São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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Argentino namorava informante do DOI

DA SUCURSAL DO RIO

O grande amor entre um guerrilheiro argentino e a carioca Ângela, em 1973, não era tão grande assim: ela era informante do DOI (Destacamento de Operações de Informações) do 1º Exército, segundo documentos do antigo DGIE (Departamento Geral de Investigações Especiais) do Rio.
Num informe de novembro de 1973, com carimbo de "confidencial", o DOI relata que uma informante teve "relacionamento afetivo" com um integrante do ERP (Exército Revolucionário do Povo), maior grupo guerrilheiro argentino depois dos Montoneros.
A colaboradora de um dos mais duros órgãos da repressão militar entregou rasgada, para não ser identificada, uma foto em que aparece "Alejandro Milanesi".
Contou que ele foi embora para a Argentina. Deixou com o DOI uma carta do ex-namorado. O informe não esclarece se ela falou dele só depois da partida ou se o militante estava sendo monitorado pelos militares e escapou.
Na carta, descobre-se que o nome dela é Ângela, filha de um certo José Maria. O guerrilheiro narra o trajeto do Rio à Argentina, passando por Bolívia e Paraguai.
Diz que seu nome não é Alejandro, como era conhecido por ela, nem Juan Carlos, como era chamado na clandestinidade do ERP, apesar de o golpe na Argentina ter sido em 1976. Talvez fosse Jorge.
Com a carta, enviou um panfleto do ERP. Ao lado da estrela negra, símbolo da organização, o papel ganhou um carimbo vermelho do 1º Exército.
"As coisas aqui estão muito complicadas, a repressão é tremenda, tua vida não vale nada, os assassinatos, atentados, os sequestros estão na ordem do dia. Esta é uma guerra total", escreve o militante, em espanhol.
Adiante, relata a tensão na Argentina: ""Bom, pequena, não poderás nunca me escrever; não tenho endereço fixo. (...) Esta é minha vida, destinado a ser preso ou morto a qualquer momento. Faz anos que vivo assim (...). Talvez um dia tudo isso termine."
Pelo arquivo, se constata que ele escapou de Ângela. Não se sabe, porém, se sobreviveu ao regime militar de seu país. (LAR e MM)


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