São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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CASO TRT
Investigação sobre a contabilidade dessas instituições mostra destino de R$ 10,9 milhões desviados do fórum
BC apura rastro do dinheiro em 20 bancos

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central (BC) inaugurou uma investigação sobre a contabilidade de 20 bancos que conhecem o destino de R$ 10,9 milhões desviados do orçamento do Fórum Trabalhista de São Paulo. Essas instituições guardam os segredos sobre os beneficiários de mais de 800 ordens de pagamento levantadas pela CPI do Judiciário e obtidas ontem pela Folha.
Os fiscais do BC querem obter diretamente dos bancos informações sobre o destino do dinheiro. Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do BC confirmou a investigação, mas se negou a comentar o caso enquanto a fiscalização estiver em andamento.
Os dados bancários das empresas, que devem ser enviados pela CPI ao Ministério Público nos próximos dias, mostram o rastro de boa parte do dinheiro desviado da construção do tribunal.
Ao todo, R$ 169 milhões escaparam do orçamento da obra e parcela disso foi parar em contas que o Ministério Público ainda desconhece.
Alguns beneficiários, entretanto, já podem ser identificados. A corretora Split, uma das envolvidas em outro escândalo que chocou o país -o dos precatórios -, recebeu pelo menos US$ 319.063,67 em suas contas. O dinheiro foi depositado pela Construtora Incal, em 1993, por meio de duas ordens de pagamento.
A ordem 794746 foi emitida por essa empresa em favor da Split no dia 27 de setembro de 1993. Valor: US$ 162.892,98.
A segunda ordem, de número 794908, foi emitida três dias depois, em 30 de setembro. Valor: US$ 156.170,69.
O banco que mais concentra ordens de pagamento levantadas pela CPI, em apenas uma das planilhas, é o Cidade, com 512 registros. Por ali passaram R$ 4,180 milhões depositados pelas empresas envolvidas no esquema de desvios -Construtora Incal, Grupo Ikal e Grupo Monteiro de Barros, entre outros.
Pelo Banco do Brasil passaram R$ 3,132 milhões, ali depositados em 55 ordens de pagamento. O banco Safra recebeu 190 depósitos, que totalizaram R$ 1,583 milhão. No Pactual, apenas um registro foi encontrado, mas no valor de R$ 511 mil.
A lista de bancos elaborada pela CPI também inclui: Crefisul, Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), Excel, Banco Fiat, HSBC Bamerindus, Itaú, Noroeste, Banco Real, Sudameris do Brasil, Banestado, Bankboston, Caixa Econômica Federal, Unibanco, Banco Antônio de Queiroz, Boa Vista e Bradesco.
Há na lista de beneficiários empresas e pessoas desconhecidas, sobre as quais é preciso conferir nomes e dados fiscais (CPF ou CGC) antes de concluir sobre irregularidades em cada operação.
A apuração preliminar feita pela CPI, entretanto, indica que alguns deles podem ser "laranjas". Assim são conhecidas as pessoas que, de forma consentida ou não, emprestam seu nome e documentos a transações irregulares para esconder os verdadeiros beneficiários.
Quando tiverem em mãos os documentos da CPI, os procuradores da República Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza pretendem solicitar a colaboração do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), agência do governo encarregada de combater a lavagem de dinheiro.
Procurada pela Folha, a presidente do Coaf, Adrienne Senna, não foi encontrada ontem. Sua secretária informou que ela estava em férias.


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