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CRISE NA BASE
Novo discurso do ministro da Previdência, que falou em "meus velhinhos", gera reação de FHC
Ornélas agora quer aumento do mínimo
Sérgio Lima/Folha Imagem
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O ministro Waldeck Ornélas (Previdência), que defende "o maior reajuste possível" para o mínimo |
SÍLVIA MUGNATTO
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília
Uma semana depois de rebater
a proposta pefelista de um salário
mínimo de US$ 100, defendendo
"austeridade" e dizendo que o aumento quebraria o Tesouro, o ministro da Previdência, Waldeck
Ornélas, que é do PFL, mudou de
discurso ontem. Defendeu "o
maior reajuste possível" para "os
meus velhinhos".
A mudança foi mal recebida no
Planalto. O presidente Fernando
Henrique Cardoso ironizou as
idéias de Ornélas e ainda fez uma
cobrança. Segundo o porta-voz,
Georges Lamazière, FHC está satisfeito com o fim do crescimento
do déficit da Previdência, mas espera que Ornélas "tudo fará para
evitar que volte a crescer".
Na linha do que vem defendendo o PFL, Ornélas afirmou ontem
que o déficit da Previdência já foi
"estancado" e, por isso, vai negociar com a área econômica para
que o governo fixe o maior reajuste possível para o salário mínimo.
A Folha apurou que o ministro
vai pedir um reajuste em torno de
10%, maior que os 7% previstos
no Orçamento. O reajuste será
justificado com base na provável
variação de uma cesta de índices
de inflação entre maio do ano
passado e abril deste ano.
Apesar de defender um aumento maior para o mínimo, a equipe
de Ornélas já informou ao ministro que é praticamente impossível
reajustar o mínimo para o equivalente a US$ 100.
Ornélas é ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que tem apoiado a idéia de
elevar o mínimo ao equivalente a
US$ 100. O partido de Ornélas e
ACM tem usado o valor do salário
mínimo para pressionar FHC.
Na semana passada, uma estratégia do partido de FHC, o PSDB,
acabou retirando do PFL a condição de maior partido da Câmara
dos Deputados.
Ontem, Ornélas lembrou que o
governo FHC sempre deu aumentos superiores à variação da
inflação para o mínimo. "Vou
atravessar a Esplanada (o Ministério da Fazenda fica do lado
oposto ao da Previdência na Esplanada) e negociar com a área
econômica", disse.
O porta-voz considerou normal
que um ministro procure o outro
para discutir um problema que
envolve os dois e disse não haver
nada de novo nas declarações de
Ornélas.
"O presidente lembrou que
conceder sempre o maior aumento possível para o salário mínimo
tem sido a política do governo nos
últimos anos", afirmou Lamazière. "É a posição tradicional do governo", acrescentou o porta-voz.
Segundo Lamazière, "o aumento depende de estudos técnicos
dos ministérios da Fazenda e do
Trabalho, sobretudo, que devem
levar o governo a ter um quadro
para a decisão em final de abril".
Quando o PFL começou a defender o mínimo de US$ 100, Ornélas explicou que o assunto não
passava pela Previdência porque
cabia ao Tesouro Nacional cobrir
os déficits do seu ministério.
Ontem, o ministro disse que a
Previdência foi a pasta que mais
ajudou no ajuste fiscal em 99. Segundo Ornélas, as reformas não
foram feitas para acabar com o
déficit previdenciário imediatamente, mas para estancar a "sangria". "Isso foi alcançado", disse.
No ano passado, as contas da
Previdência tiveram déficit de R$
9,4 bilhões -a previsão inicial era
déficit acima de R$ 10 bilhões. A
avaliação do governo é que esse
déficit tende a cair devido à reforma previdenciária.
O ministro afirmou que as reformas feitas até agora foram importantes "para atender os interesses dos que ganham menos".
Ornélas disse que as contas da
Previdência vão melhorar gradualmente.
Segundo ele, as negociações em
torno do mínimo não podem prejudicar as contas públicas nem
"os meus velhinhos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)".
Segundo o ministro, os benefícios do INSS são o maior instrumento de política social do governo porque também funcionam
como um programa de renda mínima para milhares famílias.
A missão de estudar um reajuste maior para o mínimo, de acordo com o ministro, foi repassada
a ele pelo próprio FHC e não pelo
PFL. Ornélas disse que vincular o
mínimo ao dólar não tem sentido
porque o país tem "uma moeda
forte e respeitável".
O ministro da Previdência deverá falar com o titular da Fazenda, Pedro Malan, até amanhã. Na
quinta-feira, Malan terá uma reunião com a comissão do PFL encarregada de discutir o salário mínimo.
Ornélas não quis adiantar alternativas para o reajuste do mínimo, mas sua assessoria estuda a
possibilidade da concessão de um
abono temporário além do reajuste de 7%, caso a equipe econômica rejeite um reajuste maior
que esse.
O abono estaria de acordo com
a Lei de Responsabilidade Fiscal
que, embora ainda não esteja valendo, prevê regras de compensação de receita para despesas com
duração superior a dois anos.
Ou seja, um reajuste permanente acima da inflação teria de ser
acompanhado de corte de gastos
ou de aumento de receitas.
A Folha apurou que Ornélas está contrariado com o secretário de
Política Econômica da Fazenda,
Edward Amadeo, que coordena o
grupo que estudo alternativas para o reajuste do mínimo.
O ministro avalia que Amadeo
anda falando sobre o assunto sem
ter conhecimento da real situação
da Previdência.
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