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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento não aceita convite para integrar conselhos que tratam de temas ligados à política agrária
MST rejeita acordo com o governo federal
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) rejeitou ontem um convite do Ministério do Desenvolvimento Agrário para integrar três conselhos ligados ao governo federal que tratam de questões referentes à política agrária.
O convite incluía uma vaga com
direito a voto no Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural,
um assento de titular no Conselho
Curador do Banco da Terra e a
participação no conselho da Ouvidoria Agrária Nacional.
A proposta foi feita em uma
reunião realizada ontem na sede
da CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), em Brasília.
"Os conselhos fazem parte da
política do governo, e nós não
concordamos com ela. Como vamos participar?", questionou Jaime Amorim, da direção nacional
do MST.
Se tivesse aceitado o convite, o
movimento seria minoria em todos os três conselhos, e o governo,
maioria.
O representante do movimento
disse que qualquer ligação com o
conselho do Banco da Terra, que
trata de crédito para compra de
terras diretamente por grupos de
interessados, está descartada, mas
que o MST até aceita assistir algumas vezes reuniões dos outros
dois conselhos, sem no entanto
ser um integrante formal.
"Vamos participar quando
houver algum ponto que nos interesse", disse Amorim.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, disse
estar satisfeito com essa resposta:
"Em suma, (o MST) aceitou nossas propostas, ainda que informal
e pontualmente".
Jungmann convidou o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra também para ajudar o
governo a criar o Fórum Nacional
Pela Terra e Contra o Latifúndio.
"Não há possibilidade de um assunto com tanta importância como esse não ser discutido em um
fórum maior", disse.
O ministro do Desenvolvimento Agrário antecipou que o líder
petista Luiz Inácio Lula da Silva, o
pré-candidato à Presidência Ciro
Gomes, do PPS, e o presidente do
Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), também serão
convidados para o encontro.
O convite foi recebido com outra negativa. "Sempre que o governo não tem uma resposta (para reivindicações), propõe um fórum. Adianta chamar o Lula para
discutir a reforma agrária? O Lula
não tem influência no governo",
disse Amorim.
Avanços
Nem tudo, no entanto, foram
divergências na reunião, que
marcou o fim de um ciclo de encontros preparados pela CNBB.
Jungmann anunciou que o número de famílias de sem-terra assentadas neste ano vai aumentar
de 45 mil para 60 mil.
Para isso, o ministério vai pedir
uma suplementação orçamentária de aproximadamente R$ 80
milhões.
"É uma avanço importante",
disse Amorim, que ainda assim
afirmou não acreditar que com o
ritmo atual dos assentamentos o
governo possa cumprir a meta.
Foi acertado também que o governo vai apoiar no Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural
a proposta de um crédito adicional de R$ 2.000 para cada família
de assentado.
A reunião não alterou a disposição do MST de promover o "Levante do Campo", marcado para
a próxima semana. Os protestos
devem começar ainda na segunda-feira e continuar nos dias seguintes.
Segundo Amorim, é certo que
haverá "manifestações de rua",
muitas em frente a bancos e prefeituras, e que não estão descartadas as invasões de prédios públicos e fazendas. A idéia é criticar as
políticas agrária e agrícola do governo federal.
O nível de tensão entre os sem-terra e o governo cresceu depois
da morte de um militante no Paraná. O governo também tentou
isolar o MST atendendo algumas
reivindicações da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).
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