São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Mensalão pode se repetir em eventual 2º mandato de Lula, avaliam analistas

DA REDAÇÃO

Apesar da repercussão de três CPIs (Bingos, Correios e Mensalão), cientistas políticos dizem acreditar que episódios de corrupção como o mensalão podem se repetir em um eventual segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fábio Wanderley Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) diz esperar turbulências na governabilidade em um possível segundo mandato petista. "Teríamos uma oposição frustrada, que apostou suas fichas nas CPIs e que inclusive recuou do impeachment, julgando que ele não seria necessário", afirma.
Com isso, estaria montado o cenário para um "replay" do mensalão. "Certamente vai haver mais temor e cuidado, mas não excluo que mecanismos do mesmo tipo [do mensalão] continuem a ser utilizados. Não vejo razão para excluir a continuidade das ilegalidades."
Luciano Dias, pesquisador do Ibep (Instituto Brasileiro de Pesquisas Políticas), é mais incisivo. "Não há identidade político-ideológica entre o PT e sua coalizão, vamos ter mais modalidades de mensalão, talvez de forma mais inteligente, menos vulnerável. Mas não tenho dúvida de que mecanismos semelhantes voltarão a ser usados."
Já Renato Lessa, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), é menos pessimista sobre as alianças. "As coalizões serão menos criminosas por estar sob olhar atento da Justiça e do Ministério Público", aponta.

Resultados
Dias, que diz acreditar em punição dos mensaleiros pelas urnas, vê como positiva a conexão que as CPIs criaram com o Ministério Público. "Por muito tempo, as CPIs ficaram marcadas pela imagem de operações estritamente políticas, muitas vezes inconseqüentes, com pouco amparo legal."
Para Lessa, no entanto, o Brasil não ficou mais transparente e não houve esclarecimento público suficiente. "As CPIs são excessivas, histriônicas e provocam saturação de informações. A idéia é produzir o máximo de efeitos políticos imediatos, o máximo de barulho e não de investigação."
Para Rogério Schmitt, da consultoria Tendências, as CPIs tiveram resultado "frustrante" e isso permite que a história se repita. "Foi um final bastante melancólico. As CPIs apresentaram poucas propostas práticas para que fenômenos como esse [o mensalão] se repitam no futuro. Não me parece que as instituições brasileiras estejam mais imunes [do que antes] a esses episódios."
Reis diz acreditar que "o grosso do eleitorado popular, que decide as eleições, é desatento às investigações. "As denúncias reforçam a idéia de que todos são iguais e de que práticas como o caixa dois atingem todo mundo. Já que é assim, o grosso da população pensa: "Vamos votar no que parece ser mais parecido conosco"."
(BRUNO LIMA e MARCELA CAMPOS)


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