|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bispo aponta negociata em reserva
GUILHERME BAHIA
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA (SP)
Grandes empresários do garimpo que atuam dentro da terra indígena Roosevelt, em Rondônia e
Mato Grosso, utilizam pistas de
pouso da Funai (Fundação Nacional do Índio) para transportar
diamantes extraídos ilegalmente
da área. A denúncia é do bispo de
Ji-Paraná (RO), d. Antônio Possamai, cuja área de atuação inclui
parte da reserva dos cinta-larga.
Segundo d. Antônio, a Funai sabe
disso e não toma providências.
O bispo sustenta que os pelo
menos 29 garimpeiros mortos
dentro da área dos cinta-larga são
pequenos garimpeiros cuja presença na região fere os interesses
dos grandes empresários que têm
estreitas relações com alguns caciques. A extração de diamantes em
terras indígenas é ilegal. Esses caciques é que teriam ordenado a
morte dos garimpeiros. Dada a
ordem, os cinta-larga dificilmente
deixariam de cumpri-la, pois eles
quase nada fazem sem o consentimento dos caciques, disse o bispo.
"Não foram os índios pobres
que massacraram [os garimpeiros]. Podem, sim, ter sido envolvidos pelos caciques, porque, na
cultura indígena, o cacique é sempre respeitado. Se o cacique manda tal coisa, o índio obedece. Agora, quem realmente está na cabeça
desse grupo são mentores dos caciques. [Não todos], mas um
grande grupo deles que faz as negociatas com os comerciantes do
diamante, que tiram grandes vantagens", disse o bispo.
As declarações foram dadas ontem a jornalistas no primeiro dia
da 42ª Assembléia Geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), em Indaiatuba (SP).
Questionado sobre quem seriam esses empresários, o bispo
disse que são residentes na região
de Cacoal (RO), de outros países e
de outros Estados do Brasil.
Dom Antônio criticou a política
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva para os índios: "Não creio
que o governo Lula tenha um projeto para os povos indígenas".
Citou o fato de a Polícia Federal
ter retirado, por falta de verbas,
homens de dentro da reserva
Roosevelt antes do conflito, mesmo sabendo que a situação era
grave, segundo o ministro Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) confirmou. "Essa questão de falta de
verbas não me convence", disse.
"Se realmente a paz social é um
bem fundamental, tem que haver
verbas para isso. E há. É uma
questão de querer acionar."
Bode expiatório
Em resposta às declarações de
dom Antônio, a Funai afirmou,
em nota divulgada ontem, que a
busca de bodes expiatórios não
condiz com a profundidade da
tragédia e que mais de 4.000 garimpeiros foram retirados da reserva nos últimos cinco anos com
o apoio da Polícia Federal.
Texto Anterior: Saiba mais: Mineração em terra indígena está vetada há 16 anos Próximo Texto: Para coordenador, chacina começou depois de ofensa Índice
|