São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Foco

Caso de dossiê remete a renúncia do presidente americano Richard Nixon

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Estados Unidos, anos 1970. O Watergate, escândalo que levou à renúncia do presidente republicano Richard Nixon, em 1974, começa dois anos antes, em 1972, quando cinco homens são presos tentando instalar grampos em escritório democrata, no prédio que emprestou o nome ao caso, em Washington.
Um dos detidos, soube-se depois, era James W. McCord Jr., ex-agente da CIA e funcionário da campanha do partido governista. Na época, republicanos estavam em plena campanha à reeleição, vencida em novembro daquele ano com mais de 60% dos votos. Foi uma das maiores votações da história americana, apesar das crescentes evidências dos vínculos entre a campanha de Nixon e a invasão no Watergate.
A fatura só foi cobrada em 1973, quando dois assessores da Casa Branca renunciaram por causa do escândalo.
Brasil, 2006. Na sexta-feira, o ex-agente da PF Gedimar Pereira Passos, contratado para trabalhar com "tratamento de informações" na campanha de Lula, e o petista Valdebran Padilha são presos com R$ 1,7 milhão para a compra de dossiê ligando tucanos à máfia sanguessuga. Em velocidade impressionante se comparada ao caso de Nixon, se estabelece vínculo com o Planalto: o já ex-assessor especial da Presidência Freud Godoy, acusado de contratar Gedimar, inclusive entregando-lhe o dinheiro.
Apesar da reta final, parece cedo para prever o efeito do escândalo nas urnas em 1º de outubro, quando, segundo as pesquisas, Lula assegurará seu segundo mandato. Mais difícil seria adivinhar como o imbróglio se desdobrará caso o petista seja reeleito.
É igualmente cansativo e necessário lembrar que a história não se repete. E há diferenças óbvias: instituições americanas em 70, sobretudo o Congresso, tinham grau de funcionalidade que provavelmente nunca será alcançado aqui. E lá era mais fácil separar mocinhos de bandidos. No caso brasileiro, está claro que tucanos também terão de explicar os indícios do dossiê.
Vale relembrar dois conselhos do "Garganta Profunda" ao jornalista Bob Woodward, do "Washington Post". Há o famoso "follow the money" (siga o dinheiro). O outro é: "Esqueça mitos que a imprensa criou sobre a Casa Branca. Não são pessoas muito brilhantes, e as coisas saíram do controle".


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