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NEO-OPOSIÇÃO
Tucano diz que um dos "choques" que teve na política foi a necessidade de ter contato físico com as pessoas
FHC sugere "função" para ex-presidentes
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernando Henrique Cardoso
defendeu ontem a "valorização"
da figura de ex-presidente ao fazer, em público, um amplo balanço de sua gestão, que abrangeu
desde comentários sobre demissões de ministros até uma avaliação sobre a "solidão do poder".
"Por que não criar uma função
de ex-presidente?", perguntou ele,
ao citar o ex-presidente dos EUA
Jimmy Carter (1977-1981), diretor
do Centro Carter, que, entre outras ações de política internacional, envolveu-se nas negociações
de paz para a Venezuela.
FHC descartou uma eventual
volta ao poder ao dizer que o papel de um ex-presidente não é "fazer sombra para os companheiros
de partido" candidatando-se a algum cargo, mas ser alguém que
dê "conselhos" para o presidente
em exercício e que participe do
debate público.
A avaliação de FHC foi feita durante uma aula magna para cerca
de 300 pessoas na Unisa (Universidade de Santo Amaro), em São
Paulo. Segundo a assessoria de
imprensa do evento, o ex-presidente aceitou um convite da instituição e não cobrou pela aula. A
assessoria do ex-presidente disse
que o "mais provável" é que ele tenha sido remunerado pela aula,
mas não divulgou os valores.
Minutos antes da palestra, FHC
disse, em entrevista à rádio Jovem
Pan, que não pretende "entrar no
dia-a-dia" da política, apesar de
encontros com parlamentares de
oposição ao governo Lula.
FHC declarou ainda que "o sociólogo aprendeu muito com o
político". E que um dos "choques" que teve quando começou a
atuar na política, nos anos 80, foi a
"relação física", o contato com as
pessoas que o cargo demandava.
"Eu não tinha o hábito de ser tocado. A relação física era extremamente difícil. As pessoas abraçavam, beijavam. Agora ninguém
mais dá [abraços e beijos]", disse,
para completar: "Tudo se aprende. Ninguém nasce político".
Para ele, uma das coisas mais difíceis que aprendeu foi "ouvir desaforo e ficar calado": "Para alguém da academia, ouvir desaforo e não responder é difícil".
FHC admitiu que, no convívio
com os ministros, há "um pouco
de competição", mas que o papel
do presidente é mediá-la. "Diziam que a minha vaidade era
maior que a deles", brincou.
Ele afirmou que, muitas vezes,
amigos dele se envolviam nessas
disputas e que, na hora de tomar
partido, tinha de optar pela demissão: "Às vezes, é alguém a
quem devemos lealdade e amizade. Fica uma mágoa. Esses são os
ônus da liderança".
Ao comentar a relação com outros políticos e ministros, disse
que, com o presidente, "não tem
valente, só com a imprensa ou no
Congresso".
O ex-presidente afirmou também que espera um pouco ansioso pelo julgamento da história,
mas que isso só deve ocorrer depois que ele estiver morto. Avaliou que o julgamento dos ex-presidentes é feito de maneira diferente e citou o caso de Getúlio
Vargas, "endeusado", que se matou com um tiro no peito em 1954.
"Fiz coisas contra a minha vontade, mas não contra a minha consciência", declarou.
FHC falou sobre a "solidão do
poder". Disse que o presidente vive cercado de "gente que fala
aquilo que ele quer ouvir". A verdadeira "solidão do poder", disse,
é a que ocorre nos momentos em
que tem de tomar uma decisão.
"Nesse momento [de decisão],
você tem de estar isolado para ouvir a sua consciência."
Prefeitura
O tucano afirmou, em entrevista à rádio, que o ex-ministro José
Serra é o candidato "mais forte
eleitoralmente" para disputar a
prefeitura paulistana em 2004.
"Para isso, ele precisa desejar. Eu
sei o que é ser candidato sem querer ser", disse, sobre a disputa pela
Prefeitura de São Paulo em 1985.
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