São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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MEIO AMBIENTE
Produção de soja avança em Rondônia e Mato Grosso, indicando possibilidade de desmatamento recorde
Nova fronteira agrícola ameaça Amazônia



THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL A CHUPINGUAIA (RO) E SAPEZAL (MT)

A Chapada dos Parecis, que inclui o sul de Rondônia e as regiões noroeste e norte de Mato Grosso, representa um dilema para a Amazônia.
Nessa região de cerrado está se abrindo uma nova fronteira agrícola com produtividade recorde de soja. Simultaneamente, essa expansão aponta para uma aceleração do desmatamento na Amazônia.
De acordo com especialistas em meio ambiente e agricultura dos governos federal e estaduais e de organizações não-governamentais, o desmatamento neste ano na Amazônia deve ser o maior desde 1995, o maior índice de derrubada de floresta já registrado (29 mil km2).
Nesse cenário, o arquivamento, na semana passada, do projeto do Código Florestal elaborado pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR) tem efeito nulo.
O projeto do novo código reduzia a área mínima de reserva florestal nas propriedades rurais da Amazônia de 80% para 50%. Foi arquivado depois de muitos protestos das ONGs ambientais.
"Com a derrubada do projeto, evitou-se a detonação, mas a bomba-relógio sobre a Amazônia continua acionada", disse o coordenador da ONG Greenpeace, Roberto Kishinami.

Oportunidade
Para os produtores de Sapezal, uma cidade de dez anos e 8.000 habitantes no noroeste do Mato Grosso, o discurso do ambientalista soa como um sacrilégio.
"Existe a Amazônia de floresta e a do cerrado, onde se pode e se deve produzir", afirmou Blairo Maggi, considerado o maior produtor mundial de soja.
Entre este mês e julho, diariamente cerca de cem caminhões serão carregados com soja no armazém da Companhia Maggi em Sapezal.
Os caminhoneiros irão seguir por quase mil quilômetros até Porto Velho, a capital de Rondônia, onde a produção será embarcada na hidrovia Madeira-Amazonas para Itacoatiara (AM) e exportada para Europa e Japão, principalmente.
Apenas a região da Chapada dos Parecis deve exportar neste ano 800 mil toneladas de soja. Estima-se que passe de 1 milhão de toneladas em 2001.
Na safra de verão, foram colhidos em Sapezal uma média de 3.800 quilos de soja por hectare. É 38% acima da média nacional.
"Nesta região existem as melhores terras inexploradas do mundo. Temos a oportunidade histórica de aproveitar esse potencial sem agredir o ambiente", afirmou José Roberto Peres, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. A Embrapa estima que o país possa aumentar em 40% a sua produção em função do avanço da soja em Mato Grosso.
É o nó da produção versus a proteção. O mapeamento de solo feito pela Embrapa na região identificou a terra fértil e a floresta de cerrado a ser preservada. Mas essa divisão vale apenas na teoria.
Em Chupinguaia (RO), onde a produção de soja tem apenas quatro safras e a economia se baseia na pecuária de corte, a maior parte dos proprietários rurais sofreu multas e autuações por desmatamentos e queimadas ilegais.
Estima-se que neste o desmatamento na Amazônia passe dos 20 mil km2. Nos últimos três anos, não chegou a 18 mil km2.

Madeireiras no Pará
Estado com a maior área de desmatamento (160 mil km2 desde 1988), o Pará é uma frente de pressão sobre a floresta amazônica. Ao longo da rodovia PA-150 ocorre o maior crescimento de pequenas madeireiras no país.
Os madeireiros que também trabalham com agropecuária são a principal ameaça à selva na região de Tomé-Açu, 260 km ao sul de Belém, capital do Estado.
A Agência Folha visitou as propriedades de madeireiros na região.Todos os que combinam a extração de madeira com lavoura ou pecuária afirmaram que ampliariam a derrubada da floresta caso a legislação permitisse.
"Com uma mudança na lei, poderia cortar uma área, vender a madeira e, com o dinheiro, preparar a terra para pastagem", diz Alberico Antonio Pancierio, presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Vale do Acará.


Colaborou a Agência Folha, em Tomé-Açu (PA)



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