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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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Agendas de empresário suspeito de contrabando contém nomes de diversos policiais federais e civis de SP

Só após pressão, PF ajuda CPI em buscas

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Policiais federais de São Paulo se recusaram ontem a apreender documentos no escritório do empresário chinês naturalizado brasileiro Law Kin Chong, suspeito de envolvimento com o contrabando, contrariando pedido da CPI da Pirataria. O impasse só foi resolvido depois de bate-boca e de uma ligação da CPI ao superintendente regional da Polícia Federal, Francisco Baltazar da Silva.
Entre os documentos encontrados por deputados e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), estavam nove agendas que continham telefones de policiais federais e civis de São Paulo, além de cheques e contratos.
Segundo os deputados, o impasse é resultado de um constrangimento existente desde a Operação Anaconda, em 30 de outubro, quando o delegado José Augusto Bellini, cargo de confiança de Baltazar, e o agente César Herman Rodriguez foram presos sem que a PF paulista fosse avisada.
Com mandados de busca e apreensão expedidos pela CPI, uma força-tarefa formada por policiais federais, guardas municipais, promotores e auditores da Receita Federal entraram de surpresa em dois shoppings administrados por empresas de Law por volta das 6h de ontem.
No sétimo andar do shopping 25 de Março (centro de SP), o grupo se deparou com o escritório do empresário. Nas agendas telefônicas, segundo a CPI, existem números de delegacias e celulares de policiais federais e policiais civis que devem ser investigados.

O início da confusão
O problema no trabalho de busca iniciou no momento de fazer o auto de apreensão. Policiais federais afirmaram aos deputados que o mandado de busca referia-se apenas a bens suspeitos de serem contrabandeados ou falsificados.
A retirada de documentos no local seria ilegal. Advogados de Law também defenderam que o mandado não dava direito à entrada do escritório.
A posição dos policiais federais provocou a reação de deputados e promotores. Os próprios deputados passaram a coletar o material e lacrar em sacos plásticos. No meio da busca, o presidente da CPI, Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), ligou para Baltazar. Só conseguiu resolver a questão depois de ler ao superintendente trechos do mandado de busca.
"Uma policial me disse: "se [os deputados] não forem embora logo [do escritório], paramos de apreender", disse a deputada federal Laura Carneiro (PFL-RJ). "Não há condição de trabalhar com a Polícia Federal de São Paulo assim", disse a deputada, que chegou a bater boca com policiais.
Para Medeiros, o mandado de busca tinha validade para todas as dependências do prédio. Mas ele desconversou ao ser questionado por que ele teve de apelar ao superintendente se o mandado era claro. "Porque a vida é assim. É cheia de contradições. Empurra para cá, empurra para lá, mas nós vamos em frente."
A assessoria da PF de São Paulo e Baltazar não se manifestam sobre a Operação Anaconda.
Os documentos, agendas e cheques encontrados no escritório de Law serão analisados pela CPI em Brasília. No material, foram encontrados dois cheques -nos valores de R$ 4.900 e R$ 3.804,54- em nome de Neusa de Almeida, suspeita de ser laranja do empresário. Ela foi ouvida anteontem pela CPI e negou conhecer Law.
O material apreendido também será usado pelo Gaeco, que vai apurar a suposta ligação de policiais civis paulistas com a quadrilha que vendia sentenças judiciais. Promotores devem se reunir hoje com procuradores da República que investigam o esquema. A separação das apurações também ocorre na investigação sobre contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
Nos dois shoppings também foi apreendido grande quantidade de material supostamente contrabandeado ou falsificado. O material, que tinha lotado 30 caminhões até as 18h de ontem, seria levado para a Receita Federal.


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