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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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NEO-OPOSIÇÃO

Tucano diz que um dos "choques" que teve na política foi a necessidade de ter contato físico com as pessoas

FHC sugere "função" para ex-presidentes

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem a "valorização" da figura de ex-presidente ao fazer, em público, um amplo balanço de sua gestão, que abrangeu desde comentários sobre demissões de ministros até uma avaliação sobre a "solidão do poder".
"Por que não criar uma função de ex-presidente?", perguntou ele, ao citar o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-1981), diretor do Centro Carter, que, entre outras ações de política internacional, envolveu-se nas negociações de paz para a Venezuela.
FHC descartou uma eventual volta ao poder ao dizer que o papel de um ex-presidente não é "fazer sombra para os companheiros de partido" candidatando-se a algum cargo, mas ser alguém que dê "conselhos" para o presidente em exercício e que participe do debate público.
A avaliação de FHC foi feita durante uma aula magna para cerca de 300 pessoas na Unisa (Universidade de Santo Amaro), em São Paulo. Segundo a assessoria de imprensa do evento, o ex-presidente aceitou um convite da instituição e não cobrou pela aula. A assessoria do ex-presidente disse que o "mais provável" é que ele tenha sido remunerado pela aula, mas não divulgou os valores.
Minutos antes da palestra, FHC disse, em entrevista à rádio Jovem Pan, que não pretende "entrar no dia-a-dia" da política, apesar de encontros com parlamentares de oposição ao governo Lula.
FHC declarou ainda que "o sociólogo aprendeu muito com o político". E que um dos "choques" que teve quando começou a atuar na política, nos anos 80, foi a "relação física", o contato com as pessoas que o cargo demandava.
"Eu não tinha o hábito de ser tocado. A relação física era extremamente difícil. As pessoas abraçavam, beijavam. Agora ninguém mais dá [abraços e beijos]", disse, para completar: "Tudo se aprende. Ninguém nasce político".
Para ele, uma das coisas mais difíceis que aprendeu foi "ouvir desaforo e ficar calado": "Para alguém da academia, ouvir desaforo e não responder é difícil".
FHC admitiu que, no convívio com os ministros, há "um pouco de competição", mas que o papel do presidente é mediá-la. "Diziam que a minha vaidade era maior que a deles", brincou.
Ele afirmou que, muitas vezes, amigos dele se envolviam nessas disputas e que, na hora de tomar partido, tinha de optar pela demissão: "Às vezes, é alguém a quem devemos lealdade e amizade. Fica uma mágoa. Esses são os ônus da liderança".
Ao comentar a relação com outros políticos e ministros, disse que, com o presidente, "não tem valente, só com a imprensa ou no Congresso".
O ex-presidente afirmou também que espera um pouco ansioso pelo julgamento da história, mas que isso só deve ocorrer depois que ele estiver morto. Avaliou que o julgamento dos ex-presidentes é feito de maneira diferente e citou o caso de Getúlio Vargas, "endeusado", que se matou com um tiro no peito em 1954. "Fiz coisas contra a minha vontade, mas não contra a minha consciência", declarou.
FHC falou sobre a "solidão do poder". Disse que o presidente vive cercado de "gente que fala aquilo que ele quer ouvir". A verdadeira "solidão do poder", disse, é a que ocorre nos momentos em que tem de tomar uma decisão. "Nesse momento [de decisão], você tem de estar isolado para ouvir a sua consciência."

Prefeitura
O tucano afirmou, em entrevista à rádio, que o ex-ministro José Serra é o candidato "mais forte eleitoralmente" para disputar a prefeitura paulistana em 2004. "Para isso, ele precisa desejar. Eu sei o que é ser candidato sem querer ser", disse, sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo em 1985.


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