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ORÇAMENTO 2005
Planalto quer reduzir custo das negociações com deputados
R$ 7,8 bilhões das emendas
coletivas são alvo de cortes
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma fatia de R$ 7,8 bilhões de
gastos públicos autorizados em
2005 é o principal alvo dos cortes
no Orçamento da União que o governo deve anunciar amanhã. O
valor corresponde à soma das
chamadas emendas coletivas
aprovadas pelo Congresso.
Muitas vezes sem paternidade
definida nem destino certo, elas
concentram quase 80% das mudanças apresentadas por deputados e senadores. São também a
porta de entrada do fisiologismo.
Para tentar reduzir o custo das
negociações em busca de votos no
Congresso, o governo resolveu se
comprometer em tirar do papel
apenas uma fatia de cerca de R$ 2
bilhões das emendas parlamentares. São as chamadas emendas individuais, por meio das quais cada deputado e senador teve direito a uma cota de R$ 3,5 milhões
no Orçamento de 2005 para alocação de recursos públicos em
suas bases eleitorais.
O dinheiro é destinado sobretudo a obras de saneamento e infra-estrutura urbana e à construção
de postos de saúde e de quadras
esportivas em municípios que estão localizados nas bases dos deputados e senadores.
"Crédito genérico"
Estudo realizado pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização
Financeira da Câmara identificou
em mais da metade das emendas
coletivas -teoricamente menos
paroquiais- um jogo em que
nem todos os congressistas são
iguais: alguns mandam bem mais
do que outros na hora de incluir
uma autorização de gasto na lei
orçamentária e, depois, na hora
de liberar o dinheiro.
Essas emendas envolvem um
volume bem maior de dinheiro
do que as emendas individuais
dos parlamentares.
"Espécie de crédito orçamentário genérico, as emendas partilháveis ferem o princípio da especificação orçamentária e transferem
parcela do poder decisório do
Congresso para o Poder Executivo, aumentando o grau de discricionariedade na execução", diz o
estudo, que orienta o debate de
mudanças nas regras no processo
de confecção do Orçamento.
Estimulado pelo Palácio do Planalto e apoiado pelo novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o debate pretende reduzir o grau de arbitrariedade do Executivo e, ao mesmo tempo, impedir que o governo federal
fique paralisado caso o Congresso
Nacional atrase a votação da lei
orçamentária.
As mudanças, que ainda estão
em discussão preliminar, podem
até levar o Congresso a rever as
funções do TCU (Tribunal de
Contas da União).
Volume de liberação
Embora o governo faça carga
contra as emendas coletivas, levantamento no Siafi (sistema de
acompanhamento de gastos federais) mostra que no ano passado
essas emendas conseguiram liberar verbas em volume três vezes
maior do que as emendas individuais, sobretudo nas negociações
que antecederam as votações do
Orçamento, em dezembro.
De um total de R$ 883 milhões
de emendas individuais analisadas, R$ 641 milhões foram objeto
de compromisso de gasto até 31
de dezembro. Desse total, R$ 150
milhões foram pagos. O PT foi o
partido que mais se beneficiou na
liberação do dinheiro, seguido no
ranking por PMDB, PTB e PP,
partidos da base governista.
De um total de R$ 2,7 bilhões de
emendas coletivas analisadas no
Siafi, R$ 1,2 bilhão foi objeto de
compromisso de gasto, os chamados empenhos, e R$ 461 milhões
foram pagos. As bancadas de São
Paulo, Minas Gerais, Acre, Goiás e
Tocantins foram as que tiveram o
maior volume de verbas liberadas. A liberação não foi proporcional ao volume de gastos autorizados pela lei orçamentária.
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