São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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Pactual foi um dos que mais lucraram em 99

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Pactual foi um dos bancos que mais lucraram na maxidesvalorização do real, em janeiro de 99, conduzida pelo ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes. Dois fundos administrados pelo Pactual também tiveram desempenho extraordinário na virada do câmbio. Um deles rendeu 725,6% apenas em janeiro.
Naquele mês, ele lucrou R$ 64,9 milhões -rentabilidade anualizada de 290% sobre o patrimônio líquido (dinheiro aplicado no banco por acionistas).
O desempenho extraordinário só foi possível porque o Pactual operou com agilidade e razoável grau de acerto na virada cambial. Os negócios foram fechados em dois mercados que negociam dólar: o futuro e o à vista.
Só as operações do banco na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) renderam R$ 98,2 milhões. O banco investiu no mercado futuro antes da desvalorização, quando o BC mantinha a cotação em R$ 1,21. No final do mês, a cotação disparou para R$ 1,98.
Reportagem publicada pela "Veja" neste final de semana aponta o Pactual como participante de um suposto esquema que recebia informações privilegiadas de Francisco Lopes.
Nas operações no mercado futuro de dólar, o Pactual apostou numa posição inversa à do Banco Marka, que quebrou em janeiro de 1999 por acreditar na manutenção da política cambial.
Os dados foram apresentados pelo deputado Aloizio Mercadante (PT-SP) à CPI dos Bancos, em 99, mas foram ignorados no relatório. Ele estaria entre as 24 instituições que mais lucraram.
Também chama a atenção a mudança repentina na estratégia do banco, antes da desvalorização, no mercado à vista de dólar -no qual se negocia a moeda dos EUA para entrega imediata.
Em 6 de janeiro, o Pactual tinha uma posição vendida de US$ 13,8 milhões. Ou seja, no início do mês a instituição achava bom negócio manter uma dívida em dólares e, portanto, apostava na queda da cotação da moeda dos EUA.
Em 12 de janeiro, véspera da desvalorização, o banco mudou radicalmente: ficou "comprado" em US$ 19,7 milhões, ou seja, assumiu compromisso de compra em contrato futuro, apostando numa alta da cotação da moeda.
A rentabilidade de 725,6% do Fundo de Renda Fixa Capital Estrangeiro do Pactual excede em muito a própria desvalorização do dólar, que ficou em 50,32% entre 13 e 29 de janeiro de 1999. Assim, um cliente que, por exemplo, aplicou R$ 1.000 saiu com R$ 8.256 no fim daquele mês.
O fundo Tetra de Capital Estrangeiro teve uma rentabilidade de 112,5% em janeiro de 1999. Seus cotistas conseguiram duplicar o capital aplicado.
"É preciso saber quem são os investidores desses fundos", afirma Mercadante. O principal perdedor nas operações no mercado futuro e à vista foi o BC, que fez vendas maciças de moeda para tentar manter o regime cambial.
A assessoria de imprensa do Pactual disse não ter localizado os dirigentes do banco.



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