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CONTAS PÚBLICAS
Governo investiu menos do que acordo com FMI permitia
Pagamento de dívida passa
R$ 913 milhões do previsto
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
O governo exagerou no aperto
fiscal em 1999 e destinou ao pagamento de dívidas R$ 913 milhões
acima do valor determinado pelo
acordo com o FMI.
O esforço fiscal extraordinário
significa que o governo gastou
menos do que podia, deixando de
destinar verbas a novos projetos
sociais e investimentos.
O lado positivo é que essa economia ajudou a baixar a dívida a
46,9% do PIB (Produto Interno
Bruto, soma das riquezas produzidas no país) em dezembro de
1999, queda superior à esperada.
O acordo com o FMI determinava que a União, os Estados, os
municípios e as empresas estatais
obtivessem um superávit primário (quanto os governos economizam para pagar dívidas) de R$
30,185 bilhões em 1999.
Números divulgados ontem pelo Banco Central mostram que o
superávit primário superou o
previsto e atingiu R$ 31,098 bilhões. Assim, o governo economizou R$ 913 milhões acima do estimado e usou o dinheiro integralmente para pagar dívidas.
Essa soma corresponde aos gastos anuais do governo com três
importantes projetos sociais, segundo levantamento feito pelo
gabinete do deputado Agnelo
Queiroz (PC do B-DF).
O programa do livro didático
gastou R$ 298,1 milhões para distribuir 60 milhões de livros; o programa de qualificação profissional usou R$ 357 milhões para treinar 1,7 milhão de trabalhadores; e
o saúde da família gastou R$ 324
milhões para colocar 100 mil
agentes comunitários nas ruas.
Nos últimos dois meses de 99, o
governo percebeu que estava economizando acima do desejado e
afrouxou o controle sobre o caixa,
liberando cerca de R$ 2,7 bilhões.
Mas, mesmo assim, a economia
ficou acima do acertado com o
FMI. "Nem sempre é possível
acertar no ponto exato", disse o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O excesso não ajuda em nada
no cumprimento do acordo com
o FMI para 2000, quando o superávit primário do setor público
deve ficar em R$ 36,770 bilhões.
As regras do acordo não permitem que excessos de um ano sejam usados no seguinte.
O efeito positivo é sobre a dívida
pública. O acordo com o FMI estimava que a dívida pública fosse ficar em 51% do PIB em 1999, mas o
endividamento ficou abaixo desse percentual e deixou o governo
muito próximo de seu projeto de
estabilizar a dívida em 46,5% do
PIB até 2001.
O objetivo final do governo com
o aperto fiscal é justamente estabilizar a dívida. Até 1997, o governo vinha gastando acima de sua
arrecadação e, para cobrir a diferença, tomava empréstimos, elevando o endividamento.
A dívida deu seu maior salto em
fevereiro de 1999, devido à desvalorização do real, quando atingiu
51,4% do PIB, contra os 42,4% do
PIB registrados dois meses antes.
O superávit primário ajudou,
mas três outros fatores foram decisivos para o endividamento ficar melhor que o esperado: a alta
inflação, o recuo do dólar e o crescimento da economia.
O crescimento econômico de
0,8% e a inflação acima do esperado no ano passado geraram uma
correção nominal de 20,82% no
PIB, o dobro do esperado pelo governo. Essa expansão torna a dívida menor, quando comparada ao
PIB.
A dívida atingiu R$ 516,572 bilhões em dezembro de 1999. Se o
PIB tivesse variado apenas
10,51%, como esperado pelo governo, essa dívida iria representar
51,33% do PIB em dezembro de
1999.
O recuo da cotação do dólar
também ajudou a conter a dívida.
O governo chegou a trabalhar
com a possibilidade de o dólar fechar 99 em R$ 1,98, mas a cotação
no último dia do ano ficou em R$
1,79.
A dívida só não caiu mais devido aos altos gastos com juros do
governo, que em 1999 atingiram
R$ 127,249 bilhões. Essa despesa
elevou o déficit nominal (despesas do governo acima das receitas,
incluindo juros) a R$ 96,151 bilhões em 1999, cifra que equivale a
10,01% do PIB.
Dos gastos totais com juros, R$
39,873 bilhões se devem aos efeitos da desvalorização cambial sobre a dívida atrelada ao dólar. A
despesa também tem influência
do choque de juros, promovido
em março de 1999, quando a taxa
do BC subiu a 45% anuais.
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