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Itamaraty vence a
resistência militar
RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília
A adesão brasileira ao TNP foi
uma vitória do Itamaraty sobre um
bolsão militar-nacionalista e a
Cnen (Comissão Nacional de
Energia Nuclear), que se opunham
à medida e nunca abandonaram o
sonho de construir a bomba.
O assunto começou a ser formalmente discutido no âmbito da Creden (Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional) em janeiro
de 1996, mas os primeiros passos
foram dados no governo Itamar
Franco, quando Fernando Henrique Cardoso era chanceler.
Na época, o Itamaraty indicou
um embaixador, Castro Neves, para cuidar da área nuclear na SAE
(Secretaria de Assuntos Estratégicos), ocupada pelo almirante Mário César Flores, um dos pioneiros
do programa nuclear da Marinha.
Enquanto isso, a Cnen foi entregue, sucessivamente, a dois técnicos ligados a Furnas.
Pouco a pouco, a visão sobre o
setor nuclear foi deixando de ser
militar para se tornar pragmaticamente diplomática. O golpe decisivo ocorreu quando o Brasil designou uma diplomata como representante junto à Agência Internacional de Energia Atômica.
Na área militar e na Cnen, a postura do Itamaraty sempre foi considerada "americanófila".
Foi no contexto dessas discussões que setores do Exército vazaram que seria reativado o reator a
grafite de Guaratiba (RJ), que não
tem outra finalidade senão fabricar plutônio para armas. O lobby
militar deve voltar quando o Senado votar a ratificação do acordo.
Ao aderir ao TNP, o Brasil pode
ser tratado como nação favorecida, de acordo com a legislação
americana. De fora, estava sujeito
a entrar numa lista negra e ter seus
produtos sobretaxados nos EUA.
Como diz um diplomata que
acompanhou a decisão: "Ficar de
fora tinha um custo muito alto."
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