São Paulo, quinta, 22 de outubro de 1998

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JANIO DE FREITAS
Triângulo das Bermudas

A apenas três dias do segundo turno, as pesquisas estão sugerindo vitórias que, a se confirmarem, invalidam as análises feitas com base nos resultados do primeiro turno. A partir dessas vitórias, o cenário político tende a mudar radicalmente, com uma nova divisão de forças e uma situação até agora não experimentada por Fernando Henrique Cardoso.
No Rio, em Minas e no Rio Grande do Sul os candidatos apoiados por Fernando Henrique figuram nas pesquisas em situações que, normalmente, já não teriam nem tempo para inverter-se. Mesmo no Sul, onde Antônio Britto lança-se em esforços desesperados, com substituição do marqueteiro-mor, envolvimento de empresas em pressões sociais e econômicas, e outras tentativas de mágica, as pesquisas não recomendam aposta na virada contra Olívio Dutra.
A tomada de posição de Fernando Henrique contra Itamar Franco, em Minas, não foi só um ato injustificável, do ponto de vista ético, com quem lhe deu a oportunidade de ser presidente. O Itamar Franco que continuaria a ser, muito provavelmente, o magoado sem vontade de confronto, já está forçado a ser, como governador, um adversário duro de quem investiu para vê-lo derrotado.
Anthony Garotinho, vindo do interior, sabe que não terá base na política e na vida do Rio, o que é, por si só, sinal de alerta. Até agora mostra-se um temperamento mais tolerante e não conflituoso. Mas, na sua situação, isso não será vantagem. Caso não se bata em defesa própria e do seu governo, ficará acuado pelo governo federal e pelo oficialismo fluminense, com o conservadorismo empresarial à frente.
Minas com Itamar, o Rio Grande com o petista Olívio Dutra e o Rio com o pedetista Garotinho ficam destinados a aliar-se. E a formar, assim, um conjunto de força suficiente para inaugurar o contraste político que o governo Fernando Henrique não teve ainda, dadas a docilidade geral dos governadores atuais e a fraqueza numérica da oposição parlamentar.
De imediato, pode-se considerar a mudança que haverá, dos atuais para aqueles prováveis governadores, em relação ao pacote FHC-FMI. Descarregar muito mais sobre Estados do que sobre o governo federal, como consta que o pacote pretende, encontrará nos três governadores uma barreira de transposição muito difícil.
O que indica haver um erro grave na protelação do pacote, para evitar influência prejudicial aos candidatos de Fernando Henrique. Apesar da protelação, os candidatos vão mal. E o pacote entrou no risco de ser votado, no Congresso, só quando os novos governadores já estejam empossados. Caso seja assim, os exageros contra os Estados afundariam no novo Triângulo das Bermudas.
E nisso tudo nem está considerada a possibilidade de que a repentina e surpreendente dianteira de Mário Covas se confirme. Se vitorioso, e caso não tenha mudado ainda mais, Covas tenderá muito menos à docilidade com o governo federal e muito mais a dar ao Triângulo das Bermudas um ângulo a mais. E assim compor a força máxima.



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