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ELEIÇÕES
Políticos se reúnem numa festa em homenagem ao religioso no interior; organização espera reunir 3.000 pessoas
Candidatos buscam apoio de Moon em MS
CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JARDIM
O reverendo Moon virou cabo
eleitoral disputado na eleição de
Mato Grosso do Sul. Hoje, em
uma festa que vai ocorrer em Jardim (MS), pelo menos quatro
candidatos a prefeito e 34 a vereador de cidades da região vão estar
presentes para homenageá-lo.
O coreano Sun Myung Moon
está montando um verdadeiro
império de terras e rede assistencial no Estado (leia texto nesta página).
Os nomes dos políticos não foram revelados pelos organizadores que esperam reunir mais de
3.000 pessoas.
Além dos candidatos, vários
prefeitos e secretários de cidades
de Mato Grosso do Sul também
foram convidados.
A festa vai ocorrer na fazenda
New Hope, base da Associação
das Famílias para Unificação e
Paz Mundial, a organização internacional chefiada pelo reverendo.
O evento marca os dois anos do
projeto New Hope, que é a base de
formação dos missionários da associação. O reverendo chegou ontem a Jardim para participar da
festa, mas não quis dar entrevista.
Polêmico, Moon foi preso, em
1985, nos Estados Unidos, acusado de sonegação fiscal. Abandonou seus negócios no país. No
Brasil, uma comissão de deputados também investiga a origem
do dinheiro dos investimentos
em Mato Grosso do Sul (leia textos nesta página).
Segundo a professora Célia Regina Zadusk, uma das coordenadoras da associação, o reverendo
Moon não apóia políticos.
No entanto, ela revelou que
equipamentos hospitalares foram
prometidos a dois candidatos para equipar hospitais de cidades
próximas a Jardim. A doação é
uma prática antiga da associação.
Em 1995, foram doadas 29 ambulâncias a prefeitos do Estado.
"Só falta resolver questões burocráticas, os equipamentos vão
ser doados por entidades do Japão", disse Célia, que não quis dizer que material seria doado nem
os nomes dos candidatos beneficiados.
Neudir Simão Ferabolli, conferencista e gerente do projeto New
Hope, disse que "pedir não é proibido", referindo-se aos supostos
assédios que a Associação das Famílias estaria recebendo de políticos da região.
Ferabolli disse que o reverendo
Moon "jamais" vai doar dinheiro
para bancar campanhas políticas.
"O único apoio permitido pela
nossa associação é o voto. Ainda
assim, orientamos nossos integrantes a optar pelo candidato
que tem caráter, preserva a família, a honestidade", disse.
O assédio dos políticos começou em 1995, quando o reverendo
decidiu investir na região. De 1995
para cá, o líder religioso coreano
já investiu em Mato Grosso do
Sul, segundo Ferabolli, cerca de
US$ 65 milhões.
Com esse dinheiro, a associação
de Moon adquiriu 50 propriedades rurais, principalmente nos
municípios de Jardim, Miranda e
Porto Murtinho. Atualmente, a
associação é dona de 52 mil hectares de terras no Estado.
Além das fazendas, Moon tem
aplicado dinheiro na compra de
pequenos terrenos nas cidades de
Guia Lopes da Laguna e Jardim,
cidade onde a associação comanda uma marcenaria.
De acordo com Neudir Ferabolli, que há 21 anos é integrante da
Associação das Famílias, o grupo
de Moon pretende adquirir até
dezembro desse ano pelo menos
10 mil cabeças de gado.
Mas até agora o projeto original
da associação ainda não foi posto
em prática. O reverendo Moon,
que visitou a região pela primeira
vez em 1994, anunciou na época
que iria adquirir as propriedades
para criar projetos agroindustriais, explorar o turismo e criar
uma universidade para estudar a
biodiversidade do Pantanal.
"Eles não explicaram até agora
porque adquiriram tantas propriedades. Não sabemos nada sobre o projeto do líder coreano",
disse o vice-prefeito de Jardim,
Evandro Bazzo (PFL).
O coordenador do projeto de
Moon disse que a demora na execução dos projetos tem uma explicação. O reverendo estaria
preocupado com a questão política da península coreana. "Ele
(Moon) está muito empenhado
na luta pela reunificação de sua
terra natal", disse Ferabolli, em
referência ao diálogo entre as Coréias do Sul e do Norte.
A maior propriedade adquirida
pela Associação das Famílias no
Estado fica no município de Bodoquena, na região do Pantanal.
Moon comprou a fazenda Harmonia, de 12 mil hectares. O valor
do negócio não foi revelado, mas,
segundo o coordenador, "custou
barato".
Essa área, que era propriedade
do senador Lúdio Coelho (PSDB),
está localizada em uma região que
pode ser tombada para ser transformada em área de preservação
ambiental. O movimento de
Moon defende os interesses dos
fazendeiros que possuem área na
região, que são contra a criação
do parque nacional.
"Acho que cada proprietário
devia preservar o meio ambiente
de sua área", disse o gerente da
New Hope.
Essa posição já motivou protestos de ONGs (organizações não-governamentais) do Estado.
A última aquisição do movimento de Moon no município de
Jardim foi a criação de um time de
futebol, o Cene (Centro Esportivo
Nova Esperança). O clube, criado
nesse ano, já disputou um campeonato estadual, ficando em nono lugar.
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