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MEIO AMBIENTE
Produção de soja avança em Rondônia e Mato Grosso, indicando possibilidade de desmatamento recorde
Nova fronteira agrícola ameaça Amazônia
THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL A CHUPINGUAIA (RO) E SAPEZAL (MT)
A Chapada dos Parecis, que inclui o sul de Rondônia e as regiões
noroeste e norte de Mato Grosso,
representa um dilema para a
Amazônia.
Nessa região de cerrado está se
abrindo uma nova fronteira agrícola com produtividade recorde
de soja. Simultaneamente, essa
expansão aponta para uma aceleração do desmatamento na Amazônia.
De acordo com especialistas em
meio ambiente e agricultura dos
governos federal e estaduais e de
organizações não-governamentais, o desmatamento neste ano
na Amazônia deve ser o maior
desde 1995, o maior índice de derrubada de floresta já registrado
(29 mil km2).
Nesse cenário, o arquivamento,
na semana passada, do projeto do
Código Florestal elaborado pelo
deputado Moacir Micheletto
(PMDB-PR) tem efeito nulo.
O projeto do novo código reduzia a área mínima de reserva florestal nas propriedades rurais da
Amazônia de 80% para 50%. Foi
arquivado depois de muitos protestos das ONGs ambientais.
"Com a derrubada do projeto,
evitou-se a detonação, mas a
bomba-relógio sobre a Amazônia
continua acionada", disse o coordenador da ONG Greenpeace,
Roberto Kishinami.
Oportunidade
Para os produtores de Sapezal,
uma cidade de dez anos e 8.000
habitantes no noroeste do Mato
Grosso, o discurso do ambientalista soa como um sacrilégio.
"Existe a Amazônia de floresta e
a do cerrado, onde se pode e se deve produzir", afirmou Blairo
Maggi, considerado o maior produtor mundial de soja.
Entre este mês e julho, diariamente cerca de cem caminhões
serão carregados com soja no armazém da Companhia Maggi em
Sapezal.
Os caminhoneiros irão seguir
por quase mil quilômetros até
Porto Velho, a capital de Rondônia, onde a produção será embarcada na hidrovia Madeira-Amazonas para Itacoatiara (AM) e exportada para Europa e Japão,
principalmente.
Apenas a região da Chapada dos
Parecis deve exportar neste ano
800 mil toneladas de soja. Estima-se que passe de 1 milhão de toneladas em 2001.
Na safra de verão, foram colhidos em Sapezal uma média de
3.800 quilos de soja por hectare. É
38% acima da média nacional.
"Nesta região existem as melhores terras inexploradas do mundo. Temos a oportunidade histórica de aproveitar esse potencial
sem agredir o ambiente", afirmou
José Roberto Peres, presidente da
Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária).
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. A Embrapa estima que o país possa aumentar em 40% a sua produção
em função do avanço da soja em
Mato Grosso.
É o nó da produção versus a
proteção. O mapeamento de solo
feito pela Embrapa na região
identificou a terra fértil e a floresta
de cerrado a ser preservada. Mas
essa divisão vale apenas na teoria.
Em Chupinguaia (RO), onde a
produção de soja tem apenas quatro safras e a economia se baseia
na pecuária de corte, a maior parte dos proprietários rurais sofreu
multas e autuações por desmatamentos e queimadas ilegais.
Estima-se que neste o desmatamento na Amazônia passe dos 20
mil km2. Nos últimos três anos,
não chegou a 18 mil km2.
Madeireiras no Pará
Estado com a maior área de desmatamento (160 mil km2 desde
1988), o Pará é uma frente de pressão sobre a floresta amazônica.
Ao longo da rodovia PA-150 ocorre o maior crescimento de pequenas madeireiras no país.
Os madeireiros que também
trabalham com agropecuária são
a principal ameaça à selva na região de Tomé-Açu, 260 km ao sul
de Belém, capital do Estado.
A Agência Folha visitou as propriedades de madeireiros na região.Todos os que combinam a
extração de madeira com lavoura
ou pecuária afirmaram que ampliariam a derrubada da floresta
caso a legislação permitisse.
"Com uma mudança na lei, poderia cortar uma área, vender a
madeira e, com o dinheiro, preparar a terra para pastagem", diz Alberico Antonio Pancierio, presidente do Sindicato das Indústrias
Madeireiras do Vale do Acará.
Colaborou a Agência Folha,
em Tomé-Açu (PA)
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