Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reforma é Robin Hood às avessas, diz professor do comando de greve
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Professor de geologia ambiental
na Universidade Federal de Mato
Grosso e vice-presidente da Andes, entidade que representa os
docentes, José Domingues Godoi
Filho, 48, foi um dos defensores
da proposta de greve dos servidores, batendo de frente com o presidente da CUT, Luiz Marinho.
No comando da greve convocada para o dia 8, Godoi Filho só vê
uma chance de as universidades e
até as aduanas deixarem de parar:
Lula receber os servidores e o governo abrir negociação antes da
plenária marcada para o dia 5.
O professor enxerga na reforma
da Previdência dos servidores
uma imposição do FMI: "O que
está acontecendo na Previdência é
um Robin Hood à avessas: cobrando uma taxa do trabalho para acumulação dos bancos". No
seu caso pessoal, a reforma da
Previdência tira do professor a
perspectiva de se aposentar com o
mesmo salário do fim da carreira.
(MARTA SALOMON)
Folha - O sr. votou no Lula?
José Domingues Godoi Filho -
Votei, sempre votei no PT, tenho
um primo metalúrgico como o
Lula, que fundou o partido.
Folha - Aquela faixa com "Fora
Lula" na manifestação dos servidores era um fato isolado ou o comando vai pelo mesmo caminho?
Godoi - O "Fora Lula" era uma
faixa isolada. Mas não há dúvida
de que o governo está seguindo a
mesma direção do anterior. Eu diria que, em alguns casos, está até
aprofundando. O que nos surpreende é a velocidade com que
houve essa adesão.
Folha - Já na campanha, Lula defendia um sistema único de aposentadoria, não é uma surpresa.
Godoi - É, falava. Para quem estava atento não é novidade. Mas a
maioria da população não via isso. E também era um momento
de campanha.
Folha - Em qual momento as entidades decidiram fazer greve?
Godoi - Nunca tivemos dúvida
de que tínhamos de pagar para
ver. Mas a coisa começou a ficar
mais clara em março, com a carta
ao FMI em que o governo se comprometia a aprovar a reforma da
Previdência rapidamente. Naquele momento, o governo ainda dizia aos servidores que não havia
proposta definida.
Folha - O comando de greve imagina que há alguma chance de o
governo retirar a PEC-40 do Congresso? Ou a greve começa dia 8 de
julho apostando num impasse?
Godoi - Toda greve é um risco. A
greve tem um pressuposto que é
alterar a rota da reforma da Previdência. E há várias situações em
que isso pode acontecer. O Congresso pode partir para uma discussão mais aprofundada, por
exemplo. Agora não tem negociação: tem conversa, cafezinho
quente, água geladinha, mas não
avança. A posição do governo é
discutir, desde que seja a sua proposta. Assim não vai ter jeito.
Está claro que a reforma é para
fazer fundo de pensão, com o objetivo de passar o dinheiro do Estado para o capital financeiro. O
que está acontecendo na Previdência é um Robin Hood às avessas: cobrando uma taxa do trabalho para acumulação dos bancos.
Folha - O discurso do governo
aponta a aposentadoria integral
do servidor como privilégio. O sr. se
sente defendendo privilégios?
Godoi - Se colocar na balança os
trabalhadores da iniciativa privada e os funcionários, acaba ficando na mesma coisa. O servidor
público não tem direito à hora extra. Nós não temos fundo de garantia. Não temos aposentadoria
por invalidez.
Folha - Qual é a expectativa de
adesão à greve?
Godoi - A expectativa é a máxima possível. Vamos parar praticamente todas as universidades.
Folha - Julho não é mês de férias
nas universidades e de recesso no
Judiciário?
Godoi - E deveria ser recesso do
Congresso também. Como estão
convocando os congressistas,
também vamos ter de pôr gente
nas ruas. E só 11 das 53 universidades estarão em férias em julho;
as demais estarão ainda repondo
aulas da greve de 2001. E as aduanas também vão parar. Uma coisa
que vai pegar muito certamente é
a paralisação dos fiscais. Corre o
risco de travar o comércio exterior. O governo tem até dia 8 para
fazer tudo o que não fez. A plenária do dia 5 não é para avaliar a
greve. Mas, é claro, se o governo
negocia, aí ninguém vai manter,
embora isso pareça difícil.
Texto Anterior: Funcionalismo quer eliminação de proposta Próximo Texto: Janio de Freitas: O erro Índice
|