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CRISE NO ESPÍRITO SANTO
Superintendente da Polícia Rodoviária Federal foi filiado à organização de 1988 até 1989
Membro da força-tarefa foi sócio da Le Cocq
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
Integrante da cúpula da missão
especial convocada pelo governo
federal para combater o crime organizado no Espírito Santo, João
Adilson Scalfoni, superintendente da Polícia Rodoviária Federal,
já foi filiado à Scuderie Detetive Le
Cocq, a organização acusada de
estar por trás das principais ações
criminosas no Estado.
Scalfoni é integrante de um grupo seleto que participou, na quarta-feira passada, da reunião, em
Vila Velha (ES), que definiu a estratégia da missão especial.
A Polícia Rodoviária Federal será uma das primeiras a receber reforço do efetivo e investimentos.
O próprio Scalfoni anunciou reforço de 50 homens para as fronteiras. "Nosso objetivo é impedir
a entrada e saída de mercadorias
ilegais", disse ele.
O procurador da República Ronaldo Albo, um dos integrantes
da missão, não sabia da participação do superintendente da Polícia
Rodoviária Federal no grupo.
"Nem todas as pessoas filiadas à
Scuderie têm ligação com o crime
organizado. Eu, particularmente,
não conheço nada que desabone a
conduta dele (Scalfoni), afirmou.
Para Albo, o fato de Scalfoni ter
sido membro da Scuderie só é um
problema se os integrantes da
missão especial não tiverem sido
informados. "Se ele agiu corretamente, comunicou às pessoas que
já pertenceu à organização. Do
contrário, agiu de má-fé."
Scalfoni afirma que não informou aos integrantes da missão especial que já foi sócio da Scuderie
"porque ninguém perguntou"
(leia texto nesta página).
Arquivos
O nome de Scalfoni consta nos
arquivos da Scuderie como o filiado número 263 na filial capixaba.
Ele pertenceu à organização de 88
até o final de 89.
As fichas cadastrais da organização foram obtidas pelo investigador da Polícia Civil Francisco
Badenes Júnior, em 1993. Por
meio de mandado judicial, o detetive teve acesso aos arquivos na
sede da entidade. Hoje Badenes
faz parte do Programa Nacional
de Proteção à Testemunha.
Fundada como entidade filantrópica em 1984, a Scuderie é
apontada pelo Ministério Público
como o braço armado do crime
organizado capixaba (leia texto
nesta página).
A missão especial foi constituída pelo novo ministro da Justiça,
Paulo de Tarso Ribeiro. A reunião
da última quarta-feira, na sede da
Polícia Federal, em Vila Velha, foi
a primeira do grupo. Dela participaram representantes da Polícia
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Abin (Agência Brasileira de
Inteligência), Procuradoria da
República e Receita Federal, somando nove pessoas.
O objetivo foi organizar a forma
de atuação das diversas instituições que fazem parte da operação,
além de definir metas. "Nosso trabalho será basicamente de inteligência", disse o superintendente
da PF capixaba, Tito Corrêa.
Foram deslocados para o Espírito Santo 50 policiais federais,
cinco delegados e dois peritos.
Cinco procuradores da República
também integram o grupo, mas
ainda não estão no Estado, com
exceção de Henrique Herkenhoff,
procurador-chefe no Estado.
Para o coordenador do Laboratório de Estudos Políticos da Universidade Federal do Espírito
Santo, o doutor em sociologia Alberto Tosi, a missão especial terá
resultados nulos.
"Ela ainda vai atrapalhar porque confunde o problema capixaba com o carioca. O problema
aqui é a infiltração do crime organizado nas instâncias administrativas estaduais", disse".
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