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CELSO PINTO
O FMI, a crise e o Brasil
Os dois focos principais de
crise internacional, Japão e
Rússia, passarão por semanas
decisivas, e um desfecho favorável depende da aprovação
de reformas politicamente difíceis. Os outros tigres asiáticos estão se recuperando, mas
ainda enfrentarão períodos de
turbulências.
"Em crises deste tamanho,
não sabemos o que vem pela
frente e temos de estar preparados para agir", definiu Stanley Fischer, o segundo homem
forte do FMI, que participou,
sexta-feira, de um seminário
em São Paulo. O recado para o
Brasil foi claríssimo: se sofrer
novo ataque especulativo, deve voltar a subir os juros e
defender sua moeda a qualquer custo.
"Tenho defendido uma teoria que, até agora, tem-se provado verdadeira", disse Fischer à coluna. "Os países que
defenderam suas moedas e
não desvalorizaram se deram
melhor do que os que desvalorizaram".
No caso do Brasil, a importância de resistir a uma crise é
ainda maior porque um colapso arrastaria toda a América Latina. E, aí, o próprio FMI
ficaria em situação complicada.
Fischer lembrou que, hoje, o
FMI tem apenas US$ 15 bilhões de recursos disponíveis
para emprestar. Se o Brasil entrasse em crise, Fischer acha
que poderia alegar risco sistêmico (de se alastrar pela América Latina) e usar os US$ 25
bilhões do GAB, uma linha de
empréstimo de uso restrito. No
limite, o FMI teria US$ 40 bilhões para evitar que a América Latina enfrentasse uma crise como a asiática, onde gastaram-se mais de US$ 100 bilhões.
O risco de haver crise não
quer dizer, obviamente, que
ela acontecerá. Fischer não
entende, por exemplo, porque
as turbulências na Rússia afetaram tanto o Brasil. A seu
ver, a situação dos dois países
é muito diferente.
Fischer foi, desde o primeiro
momento, o principal piloto
na montagem dos pacotes de
ajuda à Ásia. Além de sua posição estratégica no FMI, ele é
um acadêmico mundialmente
respeitado, originário do MIT,
de Boston.
Em relação à Rússia, Fischer
deixou claro que o FMI estaria
preparado para discutir um
novo pacote de ajuda, inferior
a US$ 10 bilhões, mas apenas
se a Duma aprovasse as mudanças fiscais em discussão.
Fischer viajou sexta-feira para
a Ucrânia e nesta semana estará em Moscou.
O Japão o preocupa bastante. Ele disse que os dias de
crise que precederam a intervenção americana em favor
do iene foram os piores que já
passou desde a crise de outubro. Achou, portanto, a intervenção oportuna.
Ele não tem dúvidas, contudo, de que o apoio americano,
daqui para a frente, estará
condicionado ao avanço concreto do Japão em duas áreas:
estímulo fiscal e acerto do setor bancário. Se não houver
medidas concretas, rapidamente, de Tóquio, os Estados
Unidos poderão abandonar o
iene.
No seminário, ele detalhou o
que se espera do Japão. Na
área fiscal, não basta o pacote
recentemente anunciado,
equivalente a 2% do PIB. "É
preciso aprovar, logo, reduções de impostos adicionais e
substanciais".
Para os bancos, o pacote que
se espera é amplo e detalhado.
Vai da liquidação de instituições insolventes e mecanismos
para lidar com a montanha de
maus empréstimos a melhorias na supervisão.
Sem resolver o problema dos
bancos, o Japão não sairá da
estagnação. A situação hoje é
tão ruim que, embora os juros
sejam quase zero, os bancos
relutam em emprestar.
No caso dos outros países
asiáticos, ele acha que o ponto
de inflexão para melhor se deu
na virada do ano, quando a
Coréia acertou a renegociação
dos débitos com os bancos. As
moedas pararam de cair e até
se recuperaram um pouco. O
que vem pela frente, contudo,
é um penoso processo de reestruturação do setor financeiro, com avanços e recuos. Haverá "períodos difíceis" pela
frente.
O FMI abandonou seu extremo otimismo fiscal com o Brasil e agora aposta em resultados de déficit primário e nominal em 98 parecidos aos indesejáveis números de 97. O
crescimento ficaria entre 1,5%
e 2% este ano, a inflação, entre 4% e 5% e o déficit comercial, em US$ 5 bilhões.
Fischer classificou o pacote
fiscal brasileiro de outubro de
corajoso, mas reclamou que a
parte de corte de gastos não
foi implementada, só o aumento de receitas. Recomendou também a plena implementação dos acordos com os
Estados. Seria, a seu ver, uma
forma de o Brasil reduzir os
riscos de uma crise.
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