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ESQUELETO DO BC
Governo se antecipa para tentar esvaziar nova investigação
FHC envia Malan e Grossi ao Senado para barrar CPI
KENNEDY ALENCAR
DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em menos de 24 horas, o governo montou uma operação para
esvaziar a tentativa da oposição
de ressuscitar a CPI da corrupção
ou de viabilizar uma investigação
no Congresso a partir da suposta
chantagem do banqueiro Salvatore Alberto Cacciola contra Francisco Lopes, ex-presidente do
Banco Central.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, e a diretora de Fiscalização
do Banco Central, Tereza Grossi,
se colocaram à disposição para falar do assunto no Senado antes
mesmo de ser aprovado requerimento que solicita a presença deles em comissões da Casa.
O governo desejava que depusessem hoje, mas, devido ao trâmite burocrático do Senado, Malan e Tereza deverão falar depois
de amanhã ou na próxima terça.
Na impossibilidade de depor
hoje, Malan negou em nota ter conhecimento da suposta chantagem. Ele se reuniu com o presidente Fernando Henrique Cardoso e articuladores políticos no fim
da tarde. Na visão de FHC, a resposta deveria ser rápida para
abortar eventual investigação no
Congresso.
"Se o governo tivesse interesse
em abafar algo, não estaria lutando pela extradição do Cacciola da
Itália para o Brasil. Que medo do
Cacciola ou da suposta chantagem é esse?", disse ontem o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral).
Principal articulador da operação de esvaziamento, Aloysio falou com FHC e conversou com
Malan anteontem à tarde. Sugeriu
que Malan fosse ao Congresso "se
explicar" antes de a oposição explorar o caso. Malan aprovou a
idéia e falou com Tereza Grossi,
que também se colocou à disposição do Senado.
Na época da CPI dos Bancos, o
Planalto manobrou para Malan
não ir depor. Nas comissões do
Senado, Malan não prestará juramento, como teria de fazer na
CPI. "Ele não terá de falar a verdade", disse José Genoino (PT-SP).
Segundo a revista "Veja", Cacciola teria descoberto que Chico
Lopes vendia informações privilegiadas, decidiu grampeá-lo e
ameaçou denunciá-lo em 1999 se
o então presidente do BC não socorresse seu banco, o Marka. De
acordo com a revista, Lopes teve
queda-relâmpago porque o governo teria tomado conhecimento da chantagem.
Grossi, então chefe interina da
Fiscalização, reuniu-se com Cacciola e operou a ajuda aos bancos
Marka e FonteCindam, que deu
prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao BC.
Do prejuízo, o Marka, de Cacciola, é responsável por cerca de R$ 1
bi. O FonteCindam, pelo resto.
"O governo não soube da suposta chantagem, de cuja veracidade tenho dúvida", disse Aloysio, repetindo que a queda de Lopes ocorreu "pelas razões conhecidas, o manejo do BC". Afirmou
ainda que o socorro aos bancos
foi investigado e não justifica CPI.
FHC
FHC articulou o apoio dos aliados à operação. O presidente do
PFL, Jorge Bornhausen (SC), que
tinha encontro ontem com FHC,
não trabalharia para o episódio
dar margem a uma CPI. O presidente do Senado, Jader Barbalho
(PMDB-PA), e o líder peemedebista na Casa, Renan Calheiros
(AL), disseram que não havia
chance de a suposta chantagem
ressuscitar ou viabilizar CPIs.
Romero Jucá (PSDB-RR), líder
do governo no Senado e autor do
requerimento de convocação de
Malan e Grossi, também avalia
que o Planalto deve se antecipar à
oposição para evitar a CPI.
Jucá apresentou o requerimento para demonstrar que "o governo não tem o que esconder". O
pedido está previsto para ser
apreciado hoje às 10h na Comissão de Assuntos Econômicos do
Senado. Às 17h, deverá ser votado
na Comissão de Fiscalização e
Controle da Casa. O ministro e a
diretora do BC devem falar em
sessão conjunta das comissões.
Na falta de assinaturas para a
CPI, senadores do PT também
apresentaram ontem pedido de
convocação de Malan e Grossi para falar nas mesmas comissões.
Eduardo Suplicy (PT-SP), um
dos autores do requerimento,
afirmou que, neste momento, é o
que a oposição pode fazer. O comando do PT discutiu o assunto
ontem à noite e decidiu investir
na mobilização popular para criar
a CPI. O partido vai lançar o que
chama de "CPI de rua", com coleta de assinaturas entre a população para culminar na "Marcha
dos 100 mil" a Brasília, marcada
para 27 de junho. "Vamos começar pela rua para depois chegar ao
Congresso", afirmou o líder do
PT na Câmara, Walter Pinheiro
(BA). Hoje os partidos de oposição vão se reunir para discutir as
opções que têm para obter a CPI.
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