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TRANSIÇÃO
Para James Wolfensohn, momento é de otimismo; William Rhodes diz que crise na América Latina é a pior desde os anos 80
Bird e Citi têm visões antagônicas sobre país
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O presidente do Bird (Banco
Mundial), James Wolfensohn, e o
vice-presidente do Citigroup, William Rhodes, fizeram ontem declarações antagônicas sobre o futuro da América Latina, durante a
Cúpula de Negócios da América
Latina, promovida pelo Fórum
Econômico Mundial, no Rio.
Wolfensohn afirmou que há razões para ser otimista em relação
ao futuro da região e particularmente em relação ao Brasil.
"O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 40 anos atrás. É
loucura ver com pessimismo a situação da América Latina, especialmente a do Brasil", declarou.
Já Rhodes disse que "a América
Latina está passando pelo período
mais difícil desde os anos 80". Segundo ele, "alguns" acreditam
que a onda de críticas à globalização econômica na América Latina
"pode trazer a volta de governos
autoritários e populistas". E enumerou o colapso da economia da
Argentina e suas consequências
no Uruguai e a crise política na
Venezuela como fatores que contribuíram para a crise na região.
Sem citar nominalmente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), Wolfensohn disse que o presidente eleito
"está tratando de assuntos que
têm que ser tratados", como "justiça social, direitos das mulheres e
dos pobres, eliminação da fome".
Wolfensohn fez uma ponte entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o futuro governo.
Segundo ele, a eleição de Lula não
teve o significado de uma revolução: "Foi uma eleição democrática que colocou no poder um presidente que vai suceder outro
grande presidente", disse.
Para Wolfensohn, o Brasil não
tem "grandes problemas de ajuste
de equilíbrio financeiro". "É claro
que há dados estatísticos que são
muito pessimistas. O mundo financeiro reduziu os investimentos. O mundo está dizendo: temos
medo do que está acontecendo."
Os investidores dos países ricos,
disse, podem aplicar seus recursos com rendimentos de 1% nos
grandes bancos, mas esse procedimento não é o ideal. Segundo
Wolfensohn, se a América Latina
"não acertar, o mundo não vai
acertar e não haverá chances de os
nossos filhos viverem em paz".
Segundo Rhodes, a Argentina
terá neste ano uma queda de 14%
no PIB (Produto Interno Bruto) e
a Venezuela, em torno de 7%.
Embora tenha sido anterior, seu
discurso acabou servindo de contraponto ao otimismo manifestado pelo presidente do Banco
Mundial, James Wolfensohn, no
painel coordenado por Rhodes.
O dirigente do Citigroup, conhecido no Brasil desde os anos
80, quando liderou o comitê de
bancos credores que renegociou a
dívida externa brasileira, fez referência indireta aos temores em relação a Lula, ao dizer que é necessário "ter certeza de que os contratos serão respeitados".
Fome
Wolfensohn disse que "dinheiro é o ponto menos importante"
para ele, no momento em que a
instituição é chamada a ampliar
sua contribuição com programas
sociais brasileiros.
"Acho que um fundo de US$ 1
bilhão não é o ponto central. O dinheiro é para mim o ponto menos
importante no momento. Não
podemos discutir na base de US$
1 bilhão ou US$ 10 bilhões", disse,
ao ser questionado sobre a proposta de Frei Betto, que pediu que
a instituição entregasse US$ 1 bilhão para um fundo de combate à
fome e à pobreza no país. Wolfensohn se reúne hoje com Lula.
Colaboraram ELIANE CANTENHÊDE,
enviada especial ao Rio, e FERNANDA
DA ESCÓSSIA, da Sucursal do Rio
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