São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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Petebista diz que soube de esquema ao ser "obrigado" a deixar empresa

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Duílio Pisaneschi (PTB-SP), 62, diz que soube do esquema de propina em Santo André depois que foi obrigado, pelo ex-secretário de Transportes Klinger de Oliveira e por Ronan Maria Pinto, a vender sua parte na Viação São José.
Representante do setor de transportes, o deputado não denunciou o fato na época. Alegou que tinha sido apenas uma conversa com o ex-sócio, Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho: "Ele me disse que teria de pagar pedágio".
"Eles queriam ser donos do transporte total da cidade." Pisaneschi desistiu de sair candidato a prefeito de Santo André em 2000, quando Celso Daniel foi reeleito.
 

Folha - É verdade que o sr. teria articulado o levantamento de dados para as denúncias?
Duílio Pisaneschi
- Não é verdade. Fui convocado para depor no processo, falei tudo o que sabia. Vários setores prejudicados fizeram dossiês. Recebi pelo correio.

Folha - Opositor do ex-prefeito e empresário com interesses contrariados, essa condição não comprometeria o seu depoimento?
Pisaneschi
- Não. Eu estou estranhando essa pergunta. Eu era sócio da Viação São José havia mais de 30 anos. Fui obrigado a sair da sociedade, em 1994, quando fui eleito deputado. Fiz doação das minhas cotas para os meus filhos.

Folha - Eles têm participação?
Pisaneschi
- Tinham até 1998. Foi quando meu sócio me disse que o secretário [Klinger" e o Ronan, que era interlocutor dele, queriam que eu saísse da sociedade. Eu era da oposição e eles não tinham interesse em que eu participasse do transporte da cidade. Saí do negócio para evitar perseguição.

Folha - Quem fazia a pressão?
Pisaneschi
Klinger e Ronan.

Folha - Qual era a ameaça?
Pisaneschi
- Colocaram concorrentes nas linhas da empresa. Se eu estivesse na sociedade, iria denunciar o que eles cobravam.

Folha - Quando o sr. soube que a Viação São José dava dinheiro?
Pisaneschi
- Depois que eu saí. Meu sócio falou: "Olha, eu tenho que pagar um pedágio"...

Folha - Por que o sr. não denunciou o fato, na ocasião?
Pisaneschi
- Ele falou para mim conversando. Fiquei sabendo dos fatos verdadeiros quando fui depor, em março. Aí, teve o depoimento dele [do ex-sócio" e ficou caracterizado que realmente eles pagavam. Se eu estivesse lá dentro, teria a obrigação, como homem público, de denunciar.

Folha - O sr. achou que ele deveria continuar dando a propina?
Pisaneschi
- Nesses quatro anos, eles abusaram tanto que meu sócio ficou internado quatro meses na UTI, no ano passado, e, agora, mais um mês. Eles acabaram com a saúde de um homem íntegro, que tem uma empresa há 40 anos e que nunca teve esse problema.

Folha - Eles lhe pediram propina?
Pisaneschi
- Para mim, não.

Folha - Sobre a propina, há alguma documentação nos autos?
Pisaneschi
- Eu não sei dizer. Eu não conheço os autos. Sei que tem gente que levou documentos que caracterizaram pressão, achaque.

Folha - Há prova de que houve dinheiro desviado para o PT?
Pisaneschi
- Eu não sei. Como é que vou falar um negócio desses?

Folha - O sr. sabe por que a Viação São José está sob intervenção?
Pisaneschi
- Fiquei sabendo pelos jornais. Foi por causa de uma concorrência.

Folha - A prefeitura alega que a empresa tinha solicitado uma mudança ilegal na regras do contrato.
Pisaneschi
- Não tenho idéia.

Folha - Qual é a sua relação com o irmão do Celso Daniel? Ele fazia lobby para a empresa?
Pisaneschi
- Nenhuma relação. Estão inventando.


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