São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Para James Wolfensohn, momento é de otimismo; William Rhodes diz que crise na América Latina é a pior desde os anos 80

Bird e Citi têm visões antagônicas sobre país

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O presidente do Bird (Banco Mundial), James Wolfensohn, e o vice-presidente do Citigroup, William Rhodes, fizeram ontem declarações antagônicas sobre o futuro da América Latina, durante a Cúpula de Negócios da América Latina, promovida pelo Fórum Econômico Mundial, no Rio.
Wolfensohn afirmou que há razões para ser otimista em relação ao futuro da região e particularmente em relação ao Brasil.
"O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 40 anos atrás. É loucura ver com pessimismo a situação da América Latina, especialmente a do Brasil", declarou.
Já Rhodes disse que "a América Latina está passando pelo período mais difícil desde os anos 80". Segundo ele, "alguns" acreditam que a onda de críticas à globalização econômica na América Latina "pode trazer a volta de governos autoritários e populistas". E enumerou o colapso da economia da Argentina e suas consequências no Uruguai e a crise política na Venezuela como fatores que contribuíram para a crise na região.
Sem citar nominalmente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Wolfensohn disse que o presidente eleito "está tratando de assuntos que têm que ser tratados", como "justiça social, direitos das mulheres e dos pobres, eliminação da fome".
Wolfensohn fez uma ponte entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o futuro governo. Segundo ele, a eleição de Lula não teve o significado de uma revolução: "Foi uma eleição democrática que colocou no poder um presidente que vai suceder outro grande presidente", disse.
Para Wolfensohn, o Brasil não tem "grandes problemas de ajuste de equilíbrio financeiro". "É claro que há dados estatísticos que são muito pessimistas. O mundo financeiro reduziu os investimentos. O mundo está dizendo: temos medo do que está acontecendo."
Os investidores dos países ricos, disse, podem aplicar seus recursos com rendimentos de 1% nos grandes bancos, mas esse procedimento não é o ideal. Segundo Wolfensohn, se a América Latina "não acertar, o mundo não vai acertar e não haverá chances de os nossos filhos viverem em paz".
Segundo Rhodes, a Argentina terá neste ano uma queda de 14% no PIB (Produto Interno Bruto) e a Venezuela, em torno de 7%.
Embora tenha sido anterior, seu discurso acabou servindo de contraponto ao otimismo manifestado pelo presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, no painel coordenado por Rhodes.
O dirigente do Citigroup, conhecido no Brasil desde os anos 80, quando liderou o comitê de bancos credores que renegociou a dívida externa brasileira, fez referência indireta aos temores em relação a Lula, ao dizer que é necessário "ter certeza de que os contratos serão respeitados".

Fome
Wolfensohn disse que "dinheiro é o ponto menos importante" para ele, no momento em que a instituição é chamada a ampliar sua contribuição com programas sociais brasileiros.
"Acho que um fundo de US$ 1 bilhão não é o ponto central. O dinheiro é para mim o ponto menos importante no momento. Não podemos discutir na base de US$ 1 bilhão ou US$ 10 bilhões", disse, ao ser questionado sobre a proposta de Frei Betto, que pediu que a instituição entregasse US$ 1 bilhão para um fundo de combate à fome e à pobreza no país. Wolfensohn se reúne hoje com Lula.


Colaboraram ELIANE CANTENHÊDE, enviada especial ao Rio, e FERNANDA DA ESCÓSSIA, da Sucursal do Rio


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