São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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Estratégia é ficar na Saúde até o fim, apostar em desgaste de adversário e repetir o caminho de FHC em 94
Sob a ofensiva de Tasso, Serra silencia e adia candidatura

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pela ofensiva desencadeada na última semana pelo governador Tasso Jereissati (CE) no xadrez da sucessão presidencial, o ministro da Saúde, José Serra, tomou duas decisões: vai hibernar durante algum tempo e manter a estratégia que traçou para conquistar o Planalto na eleição presidencial de 2002.
A exemplo de FHC em 1994, Serra pretende convencer o presidente a mantê-lo no cargo até o último dia permitido por lei, seis meses antes da eleição. Sua idéia fixa: atrelar sua candidatura ao desempenho no Ministério da Saúde. Assim como o sucesso de FHC decorreu do Plano Real, Serra está convencido de que sua chance em 2002 será proporcional a seu desempenho na Saúde.
No idioma da era FHC, a candidatura presidencial de Serra passou a semana sob forte ataque especulativo. Tasso comandou a banca: fez uma reunião com outros governadores pré-candidatos em Brasília, teve encontros com ministros, parlamentares e com o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília.
O ataque será retomado na reabertura do mercado político, amanhã, em ato que a família do governador Mário Covas, morto em março, patrocina em São Paulo, quando espera-se que Tasso lance sua candidatura.
Serra não irá. O governador Geraldo Alckmin vai, mas ontem reafirmou que sua presença não significa apoio. Disse que quer ouvir o cearense. Alckmin e Serra têm um acordo de apoio recíproco para 2002, o que vai contra o que queria Covas e desagrada seus familiares.
Em bom "malanês", principal dialeto do idioma da era FHC, o ataque especulativo contra Serra justifica-se pelo fato de que os investidores desconfiam de sua vitalidade eleitoral. Para uma candidatura majoritária, teria problemas e especuladores demais apostando contra.
Entre os problemas, por exemplo, afirma-se que o ministro não é muito simpático e não sabe comunicar-se com os eleitores como Tasso. Pode ser, mas Serra teve cerca de 6,5 milhões de votos para senador, em São Paulo.
No PFL, Antonio Carlos Magalhães, que mantém seu prestígio eleitoral na Bahia, ameaça bandear-se para Itamar Franco (PMDB-MG) se o ministro da Saúde for o candidato tucano. O presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), não diz ser contra, mas não demonstra entusiasmo, enquanto joga com Tasso e Roseana Sarney (PFL-MA).
No PMDB, José Sarney (AP) faz dobradinha com Tasso por meio da filha Roseana, que é, entre os candidatos do campo governista, o mais bem avaliado nas pesquisas, mas deve concorrer mesmo ao Senado. Serra, próximo do PMDB, vê um lado positivo na candidatura de Itamar: ela dividiria os votos da oposição.

Engolindo sapos
Para manter sua estratégia, Serra diz a amigos que está sendo obrigado a "engolir muitos sapos". Prefere assim. Por enquanto, vai hibernar e atuar nos bastidores. Até janeiro ou fevereiro, quando fará a avaliação definitiva do avanço das tropas inimigas, os adeptos de Tasso. "Se pegar, pegou. Se não pegar, vamos ver como é que fica", diz a amigos.
Embora deixe a articulação política para os bastidores, Serra pretende continuar na mídia. Mas sempre em ações relacionadas ao Ministério da Saúde. Sistematicamente, ele encomenda pesquisas para medir seu desempenho à frente da pasta. Os resultados têm fortalecido a convicção do ministro de que não é a hora de entrar publicamente na disputa de 2002.
Serra iria com FHC à Espanha na próxima quinta-feira. Desistiu ao saber que o presidente convidara também os presidentes de PSDB, PFL e PMDB. Pareceria, aos olhos do público, que estaria em campanha. O que iria contra a estratégia definida de hibernar e "costurar por dentro".
A dúvida é se a conta de Serra, no PSDB e eventuais aliados, dispõe de reservas suficientes para suportar o ataque a que está sendo submetida sua candidatura dentro do próprio ninho tucano.


Colaborou a Reportagem Local


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