São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petista visitará "celeiro" do desenvolvimentismo

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A viagem do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a Argentina e Chile, confirmada para os dias 2 e 3 de dezembro, terá como pano de fundo mensagens políticas e econômicas, às vésperas da primeira reunião com o presidente dos EUA, George W. Bush, no dia 10 do mesmo mês.
No campo político, Lula expressará solidariedade aos argentinos. No econômico, visitará a Cepal (Comissão Econômica para América Latina), símbolo da defesa de uma política de substituição de importações e retomada do nacional-desenvolvimentismo no continente. Lula será recebido pelo secretário-executivo da Cepal, José Antonio Ocampo, e por intelectuais convidados no dia 3 de dezembro, em Santiago do Chile.
A Cepal é um centro de estudos ligado à ONU fundado em 1948, onde pesquisaram brasileiros como os economistas Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, derrotado na disputa presidencial. Foi a origem e o agente estimulador de teses econômicas que pregam a redução da dependência externa como forma de estímulo ao desenvolvimento, principalmente nos anos 60 e 70.
Sob influência do economista argentino Raúl Prebisch, a Cepal formou uma elite que desenvolvia a linhagem doutrinária de John Maynard Keynes (1883-1946), para quem o Estado deve intervir na economia, mas sem suprimir a autonomia do setor privado.
Na semana seguinte à visita à Argentina e ao Chile, Lula participará da reunião dos presidentes dos países integrantes do Mercosul e, em seguida, embarca para os EUA. Daí, a mensagem que pretende passar de defesa da economia do continente.
"Os EUA querem negociar tudo no âmbito da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Nós defendemos que podem ser feitos acordos pontuais, negociados em bloco pelo Mercosul", afirma o senador eleito Aloizio Mercadante, secretário de Relações Internacionais do PT.
Na Argentina, Lula evitará contatos isolados com pré-candidatos a presidente, em eleição marcada para abril. Audiências foram solicitadas, mas Lula manterá apenas contatos com o presidente Eduardo Duhalde, o prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, e os chefes do Legislativo local.
O petista fará um pronunciamento de solidariedade à Argentina, mas não pedirá desculpas por uma frase dita durante a campanha que causou polêmica no país. Lula afirmou que o Brasil não poderia ser tratado como uma "republiqueta como a Argentina". Ele nega que tenha se referido à Argentina de forma depreciativa.

Sudene
Lula anunciou que vai recriar a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), concebida por Furtado, a quem o petista visitou no início deste mês.
A Sudene foi extinta pelo atual governo em agosto do ano passado, depois de uma sucessão de casos de desvio de dinheiro público utilizando a estrutura do órgão.
Segundo o porta-voz André Singer, Lula pretende recuperar o objetivo original da autarquia: planejar o desenvolvimento do Nordeste. O tema Sudene surgiu de uma conversa entre Lula e a governadora eleita do Rio Grande do Norte, Wilma de Faria (PSB), ontem, em Brasília.


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Lula proporá aliança tática com Argentina para negociar a Alca
Próximo Texto: Lula quer aumentar imposto da gasolina
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.