UOL

São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONFLITO AGRÁRIO

800 integrantes do MST querem marchar rumo a São Gabriel, mas 400 ruralistas bloqueiam ponte

Secretário tenta evitar confronto no RS

Charles Guerra/Agência RBS
Ruralistas fecham a BR-392 para impedir a passagem de marcha do MST rumo a São Gabriel (RS)


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano, e o coronel Nelson da Rocha, comandante da Brigada Militar do Estado, chegaram ontem no fim da tarde a São Gabriel (329 km de Porto Alegre) para tentar evitar um confronto entre ruralistas e sem-terra na ponte do rio Verde, que liga o município a São Sepé.
A presença do secretário e do comandante da Brigada Militar (equivalente à Polícia Militar em outros Estados brasileiros) era, segundo a assessoria da brigada gaúcha, a última tentativa para evitar um conflito entre 800 sem-terra ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e 400 ruralistas. O impasse começou na manhã de sábado, com ruralistas impedindo a marcha de integrantes do MST rumo a São Gabriel.
No sábado, o secretário de Reforma Agrária do Rio Grande do Sul, Vulmar Leite, e o subcomandante da Brigada Militar, Carlos Vicente Bernardoni, foram ao local para tentar mediar um acordo que liberasse a passagem pela ponte. Apenas veículos autorizados pelo ruralistas tiveram permissão por um tempo para atravessar a ponte. No meio da tarde, a ponte foi liberada, mas os sem-terra não a atravessaram.
Durante todo o dia de ontem, o secretário Leite, o subcomandante Bernardoni, prefeitos da região, ruralistas e integrantes do MST, mesmo depois de várias reuniões, não chegaram a uma solução para o impasse.
Os sem-terra querem ultrapassar a ponte sobre o rio Verde, na BR-392, e chegar a uma propriedade, a 3 km da ponte, cedida pelo agropecuarista Viterbo Garcia Rocha, 67, para acampamento dos sem-terra. Os ruralistas não admitem que os sem-terra ultrapassem a ponte e cheguem ao município de São Gabriel.
Cerca de cem policiais da Brigada Militar ocupavam ontem a ponte sobre o rio, com sem-terra e ruralistas posicionados a menos de 50 metros de distância de cada lado da ponte. O trânsito, em meia pista, foi liberado pela brigada no meio da tarde de ontem. O trânsito da BR-392, que liga Santa Maria a São Gabriel, está sendo desviado para a RST-227, pelo município de Restinga Seca.
No início da tarde de ontem, o presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais), Narciso Rocha Clara, 47, que acompanha as negociações a partir de Santa Maria, anunciou que tem cem homens armados, "contratados junto a uma empresa de segurança patrimonial" prontos para serem colocados em propriedades rurais que estejam "ameaçadas de invasão".
Os prefeitos de São Sepé e São Gabriel entraram na Justiça com pedido de interdito proibitório, para evitar que os sem-terra acampem em áreas públicas nos dois municípios. A medida não impede o ingresso dos sem-terra em uma área de 70 hectares cedida pelo agropecuarista Viterbo Garcia Rocha.
O objetivo do MST é pressionar pela desapropriação de uma área de 13,2 mil hectares, no município de São Gabriel. A medida foi anunciada pelo governo federal, mas suspensa por meio de liminar concedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Em 10 de junho, o MST iniciou a marcha, saindo de Pantano Grande, a cerca de 260 km de São Gabriel. A marcha chegou a ser suspensa, a pedido do Ministério Público Estadual, e os sem-terra estavam acampados em Santa Maria. Na quinta-feira, houve a retomada da marcha.


Texto Anterior: Funcionalismo no agreste: Servidor "sustenta" terra natal de Lula
Próximo Texto: Crise municipal: Queda na arrecadação tributária paralisa prefeituras
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.