São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997.



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Itamaraty vence a resistência militar

RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília

A adesão brasileira ao TNP foi uma vitória do Itamaraty sobre um bolsão militar-nacionalista e a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), que se opunham à medida e nunca abandonaram o sonho de construir a bomba.
O assunto começou a ser formalmente discutido no âmbito da Creden (Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional) em janeiro de 1996, mas os primeiros passos foram dados no governo Itamar Franco, quando Fernando Henrique Cardoso era chanceler.
Na época, o Itamaraty indicou um embaixador, Castro Neves, para cuidar da área nuclear na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), ocupada pelo almirante Mário César Flores, um dos pioneiros do programa nuclear da Marinha.
Enquanto isso, a Cnen foi entregue, sucessivamente, a dois técnicos ligados a Furnas.
Pouco a pouco, a visão sobre o setor nuclear foi deixando de ser militar para se tornar pragmaticamente diplomática. O golpe decisivo ocorreu quando o Brasil designou uma diplomata como representante junto à Agência Internacional de Energia Atômica.
Na área militar e na Cnen, a postura do Itamaraty sempre foi considerada "americanófila".
Foi no contexto dessas discussões que setores do Exército vazaram que seria reativado o reator a grafite de Guaratiba (RJ), que não tem outra finalidade senão fabricar plutônio para armas. O lobby militar deve voltar quando o Senado votar a ratificação do acordo.
Ao aderir ao TNP, o Brasil pode ser tratado como nação favorecida, de acordo com a legislação americana. De fora, estava sujeito a entrar numa lista negra e ter seus produtos sobretaxados nos EUA.
Como diz um diplomata que acompanhou a decisão: "Ficar de fora tinha um custo muito alto."



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