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QUAL REFORMA?
Magistrados estaduais e do Trabalho devem parar atividade
Divididos, juízes decidem hoje greve contra reforma
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juízes estaduais e do Trabalho podem aderir hoje à greve geral convocada pelo funcionalismo
público como forma de pressionar o governo e a Câmara dos Deputados a mudar pontos da reforma da Previdência.
Já os juízes federais decidiram
adiar a decisão, mas não descartam cruzar os braços também. O
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Maurício Corrêa,
disse ontem que uma eventual paralisação dos juízes fere a Constituição.
"Se um Poder de Estado parar
não sei o que é isso senão uma crise institucional", afirmou Cláudio
Baldino Maciel, 47, presidente da
AMB (Associação dos Magistrados do Brasil).
Os juízes dos Estados e da Justiça trabalhista pretendem fechar
questão em reunião hoje. A tendência é de aderir à paralisação
dos servidores públicos que acontece desde o dia 8 deste mês.
A forma dessa adesão será decidida na mesma reunião. A lei impede que os magistrados interrompam as atividades porque eles
são o próprio Poder Judiciário.
Uma das saídas para o veto legal,
segundo a Folha apurou, é estimular a greve dos servidores do
Judiciário e apoiar a greve em discursos e notas oficiais.
Dessa forma, os juízes não estariam tecnicamente em greve, mas
impossibilitados de trabalhar devido ao não funcionamento das
varas judiciais e dos tribunais.
Segundo Paulo Sérgio Domingues, 37, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), os
cerca de 1.200 filiados continuarão pressionando o governo e,
embora a greve não esteja descartada, este não é "o melhor momento". "Nossa intenção é manter a negociação e a pressão forte.
Por enquanto, a pressão como vinha sendo feita aparenta grandes
chances de ser bem-sucedida."
A principal reivindicação dos
juízes é a elevação do subteto de
suas aposentadorias de 75% para
90,25% do vencimento de um ministro do STF. O limite foi estabelecido pelo deputado José Pimentel (PT-CE), relator da reforma da
Previdência, em seu parecer.
"O risco é grave porque não vai
ter mais ninguém interessado na
carreira nos Estados. Não serão
juízes capacitados. Isso coloca o
Judiciário em posição subalterna
em relação aos outros poderes e
representa, sim, uma quebra do
Estado democrático de direito",
afirmou Domingues.
Outro pleito é a definição de regras de transição para os atuais
servidores poderem se aposentar
com o salário integral. Segundo
parecer de Pimentel, será preciso
ter 60 anos de idade e 20 anos de
serviço público para ter direito à
integralidade. A proposta contém
um redutor (desconto) de 5% do
benefício para cada ano não cumprido caso o servidor decida se
aposentar antes da idade mínima.
"Quando aplicam as regras [de
tempo de serviço e de contribuição] e não dão a integralidade
[para os futuros servidores], nos
sentimos tapeados. Isso gerou essa tremenda revolta dentro da
magistratura", disse Maciel.
A questão é mais delicada porque ainda não terminou a transição criada na reforma previdenciária feita por Fernando Henrique Cardoso em 1998. Até então,
não havia idade mínima para
aposentadoria dos magistrados.
"A aposentadoria aos 53 anos
hoje não é expectativa de direito.
Está escrito na Constituição. Mudar a idade sem uma regra de
transição já seria inconstitucional", disse Domingues.
Para o presidente da Anamatra
(Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho), Grijalbo
Coutinho, 38, a greve deve trazer
outra questão à tona: a excepcionalidade dada aos militares, que
terão regime especial. "É bom que
eles [líderes do PT] digam por que
deram tratamento diferencial aos
militares. Isso tira um pouquinho
da hipocrisia do governo."
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