São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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QUESTÃO INDÍGENA

Emissora incita população a reagir contra homologação de terras; índios vêem motivação eleitoral dos donos

Rádio faz campanha contra demarcação

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma das principais rádios de Roraima, a Equatorial FM, iniciou uma campanha para incitar a população do Estado a reagir contra a homologação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, na fronteira com a Venezuela e a Guiana.
A Equatorial FM chegou a transmitir ao vivo os discursos feitos nos trios elétricos por lideranças de produtores de arroz e por políticos contrários à demarcação da reserva indígena.
Desde o último dia 15, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto de homologação, houve três protestos na praça central de Boa Vista.
"Somos totalmente contra. O presidente e o [ministro] Márcio Thomaz Bastos estão entregando o país e a imprensa nacional não consegue "alcançar" isso. O Brasil está assistindo ao governo do PT entregar o nosso país", afirmou o diretor e comentarista da rádio, Márcio Junqueira.
Junqueira administra a Sociedade Rádio Equatorial Ltda. ao lado do empresário José Renato Haddad. Ambos já concorreram à Câmara Municipal de Boa Vista.
Lideranças indígenas favoráveis à demarcação da reserva afirmam que o intuito do radialista, ligado ao PDT, é usar a situação como palanque visando a uma cadeira de deputado estadual nas eleições do próximo ano.
Nos programas da Equatorial, os locutores adotam o discurso de que a medida não atenderá aos interesses dos índios, mas dos Estados Unidos. Reclamam da vulnerabilidade dos índios para conter uma invasão de norte-americanos nas florestas brasileiras e do desemprego de agricultores, segundo eles, decorrente da extinção das plantações de arroz.
Para o Conselho Indígena de Roraima, que apóia a homologação, a rádio mobiliza a população devido a sua abrangência.
"A população acaba acreditando que será instalada uma base americana, que um pedaço do Brasil foi retirado do mapa", disse André Vasconcelos, da coordenação da entidade.
O radialista rebate afirmando que "o CIR é manipulado pela Igreja Católica e por interesses estrangeiros". Junqueira diz que o próximo passo será protestar nas estradas. "Vamos para a estrada em protesto contra o estado de sítio", disse, em referência à operação da Polícia Federal.
No domingo, desembarcaram 60 agentes da PF e 40 da Polícia Rodoviária Federal para patrulhar a região que será demarcada.


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