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Estratégia é ficar na Saúde até o fim, apostar em desgaste de adversário e repetir o caminho de FHC em 94
Sob a ofensiva de Tasso, Serra silencia e adia candidatura
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado pela ofensiva desencadeada na última semana pelo governador Tasso Jereissati
(CE) no xadrez da sucessão presidencial, o ministro da Saúde, José
Serra, tomou duas decisões: vai
hibernar durante algum tempo e
manter a estratégia que traçou para conquistar o Planalto na eleição presidencial de 2002.
A exemplo de FHC em 1994,
Serra pretende convencer o presidente a mantê-lo no cargo até o
último dia permitido por lei, seis
meses antes da eleição. Sua idéia
fixa: atrelar sua candidatura ao
desempenho no Ministério da
Saúde. Assim como o sucesso de
FHC decorreu do Plano Real, Serra está convencido de que sua
chance em 2002 será proporcional a seu desempenho na Saúde.
No idioma da era FHC, a candidatura presidencial de Serra passou a semana sob forte ataque especulativo. Tasso comandou a
banca: fez uma reunião com outros governadores pré-candidatos
em Brasília, teve encontros com
ministros, parlamentares e com o
próprio presidente Fernando
Henrique Cardoso, em Brasília.
O ataque será retomado na reabertura do mercado político,
amanhã, em ato que a família do
governador Mário Covas, morto
em março, patrocina em São Paulo, quando espera-se que Tasso
lance sua candidatura.
Serra não irá. O governador Geraldo Alckmin vai, mas ontem
reafirmou que sua presença não
significa apoio. Disse que quer
ouvir o cearense. Alckmin e Serra
têm um acordo de apoio recíproco para 2002, o que vai contra o
que queria Covas e desagrada
seus familiares.
Em bom "malanês", principal
dialeto do idioma da era FHC, o
ataque especulativo contra Serra
justifica-se pelo fato de que os investidores desconfiam de sua vitalidade eleitoral. Para uma candidatura majoritária, teria problemas e especuladores demais
apostando contra.
Entre os problemas, por exemplo, afirma-se que o ministro não
é muito simpático e não sabe comunicar-se com os eleitores como Tasso. Pode ser, mas Serra teve cerca de 6,5 milhões de votos
para senador, em São Paulo.
No PFL, Antonio Carlos Magalhães, que mantém seu prestígio
eleitoral na Bahia, ameaça bandear-se para Itamar Franco
(PMDB-MG) se o ministro da
Saúde for o candidato tucano. O
presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), não diz ser contra,
mas não demonstra entusiasmo,
enquanto joga com Tasso e Roseana Sarney (PFL-MA).
No PMDB, José Sarney (AP) faz
dobradinha com Tasso por meio
da filha Roseana, que é, entre os
candidatos do campo governista,
o mais bem avaliado nas pesquisas, mas deve concorrer mesmo
ao Senado. Serra, próximo do
PMDB, vê um lado positivo na
candidatura de Itamar: ela dividiria os votos da oposição.
Engolindo sapos
Para manter sua estratégia, Serra diz a amigos que está sendo
obrigado a "engolir muitos sapos". Prefere assim. Por enquanto, vai hibernar e atuar nos bastidores. Até janeiro ou fevereiro,
quando fará a avaliação definitiva
do avanço das tropas inimigas, os
adeptos de Tasso. "Se pegar, pegou. Se não pegar, vamos ver como é que fica", diz a amigos.
Embora deixe a articulação política para os bastidores, Serra
pretende continuar na mídia. Mas
sempre em ações relacionadas ao
Ministério da Saúde. Sistematicamente, ele encomenda pesquisas
para medir seu desempenho à
frente da pasta. Os resultados têm
fortalecido a convicção do ministro de que não é a hora de entrar
publicamente na disputa de 2002.
Serra iria com FHC à Espanha
na próxima quinta-feira. Desistiu
ao saber que o presidente convidara também os presidentes de
PSDB, PFL e PMDB. Pareceria,
aos olhos do público, que estaria
em campanha. O que iria contra a
estratégia definida de hibernar e
"costurar por dentro".
A dúvida é se a conta de Serra,
no PSDB e eventuais aliados, dispõe de reservas suficientes para
suportar o ataque a que está sendo submetida sua candidatura
dentro do próprio ninho tucano.
Colaborou a Reportagem Local
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