São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Ilusão, sonho

Globos, rádios e sites de notícias não sabiam o que fazer com a denúncia lançada pelo "assassino confesso" de Dorothy Stang.
"Rayfran, o Fogoió", como descreve a Globo, disse ontem que matou a missionária a mando de um sindicalista do PT. A notícia, logo que apareceu na Globo News:
- Na Polícia Civil, ele acusou o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de ser o mandante. Foi decretado segredo de Justiça e agora os delegados não podem revelar mais nada das investigações.
A acusação não foi e depois foi a primeira manchete do canal de notícias, depois quase desapareceu, num vaivém que se repetiu por todo lado.
O Jornal Nacional decidiu, por fim, nem mencionar. O problema era a origem da denúncia: não "o Fogoió", mas "os delegados" da Polícia Civil.
Um deles, Waldir Freire, o mais ouvido pela Globo desde o crime, foi quem surgiu na Folha Online para anunciar:
- A Polícia Civil foi determinada pela Justiça a não mais se manifestar sobre o assunto.

 

Para aumentar a confusão, o blog de Ricardo Noblat, que questionou o sigilo e cobrou "transparência", surgiu após o JN saudando que o "segredo" havia sido revogado.
Mais confusão. A Globo Online deu em manchete que o pistoleiro, agora em depoimento à Polícia Federal, apontou "outro mandante, o Tato", e não mais o sindicalista.
 

Ainda que se mantivesse a tal ordem, o "segredo" dificilmente seria respeitado.
Não por conta dos delegados, mas porque a atenção de mídia no Brasil e pelo mundo, em especial nos EUA, não dá sinal de enfraquecer.
Ontem o "Guardian" fez seu obituário, o "Los Angeles Times" deu reportagem sobre o Pará e a rede NBC noticiou -com cenas ainda do velório- as prisões e até um culto na Universidade Notre Dame, onde Stang estudou.
O "Washington Post", que há mais de uma semana publica textos quase diários sobre os crimes, foi além.
Deu duas fotos no alto da primeira página e, entre críticas à mobilização federal que só começou após a morte da missionária, registrou a falta de esperança com uma solução. De um agente da Polícia Federal, que fechou o texto do "WP":
- A missão é achar os suspeitos. Resolver o problema maior é uma ilusão, um sonho.

EM BRASÍLIA


Uma foto do "memorial" dedicado a Dorothy Stang, com o Supremo ao fundo, e outra menor, da missionária, ocupam a capa do "Washington Post" de ontem, sob o título "Assassinato galvaniza causa de freira"

Aberração
Severino Cavalcanti, no Canal Livre, Renan Calheiros, em coletiva, José Genoino, na Folha Online, e Geraldo Alckmin, na Globo News, todos agora querem reforma política "este ano". Dele, Severino:
- Vamos botar alguma coisa que impeça mudança [de partido]. É uma aberração!

O amigo
Delfim Netto, "amigo de Severino" segundo a rádio Band, disse à emissora que o partido de ambos, o PP, "aceita um ministério se for convidado".

Melhor janeiro 1
A política vai mal, mas a economia, pelo menos parte dela, estimula enunciados incontidos. No JN, ontem:
- Contas externas têm melhor resultado em quase 60 anos.

Melhor janeiro 2
Por outro lado, também do JN:
- É a segunda arrecadação mensal de impostos da história e a maior para meses de janeiro.

Zedillo
O "New York Times" sugeriu em editorial a indicação do mexicano Ernesto Zedillo ou de FHC como novo presidente do Banco Mundial. O "Financial Times", também em editorial, pediu Zedillo com veemência.
Sobre FHC, nada.

Experimentar
A rede ABC pôs no ar as gravações em que George W. Bush, antes da eleição para o primeiro mandato nos EUA, fala de maconha etc. Um trecho:
- Você quer que o seu menino diga, "pai, o presidente Bush experimentou maconha, acho que vou também"?


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