São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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OPERAÇÃO CONDOR
Mensagem foi enviada pela Superintendência Regional da PF do Rio à polícia política do Estado

Telegrama confirma ação com Uruguai

LUIZ ANTÔNIO RYFF
MÁRIO MAGALHÃES

DA SUCURSAL DO RIO

Um telegrama da Polícia Federal, de 28 de agosto de 1976 explicita a associação do governo militar com o Uruguai para caçar militantes políticos daquele país em território brasileiro.
A mensagem foi enviada pela Superintendência Regional da Polícia Federal do Rio de Janeiro ao DGIE (Departamento Geral de Investigações Especiais), que na época tinha o papel de polícia política do Estado.
É mais uma evidência, em documento produzido por órgão repressivo do regime militar brasileiro (1964-85), e não do exterior, da colaboração do país com outras ditaduras da América do Sul no combate a opositores de esquerda.
Em 1975, a ação conjunta foi formalizada com a criação da Operação Condor, à qual o Brasil aderiu em 1976, conforme relatórios produzidos pela CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, e liberados recentemente à consulta pública.
Antes de mencionar o nome completo de oito homens e uma mulher, o texto diz: ""Este DPF (Departamento de Polícia Federal), em colaboração com a República do Uruguai, (pede ajuda no) sentido de capturar subversivos".
Ao final, escreveu-se: ""Solicitamos, caso sejam encontrados neste Estado, detê-los e comunicar com este (...) DPF".
A Folha encontrou uma cópia do telegrama numa pasta do Arquivo Público do Estado do Rio, onde o papel foi classificado pelo DGIE no dia seguinte ao seu recebimento.
Nessa pasta não havia informação sobre eventual resultado da busca.
A mensagem foi retransmitida para outros organismos repressivos da Secretaria de Segurança Pública, como a Polícia Militar.
A Operação Condor tinha a participação de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia. Uma das suas missões era coletar informações sobre opositores dos regimes militares e buscá-los, independentemente de eles estarem ou não em território dos seus países de origem.
Anteontem, a Folha publicou um pedido de busca emitido pelo CIE (Centro de Informações do Exército), listando 149 argentinos procurados por ""terem praticado ações subversivas".
A data do documento, 5 de outubro de 1976, reforça a impressão de que foi de fato neste ano que, mesmo em processo de abertura política, o Brasil intensificou os esforços para capturar, aqui, fugitivos do Cone Sul.

Arquivos incompletos

Mesmo que as Forças Armadas tenham destruído parte dos seus arquivos, documentos enviados para outras repartições do sistema de segurança ainda existem, desde que tenham sido arquivados e preservados.
Ao todo, há mais de dez pedidos de captura no Arquivo do Rio. Nos relativos a uruguaios, a maioria era, conforme relações enviadas pelo próprio governo daquele país, de guerrilheiros tupamaros, integrantes do MLN (Movimento de Libertação Nacional).
Havia outras organizações "subversivas" citadas: PCR (Partido Comunista Revolucionário), CAT (Comando de Apoio Tupamaro), Faro (Frente Armada Revolucionária Oriental) e ROE (Resistência Obrera Estudantil).
Entre as relações de "requeridos por atividades sediciosas" mandadas para o Brasil, e recebidas pela polícia política do Rio, há uma de responsabilidade do comandante-em-chefe do Exército e chefe do Estado-Maior do Exército do Uruguai, general Luis V. F. Queirolo.
O regime militar uruguaio (1973-85) deixou, só de desaparecidos, o saldo de 163 pessoas.
Na Argentina, algumas estimativas citam 30 mil desaparecidos durante os governos militares (1976-83). No Brasil há pelo menos 153.
O juiz federal argentino Claudio Bonadio encaminhou à Justiça brasileira uma carta rogatória (pedido feito por tribunal ou juiz de um país ao de outro) indagando sobre a participação na Operação Condor.
Três militantes argentinos teriam desaparecido no aeroporto internacional do Rio em 1980. Nunca mais houve notícia deles, que passaram a integrar a lista de desaparecidos políticos do seu país.


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