São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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Mortalidade cresce por mudanças na Funasa, diz índio

DA AGÊNCIA FOLHA, EM DOURADOS (MS)

O vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio Fernando da Silva Souza, 37, diz que a mortalidade infantil aumentou nas aldeias porque houve "aparelhamento" na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) -cargos preenchidos por critérios políticos.
Segundo Souza, funcionários dos pólos distritais perderam cargos devido a indicações a partir de 2003.
O médico Zelik Trajber, 58, que presidiu o conselho e atende crianças índias em Dourados no PSFI (Programa de Saúde Familiar Indígena), afirma que a mudança na Funasa afetou o trabalho de assistência médica.
O conselho é formado por índios, agentes da Funasa e médicos. Segundo Trajber, médicos não têm como socorrer crianças em desnutrição severa nas aldeias.
O Ministério do Desenvolvimento Social criou em 2003 o programa Fome Zero Indígena, repassando R$ 5 milhões ao governo de Mato Grosso do Sul.
Essa verba, segundo o ministério, foi destinada à compra de sementes, maquinários agrícolas e adubos, atendendo 11 mil famílias indígenas.
A responsabilidade pela implantação do programa é do governo de Mato Grosso do Sul, que se comprometeu a aplicar mais R$ 500 mil.
"Não temos dez hectares de arroz plantado por falta de trator. Três tratores estão parados na oficina por falta de pagamento da Funai", disse o vice-capitão (líder indígena) da aldeia Bororó, o caiuá Assunção Cáceres, 53.
O presidente do Conselho dos Direitos Indígenas, o caiuá Sílvio Paulo, 45, afirma que as sementes chegam fora de hora do plantio nas aldeias e falta trator para espalhar calcário pela terra.
O caiuá Carlinhos Gonçalves, 23, disse que comprou 30 litros de óleo diesel para trabalhar a terra, plantando milho, mas faltou o trator.

Outro lado
O diretor nacional do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, diz que não existe interferência política no órgão e na área de assistência.
"Tivemos uma reunião do Conselho Distrital [de Saúde Indígena] que aprovou não só a permanência dos chefes dos pólos distritais como a do coordenador regional da Funasa [Gaspar Hickmann]", disse Padilha.
"Houve apenas substituições de três profissionais de saúde e todas foram solicitadas pela comunidade indígena", acrescentou o diretor.
Na quinta-feira passada, em reunião com líderes indígenas em Campo Grande, Padilha disse que não aceita mais tratar de "picuinhas".
Hickmann, sindicalista ligado ao PT, atribuiu a acusação de aparelhamento da Funasa à disputa política entre lideranças indígenas de Dourados. (HC)

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