São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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dro Ramires, 48, suposto "laranja" Suposto "laranja" abre mão de sigilo

CRISTINA CAMARGO
DA FOLHA CAMPINAS

O metalúrgico aposentado Pedro Ramires, 48, de Várzea Paulista (55 km de São Paulo), suposto "laranja" no esquema de desvio de dinheiro da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo, disse ontem que está disposto a abrir mão de seu sigilo bancário para provar que não recebeu cheque de R$ 102,5 mil emitido pela construtora.
Ramires recebeu um termo de intimação da Receita Federal para explicar o recebimento do cheque, emitido em seu nome.
"Quero livrar meu nome. Não tenho nada com isso", disse o aposentado ontem.
A Procuradoria da República e a Receita Federal investigam esquema de lavagem de dinheiro que teria sido adotado pela construtora Ikal para desviar recursos da obra inacabada do Fórum Trabalhista de São Paulo.
O cheque foi emitido em maio de 96 e é do Banco Safra. No dia 29 de junho deste ano, chegou o termo de intimação. Uma das filhas de Ramires guardou o documento, que ele achou no último domingo. Assustado, foi à delegacia da Receita Federal em Jundiaí, na última segunda-feira, para saber o que estava acontecendo.
O delegado-substituto da Receita em Jundiaí, Jair Martins Artem, explicou para o aposentado que existem 22 pessoas com o nome Pedro Ramires no país.
O cheque pode ter sido destinado para um dos homônimos. A outra hipótese é que o Pedro Ramires de Várzea Paulista tenha sido usado como "laranja" no esquema de lavagem de dinheiro.
"Não existe prova nenhuma", afirmou o delegado-substituto. "O pedido de informações é rotina na Receita Federal".
Para Ramires, entretanto, a intimação da Receita e a repercussão do caso significaram a mudança de sua rotina. "Fiquei revoltado", disse. Ele ganha R$ 800 de aposentadoria, mora com a mulher e duas filhas numa casa própria, de classe média, e faz bicos como pedreiro para aumentar a renda mensal. A mulher é costureira.
O aposentado afirma que se recebesse R$ 102,5 mil aplicaria o dinheiro na poupança. "O maior valor que já recebi na vida foi R$ 30 mil, quando aposentei", disse.
Ramires não pretende processar os responsáveis pelo envolvimento de seu nome no caso.
O aposentado não tem idéia sobre o funcionamento do esquema de lavagem de dinheiro. "O que é meu é meu, o que é dos outros é dos outros", disse. Para Ramires, o escândalo do Fórum Trabalhista de São Paulo, que envolve o ex-senador Luiz Estevão (PMDB) e o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, foragido há 86 dias, é "uma corda comprida e cheia de nós". O aposentado acha que a corda só estoura no meio e não no fim.


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