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"Não sabemos mais o que é verdade"
DA AGÊNCIA FOLHA
DO PAINEL
As dúvidas sobre a veracidade
dos números da reforma agrária
divulgados pelo governo federal
nos últimos anos poderão colocar
por terra uma série de trabalhos
acadêmicos feitos sobre o tema.
A opinião é do professor da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) Bernardo Mançano Fernandes, autor de livros e teses sobre a questão agrária no país.
"Como cientista, estou indignado. Nós, que trabalhamos com isso, não podemos ficar reféns de
dados falsos. Agora não sabemos
mais o que é verdadeiro e o que é
manipulado", disse o professor,
com mestrado e doutorado em
geografia pela USP (Universidade
de São Paulo).
Segundo Fernandes, a maioria
dos estudos feitos no país sobre a
reforma agrária é baseada nos balanços anuais publicados pelo Incra e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. "O Incra deve fornecer todos os seus dados
para irmos a campo checar sua
veracidade: o nome do projeto, o
município, o número de famílias,
a área, o ano de criação e o tipo de
assentamento. Assim teremos
condições de fazer análise mais
segura dos nossos trabalhos",
afirmou Fernandes.
Para o professor, o quadro revelado ontem pela Folha, que mostrou que o governo inclui terrenos
vazios em seus balanços de assentamento, deve ser investigado por
uma auditoria independente.
"Isso não é reforma agrária.
Trata-se de uma soma feita exclusivamente para atender aos interesses do governo. A preocupação
do Incra de atingir determinados
números passa por cima até do
conceito de reforma agrária."
O presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), que apóia o MST, Gerson
Teixeira, afirmou que foi confirmado o que os movimentos sociais vêm denunciando. "Pela primeira vez, uma reportagem na
grande imprensa desvenda o que,
na minha opinião, é a maior fraude política do governo Fernando
Henrique", disse Teixeira, que é
doutorando em economia pela
Unicamp.
(EDS e RV)
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