São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento não aceita convite para integrar conselhos que tratam de temas ligados à política agrária
MST rejeita acordo com o governo federal

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) rejeitou ontem um convite do Ministério do Desenvolvimento Agrário para integrar três conselhos ligados ao governo federal que tratam de questões referentes à política agrária.
O convite incluía uma vaga com direito a voto no Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural, um assento de titular no Conselho Curador do Banco da Terra e a participação no conselho da Ouvidoria Agrária Nacional.
A proposta foi feita em uma reunião realizada ontem na sede da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em Brasília.
"Os conselhos fazem parte da política do governo, e nós não concordamos com ela. Como vamos participar?", questionou Jaime Amorim, da direção nacional do MST.
Se tivesse aceitado o convite, o movimento seria minoria em todos os três conselhos, e o governo, maioria.
O representante do movimento disse que qualquer ligação com o conselho do Banco da Terra, que trata de crédito para compra de terras diretamente por grupos de interessados, está descartada, mas que o MST até aceita assistir algumas vezes reuniões dos outros dois conselhos, sem no entanto ser um integrante formal.
"Vamos participar quando houver algum ponto que nos interesse", disse Amorim.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, disse estar satisfeito com essa resposta: "Em suma, (o MST) aceitou nossas propostas, ainda que informal e pontualmente".
Jungmann convidou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra também para ajudar o governo a criar o Fórum Nacional Pela Terra e Contra o Latifúndio. "Não há possibilidade de um assunto com tanta importância como esse não ser discutido em um fórum maior", disse.
O ministro do Desenvolvimento Agrário antecipou que o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes, do PPS, e o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), também serão convidados para o encontro.
O convite foi recebido com outra negativa. "Sempre que o governo não tem uma resposta (para reivindicações), propõe um fórum. Adianta chamar o Lula para discutir a reforma agrária? O Lula não tem influência no governo", disse Amorim.

Avanços
Nem tudo, no entanto, foram divergências na reunião, que marcou o fim de um ciclo de encontros preparados pela CNBB.
Jungmann anunciou que o número de famílias de sem-terra assentadas neste ano vai aumentar de 45 mil para 60 mil.
Para isso, o ministério vai pedir uma suplementação orçamentária de aproximadamente R$ 80 milhões.
"É uma avanço importante", disse Amorim, que ainda assim afirmou não acreditar que com o ritmo atual dos assentamentos o governo possa cumprir a meta. Foi acertado também que o governo vai apoiar no Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural a proposta de um crédito adicional de R$ 2.000 para cada família de assentado.
A reunião não alterou a disposição do MST de promover o "Levante do Campo", marcado para a próxima semana. Os protestos devem começar ainda na segunda-feira e continuar nos dias seguintes.
Segundo Amorim, é certo que haverá "manifestações de rua", muitas em frente a bancos e prefeituras, e que não estão descartadas as invasões de prédios públicos e fazendas. A idéia é criticar as políticas agrária e agrícola do governo federal.
O nível de tensão entre os sem-terra e o governo cresceu depois da morte de um militante no Paraná. O governo também tentou isolar o MST atendendo algumas reivindicações da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).


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