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QUESTÃO INDÍGENA
Emissora incita população a reagir contra homologação de terras; índios vêem motivação eleitoral dos donos
Rádio faz campanha contra demarcação
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma das principais rádios de
Roraima, a Equatorial FM, iniciou
uma campanha para incitar a população do Estado a reagir contra
a homologação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, na fronteira com a Venezuela e a Guiana.
A Equatorial FM chegou a
transmitir ao vivo os discursos
feitos nos trios elétricos por lideranças de produtores de arroz e
por políticos contrários à demarcação da reserva indígena.
Desde o último dia 15, quando o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto de homologação, houve três protestos na
praça central de Boa Vista.
"Somos totalmente contra. O
presidente e o [ministro] Márcio
Thomaz Bastos estão entregando
o país e a imprensa nacional não
consegue "alcançar" isso. O Brasil
está assistindo ao governo do PT
entregar o nosso país", afirmou o
diretor e comentarista da rádio,
Márcio Junqueira.
Junqueira administra a Sociedade Rádio Equatorial Ltda. ao lado
do empresário José Renato Haddad. Ambos já concorreram à Câmara Municipal de Boa Vista.
Lideranças indígenas favoráveis
à demarcação da reserva afirmam
que o intuito do radialista, ligado
ao PDT, é usar a situação como
palanque visando a uma cadeira
de deputado estadual nas eleições
do próximo ano.
Nos programas da Equatorial,
os locutores adotam o discurso de
que a medida não atenderá aos interesses dos índios, mas dos Estados Unidos. Reclamam da vulnerabilidade dos índios para conter
uma invasão de norte-americanos nas florestas brasileiras e do
desemprego de agricultores, segundo eles, decorrente da extinção das plantações de arroz.
Para o Conselho Indígena de
Roraima, que apóia a homologação, a rádio mobiliza a população
devido a sua abrangência.
"A população acaba acreditando que será instalada uma base
americana, que um pedaço do
Brasil foi retirado do mapa", disse
André Vasconcelos, da coordenação da entidade.
O radialista rebate afirmando
que "o CIR é manipulado pela
Igreja Católica e por interesses estrangeiros". Junqueira diz que o
próximo passo será protestar nas
estradas. "Vamos para a estrada
em protesto contra o estado de sítio", disse, em referência à operação da Polícia Federal.
No domingo, desembarcaram
60 agentes da PF e 40 da Polícia
Rodoviária Federal para patrulhar a região que será demarcada.
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