São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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JANIO DE FREITAS

Problema preliminar

A polêmica provocada pela operação na penitenciária Bangu 1 é daquelas que podem ser conduzidas ao infinito pela mídia, sem possibilidade de solução. Mas nisso mesmo mostra o estado precário em que está, no Brasil, a ação contra o crime organizado.
É indiscutível, de uma parte, que os promotores incorreram em excesso ao impedirem a entrada do secretário de Justiça fluminense enquanto era vasculhada a penitenciária. Escapou-se de um episódio perigoso, caso ocorresse ao secretário Paulo Saboya buscar apoio de um contingente da PM para entrar à força, em defesa da autoridade do cargo.
De outra parte, porém, o excesso dos promotores merece uma palavrinha a mais: excesso de zelo. A presença inesperada do secretário, como a do diretor da penitenciária às 7h, surpreendeu-os, ao comprovar que toda a cautela para o sigilo total da operação fora violado. Justificava-se, portanto, a hipótese de que a própria operação estivesse comprometida, dada a impossibilidade de constatar de imediato a extensão do furo.
Assim é: as operações sérias contra o crime organizado precisam começar por proteger-se de setores que deveriam integrá-las. Não era o caso, obviamente, do secretário fluminense, mas é o caso do dispositivo penitenciário no país todo e de grande parte do aparelho policial, cuja contaminação mais uma vez se comprova nos telefonemas gravados na própria Bangu 1, com suas menções ao fornecimento de armas por policiais.
E esse problema, como poderia resolvido? A ele não há senão as referências mais convencionais e as providências mais inócuas, que parecem mais proteger do que reprimir. Se há a pretensão de combater o crime organizado, enfrentar o problema da contaminação nos aparelhos de segurança pública é uma questão preliminar - e, no entanto, governo nenhum se mostrou disposto ou capaz de fazê-lo de fato.

Alerta
A imobilidade da candidatura de José Serra, na pesquisa Ibope, seguindo-se a um período de grande exposição do candidato, frustrou o otimismo que aguardava o novo índice. Mas a preocupação da constatação menos desejada: o crescimento do índice de Ciro Gomes, apesar da proibição de sua presença nos programas do PTB, obtida no TSE pelo PSDB.
Consideradas as margens de erro para cima e para baixo, fica a possibilidade que Ciro Gomes esteja ainda mais próximo do segundo colocado do que aparenta. O que seria um problema com o qual o PSDB não contava mais.


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