São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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POLÍTICA NO ESCURO

José Aníbal, novo presidente do PSDB, invoca tática do "bateu, levou" para defender governo

Querem atingir Malan, diz líder tucano

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente do PSDB, José Anibal, durante entrevista no DF


VERA MAGALHÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo presidente do PSDB, José Aníbal, disse ontem que as novas denúncias sobre o caso Marka são um misto de "requentamento e suposições": "Agora estão querendo chegar próximo da equipe econômica, do ministro Malan" [Pedro Malan, da Fazenda".
Ele defendeu que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem as denúncias de venda de informações pelo ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, mas rejeita a afirmação de que o governo acobertou o caso.
Para Aníbal, está havendo um "uso leviano da democracia", com o acúmulo de acusações contra o governo. Para se contrapor a isso, o PSDB vai adotar uma nova atitude: o "bateu, levou" -tática utilizada pelo ex-presidente Fernando Collor. Nenhum ataque a Fernando Henrique Cardoso ficará sem resposta de seu partido.
A estratégia do PSDB, já visando 2002, é se credenciar como o partido mais leal a FHC, isolando os aliados PMDB e PFL -responsáveis pelo racha na base governista. "O PSDB vai ajudar o presidente a não ser mais um gerenciador de crises", disse Aníbal: "Não contem com o PSDB para desgastar o governo. O PSDB e o governo são indissociáveis", afirmou.
Os primeiros alvos da nova ofensiva tucana podem ser o PT e o publicitário Duda Mendonça, responsáveis pela propaganda que associa governistas a ratos. O PSDB estuda abrir um processo por vilipêndio a símbolo nacional, porque, na campanha, os ratos roem a bandeira brasileira.
"O Duda é que é um rato. O que ele fez na campanha de 96 [de Celso Pitta" foi uma farsa", disse. Sobram ataques para Luiz Inácio Lula da Silva e para o governador Itamar Franco (MG). Lula é apontado como "o político mais gasto do Brasil", e Itamar é chamado de "vaga-lume": "Uma hora está aceso, na outra está apagado".
Também na área energética o PSDB vai ficar ao lado do governo. O deputado diz que pode ter havido "falta de ação" do governo no setor elétrico, mas conta com o "esforço" e a "generosidade" da população para driblar a crise. Aníbal condenou uma propaganda apócrifa que prega o "não à economia de energia".
A Folha procurou Duda Mendonça e Itamar para responder aos ataques, mas não conseguiu localizá-los. O deputado José Genoino (SP) respondeu em nome de Lula, que está na China: "Aníbal e sua turma hipotecaram o futuro do país. Em vez de dar explicação para as graves denúncias de corrupção no Banco Central e para a crise energética, partem para um ataque juvenil à oposição".
Sobre as críticas a Lula, o deputado disse que "Lula disputou a eleição várias vezes, mas nunca perdeu a dignidade, ao contrário do governo". Genoino avalia que o governo FHC e os tucanos estão "perdidos" diante das crises políticas e da crise energética. "Eles ultrajaram a bandeira e tiraram a luz da casa das pessoas."
No fim de semana, o governo teve um ponto positivo em outro caso que o envolve, o do dossiê Caribe. O ministro da Justiça, José Gregori, disse ontem que a reportagem da revista "Época" desta semana, demonstrando como teria sido montado o chamado dossiê Caribe, "é mais um elemento forte para confirmar a falsidade total, geral e irrestrita do dossiê".
O dossiê Caribe é um conjunto de papéis sem autenticidade comprovada sobre a suposta existência de empresa e conta no exterior de FHC, do ministro José Serra (Saúde), do ministro Sérgio Motta (Comunicações, morto em 1998) e do governador paulista Mário Covas (morto neste ano).
A reportagem apresenta relatos e cópias de depoimentos prestados à Justiça dos EUA demonstrando que o dossiê seria uma farsa com objetivos político-eleitoreiros e para obter ganhos com a especulação dos títulos brasileiros nas bolsas norte-americanas. Os irmãos Fernando e Leopoldo Collor teriam obtido ganhos, e o ex-prefeito Paulo Maluf prejuízos.


Colaborou WILLIAM FRANÇA, da Sucursal de Brasília



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