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JULGAMENTO NA CÂMARA
Cassar sem prova é "tirania", diz Dirceu
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Após prestar depoimento a
portas fechadas à Corregedoria da
Câmara, o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) afirmou ontem não
haver provas que o vinculem ao
"mensalão" e que, nesse caso, um
"julgamento político" contra ele
será um ato de "tirania".
"Não há provas contra mim, a
não ser que seja um julgamento
político, que seja para me cassar
por me cassar, que seja para me
banir da vida política do país e me
afastar do PT. Todo julgamento
político tem que ter provas, se não
estamos na ditadura, na tirania. A
maioria pode fazer o que quiser
com a minoria", disse o deputado.
Acompanhado do seu advogado, José Luis de Oliveira Lima, o
ex-ministro disse ao concluir o
depoimento que poderia resumir
sua situação em três pontos: "Em
primeiro lugar não há provas
contra mim. Segundo, que estou
sendo prejulgado, e, em terceiro
lugar, quero justiça".
Dirceu prestou depoimento por
mais de uma hora à comissão de
sindicância responsável por ouvir
a defesa dos 16 parlamentares
acusados de serem beneficiários
do esquema do "mensalão". Após
ouvir os acusados, a comissão remeterá as defesas à Mesa Diretora, que as repassará ao Conselho
de Ética, responsável pela abertura de processos de cassação contra os deputados.
A portas fechadas, Dirceu pediu
aos deputados que seu caso fosse
analisado em separado e reclamou que relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), "colocou afirmações na boca" de testemunhas. Ao deixar a
sala, reafirmou as críticas ao relator em entrevista.
"O relator Osmar Serraglio e as
CPIs colocaram na boca da dona
Renilda de Souza [mulher de Valério] e do senhor Marcos Valério
[acusado de ser o operador do
"mensalão'] afirmações que eles
nunca fizeram", disse.
"[O relator] Diz que ele [Valério] participou de reuniões comigo e com os bancos, e ele [Valério]
nunca disse isso; que eu teria conhecimento que os recursos iam
para parlamentares, e eu não só
não disse como ele nunca disse
que os recursos iam para parlamentares. Ele disse que os recursos iam para campanhas eleitorais. E o mais grave: que eu tinha
conhecimento dos empréstimos,
ele disse que o senhor Delúbio havia lhe afirmado, e o senhor Delúbio nega isso", disse.
Dirceu afirmou também que
não renunciará ao mandato e que
as CPIs e o Conselho de Ética "cairão em contradição" caso ele seja
punido, pois um dos motivos que
culminaram na cassação de Roberto Jefferson foi a não comprovação do "mensalão" nos moldes
denunciados pelo petebista.
Ele afirmou acreditar que os deputados o julgarão "a partir de
provas", caso contrário o país "caminhará para uma situação de
instabilidade política e social".
Ele criticou ainda o fato de o
Conselho de Ética ter aprovado
uma resolução que proíbe a retirada de processos de cassação em
andamento, como é o seu caso,
antes de o PTB oficializar a retirada do requerimento. "Salta à vista
que isso é uma violência, uma arbitrariedade."
À revelia da decisão aprovada
pelo Conselho, o presidente do
PTB, Flávio Martinez, protocolou
ontem um pedido de retirada dos
processos de cassação contra Dirceu e Sandro Mabel (PL-GO). O
impasse terá de ser resolvido pela
Mesa Diretora, que tem poderes
para anular a decisão do Conselho ou referendá-la.
No ofício, o presidente do PTB
argumentou que o objeto do processo já é investigado pelas CPIs e
que "as duas comissões possuem
elementos mais amplos e originários de procedimentos de apuração mais eficazes".
(SILVIO NAVARRO)
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