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Argentino namorava
informante do DOI
DA SUCURSAL DO RIO
O grande amor entre um guerrilheiro argentino e a carioca Ângela, em 1973, não era tão grande
assim: ela era informante do DOI
(Destacamento de Operações de
Informações) do 1º Exército, segundo documentos do antigo
DGIE (Departamento Geral de
Investigações Especiais) do Rio.
Num informe de novembro de
1973, com carimbo de "confidencial", o DOI relata que uma informante teve "relacionamento afetivo" com um integrante do ERP
(Exército Revolucionário do Povo), maior grupo guerrilheiro argentino depois dos Montoneros.
A colaboradora de um dos mais
duros órgãos da repressão militar
entregou rasgada, para não ser
identificada, uma foto em que
aparece "Alejandro Milanesi".
Contou que ele foi embora para
a Argentina. Deixou com o DOI
uma carta do ex-namorado. O informe não esclarece se ela falou
dele só depois da partida ou se o
militante estava sendo monitorado pelos militares e escapou.
Na carta, descobre-se que o nome dela é Ângela, filha de um certo José Maria. O guerrilheiro narra o trajeto do Rio à Argentina,
passando por Bolívia e Paraguai.
Diz que seu nome não é Alejandro, como era conhecido por ela,
nem Juan Carlos, como era chamado na clandestinidade do ERP,
apesar de o golpe na Argentina ter
sido em 1976. Talvez fosse Jorge.
Com a carta, enviou um panfleto do ERP. Ao lado da estrela negra, símbolo da organização, o
papel ganhou um carimbo vermelho do 1º Exército.
"As coisas aqui estão muito
complicadas, a repressão é tremenda, tua vida não vale nada, os
assassinatos, atentados, os sequestros estão na ordem do dia.
Esta é uma guerra total", escreve o
militante, em espanhol.
Adiante, relata a tensão na Argentina: ""Bom, pequena, não poderás nunca me escrever; não tenho endereço fixo. (...) Esta é minha vida, destinado a ser preso ou
morto a qualquer momento. Faz
anos que vivo assim (...). Talvez
um dia tudo isso termine."
Pelo arquivo, se constata que ele
escapou de Ângela. Não se sabe,
porém, se sobreviveu ao regime
militar de seu país.
(LAR e MM)
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