São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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ESQUELETO DO BC

Números seriam usados por Francisco Lopes; Ministério Público deve pedir quebra de sigilo de conta nas Bahamas

Procurador diz que já sabia de celulares

DA SUCURSAL DO RIO

O procurador da República Artur Gueiros disse ontem que os celulares citados pela revista "Veja", pelos quais o ex-presidente do BC (Banco Central) Francisco Lopes passaria informações sobre juros e câmbio a Luiz Augusto Bragança -irmão de Sérgio Bragança, seu sócio na empresa de consultoria Macrométrica- e ao economista Rubem Novaes, já vinham sendo investigados no processo que apura o socorro do governo aos bancos Marka e FonteCindam.
O procurador disse que o Ministério Público Federal do Rio pedirá à Justiça a quebra do sigilo bancário de uma suposta conta pertencente a uma empresa do banco Pactual no Bank of New York, com sede nas Bahamas.
Segundo "Veja", parte da remuneração de Lopes pela venda de informações privilegiadas sairia dessa conta, em nome da Pactual Overseas Bank and Trust Limited.
De acordo com Gueiros, a Justiça do Rio concedeu em fevereiro deste ano, após pedido do Ministério Público, a quebra do sigilo telefônico dos aparelhos com os números 9916-2833, 9983-5660 e 9995-5055, supostamente usados por Luiz Bragança, Novaes e pelo ex-presidente do BC.
O procurador informou que as linhas pertencem à Telefônica Celular do Rio de Janeiro e que a empresa ainda não forneceu os dados pedidos pelo Ministério Público, apesar da determinação da Justiça.
A Folha ligou para os três celulares. Os números 9916-2833 e 9995-5055 estavam fora de área. O 9983-5660 é de Luís Carlos Souza Fontes. Ele disse ser dono da linha há vários anos e se mostrou surpreso quando informado que o número teria sido usado por Luiz Bragança. Fontes disse que não conhece Bragança e que não tem nenhuma ligação com o assunto.
Gueiros não informou desde quando os procuradores sabiam da existência dos celulares. Ele disse que os telefones constam dos documentos que compõem as investigações.
Ele também disse que enviaria ontem ofício à PF (Polícia Federal) determinando abertura de inquérito para apurar o envolvimento do Pactual com um suposto esquema de compra e venda de informações privilegiadas.
O procurador informou que pedirá à PF todos os documentos utilizados pela revista "Veja".
"Quanto às fitas, que teriam sido gravadas pelo banqueiro Salvatore Cacciola, ex-dono do Marka, para chantagear Chico Lopes, elas foram gravadas de forma ilícita e não se sabe onde estão. Não temos como pedi-las", disse.
Segundo a reportagem, as gravações provariam que Lopes passava informações privilegiadas, posteriormente vendidas no mercado por Rubem Novaes.
"Caso elas apareçam, veremos o que fazer. É complicado utilizar algo ilegal como prova num processo", disse o procurador.
Para ele, os novos fatos divulgados pela revista "são gravíssimos", mas não há nada que justifique medidas mais graves, como o pedido de prisão de algum envolvido no suposto esquema.
O Ministério Público também pedirá a nota fiscal do aluguel de um jatinho da Líder Táxi Aéreo, utilizado por Bragança em setembro de 1998, época da crise russa, numa viagem do Rio para Brasília, onde aconteceria uma reunião do BC para discutir a taxa de juros. De acordo com a reportagem, ele teria viajado a pedido de Cacciola, com o aluguel da aeronave pago pelo Marka.
Para os procuradores, a viagem desmontaria a versão de que o ex-banqueiro só teria utilizado a ajuda de Luiz Bragança em 1999.


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