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Petista visitará "celeiro"
do desenvolvimentismo
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A viagem do presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva a Argentina e Chile, confirmada para os
dias 2 e 3 de dezembro, terá como
pano de fundo mensagens políticas e econômicas, às vésperas da
primeira reunião com o presidente dos EUA, George W. Bush, no
dia 10 do mesmo mês.
No campo político, Lula expressará solidariedade aos argentinos.
No econômico, visitará a Cepal
(Comissão Econômica para América Latina), símbolo da defesa de
uma política de substituição de
importações e retomada do nacional-desenvolvimentismo no
continente. Lula será recebido pelo secretário-executivo da Cepal,
José Antonio Ocampo, e por intelectuais convidados no dia 3 de
dezembro, em Santiago do Chile.
A Cepal é um centro de estudos
ligado à ONU fundado em 1948,
onde pesquisaram brasileiros como os economistas Celso Furtado
e Maria da Conceição Tavares, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso e o senador José Serra,
derrotado na disputa presidencial. Foi a origem e o agente estimulador de teses econômicas que
pregam a redução da dependência externa como forma de estímulo ao desenvolvimento, principalmente nos anos 60 e 70.
Sob influência do economista
argentino Raúl Prebisch, a Cepal
formou uma elite que desenvolvia
a linhagem doutrinária de John
Maynard Keynes (1883-1946), para quem o Estado deve intervir na
economia, mas sem suprimir a
autonomia do setor privado.
Na semana seguinte à visita à
Argentina e ao Chile, Lula participará da reunião dos presidentes
dos países integrantes do Mercosul e, em seguida, embarca para
os EUA. Daí, a mensagem que
pretende passar de defesa da economia do continente.
"Os EUA querem negociar tudo
no âmbito da Alca (Área de Livre
Comércio das Américas). Nós defendemos que podem ser feitos
acordos pontuais, negociados em
bloco pelo Mercosul", afirma o senador eleito Aloizio Mercadante,
secretário de Relações Internacionais do PT.
Na Argentina, Lula evitará contatos isolados com pré-candidatos a presidente, em eleição marcada para abril. Audiências foram
solicitadas, mas Lula manterá
apenas contatos com o presidente
Eduardo Duhalde, o prefeito de
Buenos Aires, Aníbal Ibarra, e os
chefes do Legislativo local.
O petista fará um pronunciamento de solidariedade à Argentina, mas não pedirá desculpas por
uma frase dita durante a campanha que causou polêmica no país.
Lula afirmou que o Brasil não poderia ser tratado como uma "republiqueta como a Argentina".
Ele nega que tenha se referido à
Argentina de forma depreciativa.
Sudene
Lula anunciou que vai recriar a
Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste),
concebida por Furtado, a quem o
petista visitou no início deste mês.
A Sudene foi extinta pelo atual
governo em agosto do ano passado, depois de uma sucessão de casos de desvio de dinheiro público
utilizando a estrutura do órgão.
Segundo o porta-voz André
Singer, Lula pretende recuperar o
objetivo original da autarquia:
planejar o desenvolvimento do
Nordeste. O tema Sudene surgiu
de uma conversa entre Lula e a
governadora eleita do Rio Grande
do Norte, Wilma de Faria (PSB),
ontem, em Brasília.
Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília
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