São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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ESQUELETO DO BC

Governo se antecipa para tentar esvaziar nova investigação

FHC envia Malan e Grossi ao Senado para barrar CPI

KENNEDY ALENCAR
DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em menos de 24 horas, o governo montou uma operação para esvaziar a tentativa da oposição de ressuscitar a CPI da corrupção ou de viabilizar uma investigação no Congresso a partir da suposta chantagem do banqueiro Salvatore Alberto Cacciola contra Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, e a diretora de Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi, se colocaram à disposição para falar do assunto no Senado antes mesmo de ser aprovado requerimento que solicita a presença deles em comissões da Casa.
O governo desejava que depusessem hoje, mas, devido ao trâmite burocrático do Senado, Malan e Tereza deverão falar depois de amanhã ou na próxima terça.
Na impossibilidade de depor hoje, Malan negou em nota ter conhecimento da suposta chantagem. Ele se reuniu com o presidente Fernando Henrique Cardoso e articuladores políticos no fim da tarde. Na visão de FHC, a resposta deveria ser rápida para abortar eventual investigação no Congresso.
"Se o governo tivesse interesse em abafar algo, não estaria lutando pela extradição do Cacciola da Itália para o Brasil. Que medo do Cacciola ou da suposta chantagem é esse?", disse ontem o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral).
Principal articulador da operação de esvaziamento, Aloysio falou com FHC e conversou com Malan anteontem à tarde. Sugeriu que Malan fosse ao Congresso "se explicar" antes de a oposição explorar o caso. Malan aprovou a idéia e falou com Tereza Grossi, que também se colocou à disposição do Senado.
Na época da CPI dos Bancos, o Planalto manobrou para Malan não ir depor. Nas comissões do Senado, Malan não prestará juramento, como teria de fazer na CPI. "Ele não terá de falar a verdade", disse José Genoino (PT-SP).
Segundo a revista "Veja", Cacciola teria descoberto que Chico Lopes vendia informações privilegiadas, decidiu grampeá-lo e ameaçou denunciá-lo em 1999 se o então presidente do BC não socorresse seu banco, o Marka. De acordo com a revista, Lopes teve queda-relâmpago porque o governo teria tomado conhecimento da chantagem.
Grossi, então chefe interina da Fiscalização, reuniu-se com Cacciola e operou a ajuda aos bancos Marka e FonteCindam, que deu prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao BC. Do prejuízo, o Marka, de Cacciola, é responsável por cerca de R$ 1 bi. O FonteCindam, pelo resto.
"O governo não soube da suposta chantagem, de cuja veracidade tenho dúvida", disse Aloysio, repetindo que a queda de Lopes ocorreu "pelas razões conhecidas, o manejo do BC". Afirmou ainda que o socorro aos bancos foi investigado e não justifica CPI.

FHC
FHC articulou o apoio dos aliados à operação. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), que tinha encontro ontem com FHC, não trabalharia para o episódio dar margem a uma CPI. O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e o líder peemedebista na Casa, Renan Calheiros (AL), disseram que não havia chance de a suposta chantagem ressuscitar ou viabilizar CPIs.
Romero Jucá (PSDB-RR), líder do governo no Senado e autor do requerimento de convocação de Malan e Grossi, também avalia que o Planalto deve se antecipar à oposição para evitar a CPI.
Jucá apresentou o requerimento para demonstrar que "o governo não tem o que esconder". O pedido está previsto para ser apreciado hoje às 10h na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Às 17h, deverá ser votado na Comissão de Fiscalização e Controle da Casa. O ministro e a diretora do BC devem falar em sessão conjunta das comissões.
Na falta de assinaturas para a CPI, senadores do PT também apresentaram ontem pedido de convocação de Malan e Grossi para falar nas mesmas comissões.
Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos autores do requerimento, afirmou que, neste momento, é o que a oposição pode fazer. O comando do PT discutiu o assunto ontem à noite e decidiu investir na mobilização popular para criar a CPI. O partido vai lançar o que chama de "CPI de rua", com coleta de assinaturas entre a população para culminar na "Marcha dos 100 mil" a Brasília, marcada para 27 de junho. "Vamos começar pela rua para depois chegar ao Congresso", afirmou o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA). Hoje os partidos de oposição vão se reunir para discutir as opções que têm para obter a CPI.


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