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NO PLANALTO
O mico do MST
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O engenheiro Israel
Wainer, 62, é um amante
da leitura de jornais. Ele tem ojeriza do noticiário sobre reforma
agrária. Acha equivocada a idéia
de distribuir terras e dinheiro público barato numa época em que
o campo está sendo invadido pela
máquina. "O governo apenas enxuga gelo", diz Wainer. Ou, por
outra, dizia, dizia.
Na última quarta-feira, a cabeça de Wainer virou. Ele é agora
um entusiasta da repartição fundiária. Analisa até a hipótese de
filiar-se ao MST. Seus novos ídolos são os dirigentes da Coagri,
cooperativa administrada pelos
sem-terra no Paraná.
Wainer exultou ao tomar conhecimento, pelas páginas da Folha, de que a Coagri é dada ao hábito de comprar "obrigações ao
portador" da Petrobras, oferecendo-as depois em pagamento de dívidas. O engenheiro guarda consigo um bom lote das tais obrigações. Herdou-as do pai. E viu na
estratégia da cooperativa a chance de realizar um negócio com o
qual sonha há anos. Há 18 anos.
Em 1982, Wainer foi bater à porta do escritório da Petrobras em
Porto Alegre, onde morava. Tendo achado os papéis da empresa
em meio aos guardados do pai,
que acabara de morrer, Wainer
queria resgatá-los, trocando tudo
por dinheiro vivo. Não teve sorte.
Disseram-lhe à época que o papelório, emitido entre 1953 e 1957,
poderia ter sido trocado por ações
da Petrobras até o final da década
de 70. Depois disso, virou pó.
"Mas não vale nada?", abespinhou-se Wainer. "Só como relíquia", respondeu-lhe o atendente
da Petrobras.
Agora, Wainer não vê a hora de
avistar-se com os dirigentes da
Coagri. Já havia perdido as esperanças. Chegara mesmo a emoldurar os papéis, pendurando-os
no escritório, ao lado de outros
"micos" -títulos da Eletrobrás,
ações de um antigo banco gaúcho,
o Pelotense etc.
Wainer apóia com entusiasmo
a estratégia da Coagri. Está pronto para vender à cooperativa do
MST os seus títulos. Dispõe-se até
a conceder um desconto. Se a Coagri preferir, topa receber a sua
parte em produtos vindos dos assentamentos: feijão, arroz, milho,
soja, qualquer coisa.
Morando hoje em Brasília,
Wainer acha que a sorte, finalmente, conspira a seu favor. Festeja o silêncio do PT e das demais legendas de esquerda. Ele pensa alto: se fosse um prefeito do PFL que
estivesse tentando empurrar o mico da Petrobras, o Congresso já teria vindo abaixo. Mas sendo o
pessoal do MST...
Em tempo: já foi maior o prestígio de Alberto Cardoso no Palácio
do Planalto. FHC começa a achar
que deu tarefas demais ao general. Tem pressa em aliviar-lhe as
atribuições.
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