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dro Ramires, 48, suposto "laranja"
Suposto "laranja" abre mão de sigilo
CRISTINA CAMARGO
DA FOLHA CAMPINAS
O metalúrgico aposentado Pedro Ramires, 48, de Várzea Paulista (55 km de São Paulo), suposto "laranja" no esquema de desvio
de dinheiro da obra do Fórum
Trabalhista de São Paulo, disse
ontem que está disposto a abrir
mão de seu sigilo bancário para
provar que não recebeu cheque
de R$ 102,5 mil emitido pela construtora.
Ramires recebeu um termo de
intimação da Receita Federal para
explicar o recebimento do cheque, emitido em seu nome.
"Quero livrar meu nome. Não
tenho nada com isso", disse o
aposentado ontem.
A Procuradoria da República e a
Receita Federal investigam esquema de lavagem de dinheiro que
teria sido adotado pela construtora Ikal para desviar recursos da
obra inacabada do Fórum Trabalhista de São Paulo.
O cheque foi emitido em maio
de 96 e é do Banco Safra. No dia 29
de junho deste ano, chegou o termo de intimação. Uma das filhas
de Ramires guardou o documento, que ele achou no último domingo. Assustado, foi à delegacia
da Receita Federal em Jundiaí, na
última segunda-feira, para saber o
que estava acontecendo.
O delegado-substituto da Receita em Jundiaí, Jair Martins Artem,
explicou para o aposentado que
existem 22 pessoas com o nome
Pedro Ramires no país.
O cheque pode ter sido destinado para um dos homônimos. A
outra hipótese é que o Pedro Ramires de Várzea Paulista tenha sido usado como "laranja" no esquema de lavagem de dinheiro.
"Não existe prova nenhuma",
afirmou o delegado-substituto.
"O pedido de informações é rotina na Receita Federal".
Para Ramires, entretanto, a intimação da Receita e a repercussão
do caso significaram a mudança
de sua rotina. "Fiquei revoltado",
disse. Ele ganha R$ 800 de aposentadoria, mora com a mulher e
duas filhas numa casa própria, de
classe média, e faz bicos como pedreiro para aumentar a renda
mensal. A mulher é costureira.
O aposentado afirma que se recebesse R$ 102,5 mil aplicaria o dinheiro na poupança. "O maior
valor que já recebi na vida foi R$
30 mil, quando aposentei", disse.
Ramires não pretende processar os responsáveis pelo envolvimento de seu nome no caso.
O aposentado não tem idéia sobre o funcionamento do esquema
de lavagem de dinheiro. "O que é
meu é meu, o que é dos outros é
dos outros", disse. Para Ramires,
o escândalo do Fórum Trabalhista de São Paulo, que envolve o ex-senador Luiz Estevão (PMDB) e o
ex-juiz Nicolau dos Santos Neto,
foragido há 86 dias, é "uma corda
comprida e cheia de nós". O aposentado acha que a corda só estoura no meio e não no fim.
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