São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Lula vê dificuldade de atrair nomes da iniciativa privada a cargos de mais baixo escalão por causa da remuneração

Salários baixos dificultam criação de equipe

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além do estilo centralizador do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e de sua ordem para que os petistas mantenham segredo a respeito das consultas para a formação do ministério, duas outras razões dificultam e atrasam a composição da equipe: 1) os baixos salários da cúpula da administração pública e 2) o temor de que vazamentos melindrem aliados e atrapalhem a votação do Orçamento de 2003.
Ao mesmo tempo em que se queixa reservadamente do excesso de candidatos ao ministério e às estatais mais cobiçadas, Lula lamenta a dificuldade de atrair nomes da iniciativa privada devido aos baixos salários.
O petista recebeu sugestão para rever algumas carreiras e salários, mas sua tendência é recusar esse caminho. Se der aumento, será linear, para todo o funcionalismo.
No meio da pressão para aumento do mínimo para R$ 240 e aumentar as verbas da área social, seria um começo ruim, crê Lula, dar aumentos diferenciados para uma "elite" pública. FHC já fez correções assim, deixando o grosso do funcionalismo público sem reajuste nenhum na maior parte de seu governo. Lula só deve fazer o mesmo se terminar 2003 com perspectiva de crescimento econômico para o resto do mandato.
Ele está preparando um novo organograma do governo, missão que está a cargo de Luiz Gushiken, coordenador-adjunto da equipe de transição.
Atualmente, são 26 cargos no primeiro escalão, com salário de R$ 8.500. Pelo valor político dessas posições, há candidato a ministro disposto a ganhar menos para ocupar a cadeira. Algumas estatais também têm salários polpudos, maiores do que o da administração direta. Funcionários dessas empresas, que formam a administração indireta, poderão ser requisitados para trabalhar na administração direta.
As dificuldades para contratar novos nomes começam no segundo escalão, que tem 1.875 cargos, com salários entre R$ 6.300 e R$ 8 mil. Há ainda cerca de 20 mil cargos de confiança do terceiro escalão para baixo, com salários entre R$ 1.220 e R$ 4.850. A necessidade de prorrogar a cobrança de impostos cuja receita cairia em 2003, pendente de votação no Congresso, contribui para Lula tratar articulações em segredo.
O vazamento de ministros antes da votação do Orçamento também pode melindrar políticos aliados. Esse é um dos motivos que levam Lula a dizer que só tornará público o ministério por volta de 15 de dezembro, a data-limite para o Orçamento de 2003 ser aprovado no Congresso. (KENNEDY ALENCAR E MARTA SALOMON)


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