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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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Reforma é Robin Hood às avessas, diz professor do comando de greve

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Professor de geologia ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso e vice-presidente da Andes, entidade que representa os docentes, José Domingues Godoi Filho, 48, foi um dos defensores da proposta de greve dos servidores, batendo de frente com o presidente da CUT, Luiz Marinho.
No comando da greve convocada para o dia 8, Godoi Filho só vê uma chance de as universidades e até as aduanas deixarem de parar: Lula receber os servidores e o governo abrir negociação antes da plenária marcada para o dia 5.
O professor enxerga na reforma da Previdência dos servidores uma imposição do FMI: "O que está acontecendo na Previdência é um Robin Hood à avessas: cobrando uma taxa do trabalho para acumulação dos bancos". No seu caso pessoal, a reforma da Previdência tira do professor a perspectiva de se aposentar com o mesmo salário do fim da carreira. (MARTA SALOMON)
 

Folha - O sr. votou no Lula?
José Domingues Godoi Filho -
Votei, sempre votei no PT, tenho um primo metalúrgico como o Lula, que fundou o partido.

Folha - Aquela faixa com "Fora Lula" na manifestação dos servidores era um fato isolado ou o comando vai pelo mesmo caminho?
Godoi -
O "Fora Lula" era uma faixa isolada. Mas não há dúvida de que o governo está seguindo a mesma direção do anterior. Eu diria que, em alguns casos, está até aprofundando. O que nos surpreende é a velocidade com que houve essa adesão.

Folha - Já na campanha, Lula defendia um sistema único de aposentadoria, não é uma surpresa.
Godoi -
É, falava. Para quem estava atento não é novidade. Mas a maioria da população não via isso. E também era um momento de campanha.

Folha - Em qual momento as entidades decidiram fazer greve?
Godoi -
Nunca tivemos dúvida de que tínhamos de pagar para ver. Mas a coisa começou a ficar mais clara em março, com a carta ao FMI em que o governo se comprometia a aprovar a reforma da Previdência rapidamente. Naquele momento, o governo ainda dizia aos servidores que não havia proposta definida.

Folha - O comando de greve imagina que há alguma chance de o governo retirar a PEC-40 do Congresso? Ou a greve começa dia 8 de julho apostando num impasse?
Godoi -
Toda greve é um risco. A greve tem um pressuposto que é alterar a rota da reforma da Previdência. E há várias situações em que isso pode acontecer. O Congresso pode partir para uma discussão mais aprofundada, por exemplo. Agora não tem negociação: tem conversa, cafezinho quente, água geladinha, mas não avança. A posição do governo é discutir, desde que seja a sua proposta. Assim não vai ter jeito.
Está claro que a reforma é para fazer fundo de pensão, com o objetivo de passar o dinheiro do Estado para o capital financeiro. O que está acontecendo na Previdência é um Robin Hood às avessas: cobrando uma taxa do trabalho para acumulação dos bancos.

Folha - O discurso do governo aponta a aposentadoria integral do servidor como privilégio. O sr. se sente defendendo privilégios?
Godoi -
Se colocar na balança os trabalhadores da iniciativa privada e os funcionários, acaba ficando na mesma coisa. O servidor público não tem direito à hora extra. Nós não temos fundo de garantia. Não temos aposentadoria por invalidez.

Folha - Qual é a expectativa de adesão à greve?
Godoi -
A expectativa é a máxima possível. Vamos parar praticamente todas as universidades.

Folha - Julho não é mês de férias nas universidades e de recesso no Judiciário?
Godoi -
E deveria ser recesso do Congresso também. Como estão convocando os congressistas, também vamos ter de pôr gente nas ruas. E só 11 das 53 universidades estarão em férias em julho; as demais estarão ainda repondo aulas da greve de 2001. E as aduanas também vão parar. Uma coisa que vai pegar muito certamente é a paralisação dos fiscais. Corre o risco de travar o comércio exterior. O governo tem até dia 8 para fazer tudo o que não fez. A plenária do dia 5 não é para avaliar a greve. Mas, é claro, se o governo negocia, aí ninguém vai manter, embora isso pareça difícil.



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