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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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FUNCIONALISMO NO AGRESTE

Em Caetés, prefeitura é o maior empregador

Servidor "sustenta" terra natal de Lula

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAETÉS (PE)

Em Caetés, terra natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cada grupo de 25,7 habitantes existe uma pessoa trabalhando para a prefeitura. Ninguém emprega tanto na cidade quanto o Executivo municipal.
Localizada a 245 km de Recife, no agreste pernambucano, Caetés depende economicamente do funcionalismo. Os servidores injetam todos os meses na cidade R$ 300 mil dos seus salários, o equivalente a cerca de 50% da receita total da prefeitura.
Poderia ser mais, se parte do funcionalismo não recebesse menos de um salário mínimo. Em Caetés, até parentes de Lula que são servidores municipais concursados recebem R$ 151.
Cerca de 70% dos servidores trabalham nas áreas da saúde e educação. Não há indústrias, construções com mais de dois andares nem sistema de esgoto.
Com a seca, a cidade passou a depender outra vez dos carros-pipa. Uma lata de água "para beber", com capacidade para 20 litros, custa R$ 0,50. Água de graça, só quando passam os carros da prefeitura ou do Estado.
Quem não tem dinheiro paga depois. Em Caetés, as vendas só crescem nos primeiros 15 dias do mês, quando os servidores municipais e os aposentados rurais recebem. "Depois disso, 70% das vendas são fiado", diz José Antonio Filho, 48, dono do mercado Padre Cícero. Sem os servidores e os aposentados, afirma, "a cidade fecharia".
O prefeito José Luiz de Lima Sampaio (PT), 51, reclama da queda no repasse do Fundo de Participação dos Municípios e diz que a falta de verba impede o pagamento do mínimo a todos os servidores. Mas diz que vai se adequar "à lei até janeiro".
Com 24.097 habitantes, Caetés tem apenas 5.505 pessoas na zona urbana. Dos 919 funcionários efetivos e contratados a serviço da prefeitura, 553 atuam na educação, a maioria em escolas rurais. É o caso de Lindinalva de Melo Santos, 53, prima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Servidora há 14 anos, trabalha como professora leiga de corte e costura no sítio onde mora.
Ela ensina sua arte a dez alunas. Pelo trabalho recebe R$ 151 líquidos por mês. "É pouco, mas é o único dinheiro que vem com certeza." Para ela, Lula trabalha "para todos" ao priorizar as reformas no início de mandato.


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