São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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NO PLANALTO
O mico do MST

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O engenheiro Israel Wainer, 62, é um amante da leitura de jornais. Ele tem ojeriza do noticiário sobre reforma agrária. Acha equivocada a idéia de distribuir terras e dinheiro público barato numa época em que o campo está sendo invadido pela máquina. "O governo apenas enxuga gelo", diz Wainer. Ou, por outra, dizia, dizia.
Na última quarta-feira, a cabeça de Wainer virou. Ele é agora um entusiasta da repartição fundiária. Analisa até a hipótese de filiar-se ao MST. Seus novos ídolos são os dirigentes da Coagri, cooperativa administrada pelos sem-terra no Paraná.
Wainer exultou ao tomar conhecimento, pelas páginas da Folha, de que a Coagri é dada ao hábito de comprar "obrigações ao portador" da Petrobras, oferecendo-as depois em pagamento de dívidas. O engenheiro guarda consigo um bom lote das tais obrigações. Herdou-as do pai. E viu na estratégia da cooperativa a chance de realizar um negócio com o qual sonha há anos. Há 18 anos.
Em 1982, Wainer foi bater à porta do escritório da Petrobras em Porto Alegre, onde morava. Tendo achado os papéis da empresa em meio aos guardados do pai, que acabara de morrer, Wainer queria resgatá-los, trocando tudo por dinheiro vivo. Não teve sorte.
Disseram-lhe à época que o papelório, emitido entre 1953 e 1957, poderia ter sido trocado por ações da Petrobras até o final da década de 70. Depois disso, virou pó. "Mas não vale nada?", abespinhou-se Wainer. "Só como relíquia", respondeu-lhe o atendente da Petrobras.
Agora, Wainer não vê a hora de avistar-se com os dirigentes da Coagri. Já havia perdido as esperanças. Chegara mesmo a emoldurar os papéis, pendurando-os no escritório, ao lado de outros "micos" -títulos da Eletrobrás, ações de um antigo banco gaúcho, o Pelotense etc.
Wainer apóia com entusiasmo a estratégia da Coagri. Está pronto para vender à cooperativa do MST os seus títulos. Dispõe-se até a conceder um desconto. Se a Coagri preferir, topa receber a sua parte em produtos vindos dos assentamentos: feijão, arroz, milho, soja, qualquer coisa.
Morando hoje em Brasília, Wainer acha que a sorte, finalmente, conspira a seu favor. Festeja o silêncio do PT e das demais legendas de esquerda. Ele pensa alto: se fosse um prefeito do PFL que estivesse tentando empurrar o mico da Petrobras, o Congresso já teria vindo abaixo. Mas sendo o pessoal do MST...
Em tempo: já foi maior o prestígio de Alberto Cardoso no Palácio do Planalto. FHC começa a achar que deu tarefas demais ao general. Tem pressa em aliviar-lhe as atribuições.


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