São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Para promotoria, que vai recorrer, preventiva protegeria testemunhas

Juiz nega pedido de prisão de acusados de propina do PT

Tuca Vieira/Folha Imagem
O juiz Iasin Issa Ahmed, que rejeitou pedido de prisão de acusados


LILIAN CHRISTOFOLETTI
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça da 1ª Vara Criminal de Santo André rejeitou ontem o pedido de prisão do secretário de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira Souza e de outros cinco acusados de extorquir dinheiro de empresários da cidade para supostamente financiar campanhas políticas do PT.
Entre os acusados está Sérgio Gomes da Silva, que dirigia o carro em que estava o prefeito Celso Daniel, que foi morto, ao ser sequestrado, em janeiro. Os outros são: Ronan Maria Pinto, Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Nicolino Martin Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Junior.
O juiz da 1ª Vara, Iasin Issa Ahmed, também decidiu manter o sigilo no processo e estender a todos os réus a chamada defesa preliminar. O recurso é privilégio de funcionários públicos e significa que, antes de a denúncia ser recebida, o acusado tem 15 dias para preparar uma defesa escrita.
A Promotoria de Justiça Criminal de Santo André, que denunciou (acusou formalmente) os seis supostos envolvidos por formação de quadrilha e concussão (extorsão praticada por servidor público), informou que irá recorrer do indeferimento da prisão preventiva no Tribunal de Justiça de São Paulo.
O promotor titular do caso, Roberto Wider Filho, afirmou que irá recorrer apenas da recusa da prisão preventiva. "Concordamos com o juiz manter o segredo do processo", afirmou.
Segundo o promotor Amaro José Thomé Filho, a prisão preventiva era importante para proteger as testemunhas, principalmente porque Klinger e Sérgio Gomes, segundo depoimentos, exibiam armas de fogo para intimidar pessoas. Ontem, depois do indeferimento da prisão, os promotores começaram a articular a possibilidade de recorrer ao programa estadual de proteção à testemunha.
Um dos possíveis beneficiários é o médico João Francisco Daniel. Irmão do prefeito Celso Daniel, ele contou aos promotores que o dinheiro extorquido dos empresários de transporte era para financiamento de campanhas petistas. A informação, segundo ele, partiu de sua ex-cunhada Miriam Belchior e do ex-secretário de Governo Gilberto Carvalho.
"Procurei a Promotoria para perguntar sobre a possibilidade de ter segurança estatal. Mas, felizmente, não me sinto ameaçado no momento", disse João Francisco, que foi aconselhado a buscar uma segurança particular, caso necessário, enquanto não há uma resposta do Estado.

Perseguição
A Promotoria rechaçou qualquer insinuação de que a investigação sobre irregularidades na prefeitura petista de Santo André seja um instrumento de perseguição política contra a candidatura do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva.
"Só para começar, nenhum de nós é filiado a partidos políticos. A investigação começou a partir da morte do prefeito, em janeiro", disse um dos quatro promotores responsáveis pelo caso, José Reinaldo Guimarães Calheiro.
Os promotores informaram que, a partir da divulgação das denúncias, foram procurados por pelo menos cinco pessoas que confirmaram o suposto recolhimento de propina. Dessas cinco, pelo menos quatro pessoas, ainda segundo os promotores, são de alguma forma ligadas ao PT.
Os promotores, que desde o início da apuração dividem uma mesma sala abarrotada com cerca de 60 mil documentos, têm ainda quatro vertentes de investigação- além da suposta extorsão das empresas de transporte. Apuram irregularidades em licitações de empresas de lixo, em obras públicas e no setor de vigilância e de segurança de Santo André.


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