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OPERAÇÃO CONDOR
Mensagem foi enviada pela Superintendência Regional da PF do Rio à polícia política do Estado
Telegrama confirma ação com Uruguai
LUIZ ANTÔNIO RYFF
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Um telegrama da Polícia Federal, de 28 de agosto de 1976 explicita a associação do governo militar com o Uruguai para caçar militantes políticos daquele país em
território brasileiro.
A mensagem foi enviada pela
Superintendência Regional da
Polícia Federal do Rio de Janeiro
ao DGIE (Departamento Geral de
Investigações Especiais), que na
época tinha o papel de polícia política do Estado.
É mais uma evidência, em documento produzido por órgão repressivo do regime militar brasileiro (1964-85), e não do exterior,
da colaboração do país com outras ditaduras da América do Sul
no combate a opositores de esquerda.
Em 1975, a ação conjunta foi
formalizada com a criação da
Operação Condor, à qual o Brasil
aderiu em 1976, conforme relatórios produzidos pela CIA, a agência de inteligência dos Estados
Unidos, e liberados recentemente
à consulta pública.
Antes de mencionar o nome
completo de oito homens e uma
mulher, o texto diz: ""Este DPF
(Departamento de Polícia Federal), em colaboração com a República do Uruguai, (pede ajuda no)
sentido de capturar subversivos".
Ao final, escreveu-se: ""Solicitamos, caso sejam encontrados neste Estado, detê-los e comunicar
com este (...) DPF".
A Folha encontrou uma cópia
do telegrama numa pasta do Arquivo Público do Estado do Rio,
onde o papel foi classificado pelo
DGIE no dia seguinte ao seu recebimento.
Nessa pasta não havia informação sobre eventual resultado da
busca.
A mensagem foi retransmitida
para outros organismos repressivos da Secretaria de Segurança
Pública, como a Polícia Militar.
A Operação Condor tinha a participação de Brasil, Argentina,
Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia. Uma das suas missões era coletar informações sobre opositores dos regimes militares e buscá-los, independentemente de eles
estarem ou não em território dos
seus países de origem.
Anteontem, a Folha publicou
um pedido de busca emitido pelo
CIE (Centro de Informações do
Exército), listando 149 argentinos
procurados por ""terem praticado
ações subversivas".
A data do documento, 5 de outubro de 1976, reforça a impressão
de que foi de fato neste ano que,
mesmo em processo de abertura
política, o Brasil intensificou os
esforços para capturar, aqui, fugitivos do Cone Sul.
Arquivos incompletos
Mesmo que as Forças Armadas
tenham destruído parte dos seus
arquivos, documentos enviados
para outras repartições do sistema de segurança ainda existem,
desde que tenham sido arquivados e preservados.
Ao todo, há mais de dez pedidos
de captura no Arquivo do Rio.
Nos relativos a uruguaios, a maioria era, conforme relações enviadas pelo próprio governo daquele
país, de guerrilheiros tupamaros,
integrantes do MLN (Movimento
de Libertação Nacional).
Havia outras organizações
"subversivas" citadas: PCR (Partido Comunista Revolucionário),
CAT (Comando de Apoio Tupamaro), Faro (Frente Armada Revolucionária Oriental) e ROE (Resistência Obrera Estudantil).
Entre as relações de "requeridos
por atividades sediciosas" mandadas para o Brasil, e recebidas
pela polícia política do Rio, há
uma de responsabilidade do comandante-em-chefe do Exército e
chefe do Estado-Maior do Exército do Uruguai, general Luis V. F.
Queirolo.
O regime militar uruguaio
(1973-85) deixou, só de desaparecidos, o saldo de 163 pessoas.
Na Argentina, algumas estimativas citam 30 mil desaparecidos
durante os governos militares
(1976-83). No Brasil há pelo menos 153.
O juiz federal argentino Claudio
Bonadio encaminhou à Justiça
brasileira uma carta rogatória
(pedido feito por tribunal ou juiz
de um país ao de outro) indagando sobre a participação na Operação Condor.
Três militantes argentinos teriam desaparecido no aeroporto
internacional do Rio em 1980.
Nunca mais houve notícia deles,
que passaram a integrar a lista de
desaparecidos políticos do seu
país.
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