São Paulo, sábado, 22 de julho de 2000


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ELEIÇÕES
Políticos se reúnem numa festa em homenagem ao religioso no interior; organização espera reunir 3.000 pessoas
Candidatos buscam apoio de Moon em MS

CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JARDIM

O reverendo Moon virou cabo eleitoral disputado na eleição de Mato Grosso do Sul. Hoje, em uma festa que vai ocorrer em Jardim (MS), pelo menos quatro candidatos a prefeito e 34 a vereador de cidades da região vão estar presentes para homenageá-lo.
O coreano Sun Myung Moon está montando um verdadeiro império de terras e rede assistencial no Estado (leia texto nesta página).
Os nomes dos políticos não foram revelados pelos organizadores que esperam reunir mais de 3.000 pessoas.
Além dos candidatos, vários prefeitos e secretários de cidades de Mato Grosso do Sul também foram convidados.
A festa vai ocorrer na fazenda New Hope, base da Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial, a organização internacional chefiada pelo reverendo.
O evento marca os dois anos do projeto New Hope, que é a base de formação dos missionários da associação. O reverendo chegou ontem a Jardim para participar da festa, mas não quis dar entrevista.
Polêmico, Moon foi preso, em 1985, nos Estados Unidos, acusado de sonegação fiscal. Abandonou seus negócios no país. No Brasil, uma comissão de deputados também investiga a origem do dinheiro dos investimentos em Mato Grosso do Sul (leia textos nesta página).
Segundo a professora Célia Regina Zadusk, uma das coordenadoras da associação, o reverendo Moon não apóia políticos.
No entanto, ela revelou que equipamentos hospitalares foram prometidos a dois candidatos para equipar hospitais de cidades próximas a Jardim. A doação é uma prática antiga da associação. Em 1995, foram doadas 29 ambulâncias a prefeitos do Estado.
"Só falta resolver questões burocráticas, os equipamentos vão ser doados por entidades do Japão", disse Célia, que não quis dizer que material seria doado nem os nomes dos candidatos beneficiados.
Neudir Simão Ferabolli, conferencista e gerente do projeto New Hope, disse que "pedir não é proibido", referindo-se aos supostos assédios que a Associação das Famílias estaria recebendo de políticos da região.
Ferabolli disse que o reverendo Moon "jamais" vai doar dinheiro para bancar campanhas políticas. "O único apoio permitido pela nossa associação é o voto. Ainda assim, orientamos nossos integrantes a optar pelo candidato que tem caráter, preserva a família, a honestidade", disse.
O assédio dos políticos começou em 1995, quando o reverendo decidiu investir na região. De 1995 para cá, o líder religioso coreano já investiu em Mato Grosso do Sul, segundo Ferabolli, cerca de US$ 65 milhões.
Com esse dinheiro, a associação de Moon adquiriu 50 propriedades rurais, principalmente nos municípios de Jardim, Miranda e Porto Murtinho. Atualmente, a associação é dona de 52 mil hectares de terras no Estado.
Além das fazendas, Moon tem aplicado dinheiro na compra de pequenos terrenos nas cidades de Guia Lopes da Laguna e Jardim, cidade onde a associação comanda uma marcenaria.
De acordo com Neudir Ferabolli, que há 21 anos é integrante da Associação das Famílias, o grupo de Moon pretende adquirir até dezembro desse ano pelo menos 10 mil cabeças de gado.
Mas até agora o projeto original da associação ainda não foi posto em prática. O reverendo Moon, que visitou a região pela primeira vez em 1994, anunciou na época que iria adquirir as propriedades para criar projetos agroindustriais, explorar o turismo e criar uma universidade para estudar a biodiversidade do Pantanal.
"Eles não explicaram até agora porque adquiriram tantas propriedades. Não sabemos nada sobre o projeto do líder coreano", disse o vice-prefeito de Jardim, Evandro Bazzo (PFL).
O coordenador do projeto de Moon disse que a demora na execução dos projetos tem uma explicação. O reverendo estaria preocupado com a questão política da península coreana. "Ele (Moon) está muito empenhado na luta pela reunificação de sua terra natal", disse Ferabolli, em referência ao diálogo entre as Coréias do Sul e do Norte.
A maior propriedade adquirida pela Associação das Famílias no Estado fica no município de Bodoquena, na região do Pantanal. Moon comprou a fazenda Harmonia, de 12 mil hectares. O valor do negócio não foi revelado, mas, segundo o coordenador, "custou barato".
Essa área, que era propriedade do senador Lúdio Coelho (PSDB), está localizada em uma região que pode ser tombada para ser transformada em área de preservação ambiental. O movimento de Moon defende os interesses dos fazendeiros que possuem área na região, que são contra a criação do parque nacional.
"Acho que cada proprietário devia preservar o meio ambiente de sua área", disse o gerente da New Hope.
Essa posição já motivou protestos de ONGs (organizações não-governamentais) do Estado.
A última aquisição do movimento de Moon no município de Jardim foi a criação de um time de futebol, o Cene (Centro Esportivo Nova Esperança). O clube, criado nesse ano, já disputou um campeonato estadual, ficando em nono lugar.


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