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JANIO DE FREITAS
Triângulo das Bermudas
A apenas três dias do segundo turno, as pesquisas estão
sugerindo vitórias que, a se
confirmarem, invalidam as
análises feitas com base nos
resultados do primeiro turno.
A partir dessas vitórias, o cenário político tende a mudar
radicalmente, com uma nova
divisão de forças e uma situação até agora não experimentada por Fernando Henrique
Cardoso.
No Rio, em Minas e no Rio
Grande do Sul os candidatos
apoiados por Fernando Henrique figuram nas pesquisas
em situações que, normalmente, já não teriam nem
tempo para inverter-se. Mesmo no Sul, onde Antônio Britto lança-se em esforços desesperados, com substituição do
marqueteiro-mor, envolvimento de empresas em pressões sociais e econômicas, e
outras tentativas de mágica,
as pesquisas não recomendam
aposta na virada contra Olívio Dutra.
A tomada de posição de Fernando Henrique contra Itamar Franco, em Minas, não
foi só um ato injustificável, do
ponto de vista ético, com
quem lhe deu a oportunidade
de ser presidente. O Itamar
Franco que continuaria a ser,
muito provavelmente, o magoado sem vontade de confronto, já está forçado a ser,
como governador, um adversário duro de quem investiu
para vê-lo derrotado.
Anthony Garotinho, vindo
do interior, sabe que não terá
base na política e na vida do
Rio, o que é, por si só, sinal de
alerta. Até agora mostra-se
um temperamento mais tolerante e não conflituoso. Mas,
na sua situação, isso não será
vantagem. Caso não se bata
em defesa própria e do seu
governo, ficará acuado pelo
governo federal e pelo oficialismo fluminense, com o conservadorismo empresarial à
frente.
Minas com Itamar, o Rio
Grande com o petista Olívio
Dutra e o Rio com o pedetista
Garotinho ficam destinados a
aliar-se. E a formar, assim,
um conjunto de força suficiente para inaugurar o contraste político que o governo
Fernando Henrique não teve
ainda, dadas a docilidade geral dos governadores atuais e
a fraqueza numérica da oposição parlamentar.
De imediato, pode-se considerar a mudança que haverá,
dos atuais para aqueles prováveis governadores, em relação ao pacote FHC-FMI. Descarregar muito mais sobre Estados do que sobre o governo
federal, como consta que o pacote pretende, encontrará nos
três governadores uma barreira de transposição muito difícil.
O que indica haver um erro
grave na protelação do pacote, para evitar influência prejudicial aos candidatos de
Fernando Henrique. Apesar
da protelação, os candidatos
vão mal. E o pacote entrou no
risco de ser votado, no Congresso, só quando os novos governadores já estejam empossados. Caso seja assim, os exageros contra os Estados afundariam no novo Triângulo
das Bermudas.
E nisso tudo nem está considerada a possibilidade de que
a repentina e surpreendente
dianteira de Mário Covas se
confirme. Se vitorioso, e caso
não tenha mudado ainda
mais, Covas tenderá muito
menos à docilidade com o governo federal e muito mais a
dar ao Triângulo das Bermudas um ângulo a mais. E assim compor a força máxima.
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