correio que atuam
em seu favor (...)".
"Certo coronel" que teria estado
com Goulart dizendo-se em nome do general Amauri Kruel deu-lhe o seguinte recado. "Temos
condições de derrubar o governo
Caestelo (sic, Castello Branco, general presidente da República de
1964 a 1967), bastando para isso
que o ex-presidente não pense
mais em três coisas: CGT (Comando Geral dos Trabalhadores,
associação sindical extinta), comunismo e Brizola"."
Amauri Kruel fora ministro da
Guerra em 1962-63, durante o governo de João Goulart. Em 1964,
comandava o 2º Exército, em São
Paulo. Conforme o mesmo texto,
""Goulart mantém no Departamento de Tacuarembó [Uruguai"
estações de radioamadores, montadas e dirigidas por irmãos de
Brizola, que fazem emissões para
o Brasil".
Há uma referência ao ""indivíduo John William Cooke", que
""estaria encarregado de negociar
uma vultosa compra de armas
provenientes da Argélia". As armas serviriam para movimentos
armados contra o nascente regime militar brasileiro.
Anteontem, Leonel Brizola, exilado em 1965 no Uruguai, como o
cunhado Goulart, disse não saber
quem era William Cooke.
Marechal Lott
Em sua fazenda de Tacuarembó, segundo o informante, Goulart reuniu-se com Doutel de Andrade, que teria recebido ordens
para articular a candidatura do
marechal Henrique Teixeira Lott
(que havia perdido a eleição presidencial de 1960 para Jânio Quadros) ao governo da Guanabara.
A eleição ocorreria em outubro
de 1965. Lott foi considerado inelegível pelo Tribunal Regional
Eleitoral. A articulação de Goulart
pró-Lott foi confirmada anteontem por Leonel Brizola.
Nos meses após o golpe de abril
de 1964, os militares promoveram
uma devassa sobre Goulart no
Brasil. No informe 193/64, de 15
de junho de 1964, a 2ª Divisão do
Ministério da Guerra descreve
um apartamento do presidente,
em Copacabana, supostamente
sede de conspirações.
No dia 21 de janeiro de 1971, o
CIE (Centro de Informações do
Exército) do 1º Exército, no Rio,
emitiu o informe 30/71, dizendo
que o advogado Marcello Alencar
recebera poderes de Goulart para
comprar-lhe imóveis e cuidar de
outros negócios. Depois do fim de
regime militar (1985), Marcello
Alencar seria prefeito do Rio e governador do Estado.
(LUIZ ANTÔNIO RYFF e
MÁRIO MAGALHÃES)
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