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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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Oposição adota manobras do PT para suspender sessão na Câmara

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Oposição é platéia, governo é placar", conformava-se o tucano Eduardo Paes (RJ), antevendo, às 8h, que seu grupo acabaria sendo derrotado pelos aliados do Planalto depois de um dia inteiro de longos discursos, apelos e manobras protelatórias.
Às 10h40, a "platéia", atônita com o próprio sucesso inesperado, comemorava a decisão do deputado Mussa Demes (PFL-PI) de suspender a sessão por falta de quórum -uma derrota imposta ao governo petista com técnicas que fizeram a fama do PT nos tempos de oposição.
Se pefelistas e tucanos tinham uma estratégia para evitar a aprovação da reforma tributária na sessão da comissão encarregada de analisar o projeto, nem precisaram colocá-la em prática. O que fizeram não foi mais que uma peça, um trote aos governistas.
Paes, por exemplo, gabava-se de ter distraído a governista Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) com uma fingida defesa dos incentivos da Zona Franca de Manaus. A conversa teria impedido a deputada de registrar presença.
A oposição havia se preparado para uma disputa longa. Começou a chegar às 7h15, muito antes do início da sessão, marcado para as 9h, mas que, pela praxe, acontece entre as 10h e as 10h30.
Os seis pefelistas e os cinco tucanos da comissão dividiram entre si os primeiros lugares na lista de oradores. Pelo regimento, a votação pode começar depois de dez discursos (cinco contra e cinco a favor do projeto). A oposição faria, portanto, os discursos contrários e também os "favoráveis".

Questão inusitada
O clima se manteve ameno até as 9h30, quando Eduardo Paes e Pauderney Avelino (PFL-AM) desencavaram regras esquecidas do regimento interno da Câmara e fizeram a Demes o inusitado pedido de cancelamento da sessão por falta de quórum.
Argumentaram que, transcorrida meia hora do horário fixado para o início da sessão, era preciso haver pelo menos 19 presenças registradas -e só havia 15, dos 38 membros da comissão.
Os governistas se queixaram: os oposicionistas não haviam registrado presença, embora estivessem inscritos para falar e apresentando questões de ordem.
O próprio Demes não havia assinado a lista. "Esqueci", disse ele, ao decidir pelo cancelamento.
A decisão enfureceu os aliados. O deputado Professor Luizinho (PT-SP), vice-líder do governo, deixou a comissão bradando: "O Mussa é um traidor. O PFL não vai tomar conta da comissão".
Ao lado de um grupo de pefelistas, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), retrucou: "O PT tem de aprender que aqui há regimento. Não há rolo compressor".
"Na minha opinião, a comissão não tem como continuar. Ela foi partidarizada", atacou Carlito Merrs (PT-SC), defendendo a destituição dos membros da comissão, para levar o projeto diretamente ao plenário da Câmara.
O petista Paulo Bernardo (PR) reeditou uma frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao dizer que pefelistas e tucanos faziam "oposição ao país". Mas teve bom humor: "Vou comprar 20 despertadores para a nossa bancada". (GP)


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