São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Chefe tribal assume culpa dos cinta-larga na morte dos garimpeiros

Somos guerreiros e cuidamos das coisas assim, afirma índio

Victor Caivano/Associated Press
Dois guerreiros cinta-larga seguram o arco-e-flecha perto do rio Roosevelt, na terra indígena em RO


MICHAEL ASTOR
DA ASSOCIATED PRESS, NA TERRA INDÍGENA ROOSEVELT (RO)

Um chefe tribal cinta-larga admitiu a culpa dos índios cinta-larga da terra indígena Roosevelt na morte de 29 garimpeiros e disse ontem que os assassinatos aconteceram depois de seguidos avisos para ficarem longe da área.
Em suas primeiras declarações desde as mortes no dia 7 deste mês, o chefe Pio Cinta-Larga afirmou à agência de notícias Associated Press que os índios da terra indígena Roosevelt foram os responsáveis pelas mortes, mas negou que tenha ordenado o ataque ou tomado parte nele.
"Há alguns índios muito bravos, e nem sempre o líder pode controlar suas ações", disse, acrescentando que integrantes de outras tribos se juntaram aos cinta-larga na reserva de 2,7 milhões de hectares, que é constantemente invadida pelos garimpeiros.
"Nós falamos para eles que não queríamos que eles entrassem aqui e eles continuarem voltando. Os guerreiros perderam a paciência, e foi isso que aconteceu", disse Pio Cinta-Larga, que usa o nome da tribo como seu sobrenome.
De acordo com a Polícia Federal, os 29 garimpeiros foram mortos pelos cinta-larga numa disputa pelo garimpo de diamantes. Estima-se que a reserva tenha a maior jazida da pedra preciosa na América do Sul.
Os agentes acreditam que a maioria dos garimpeiros foram enfileirados e mortos à curta distância com flechas, porretes, lanças e armas de fogo. Muitos dos corpos aparentam terem sido torturados e mutilados.
Apesar de negar envolvimento com o ataque, o chefe tribal afirmou que os índios têm o direito de defender sua cultura.
"Nós somo guerreiros", disse Pio. "Antes de o homem branco aparecer, nenhuma das tribos aqui era amiga. Nós lutávamos e matávamos uns aos outros, que é como a gente resolve as coisas."
A terra indígena Roosevelt, no Estado de Rondônia, é coberta pela densa vegetação da floresta Amazônica, só acessível por meio de cerca 160 km de estradas precárias. Na reserva, a viagem é, principalmente, por trilha na mata ou por rio.
O primeiro contato dos cinta-larga com outras pessoas aconteceu no final dos anos 60, mas o desenvolvimento tem gerado resultados diferentes.
Muitos dos índios estão prósperos, vestidos com roupas ao estilo ocidental e dirigindo camionetes.
Cerca de dois terços dos 1.300 integrantes da etnia aprenderam o português, mas os índios remanescentes mantêm as violentas tradições guerreiras da tribo.
O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio). Mércio Pereira Gomes, já afirmou que acha que os cinta-larga agiram em legítima defesa, porque invadir e explorar o garimpo em reservas indígenas são ilegais.
"É ilegal explorar o garimpo na terra indígena, é também ilegal matar", disse Celso Antim, do Sindicato dos Garimpeiros de Espigão d'Oeste (RO).


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