São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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CAMPO

100 mil famílias estão acampadas

MST condiciona trégua a agenda com governo

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ter decidido não dar trégua ao futuro governo, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) anunciou que não pretende promover invasões caso o Executivo mantenha aberto o diálogo e estabeleça um cronograma para atender suas demandas. A principal delas, para os primeiros seis meses de 2003, é "resolver o problema" de 100 mil famílias acampadas no país.
Esse "problema" é conseguir terras e fornecer comida para todas elas. No dia 27, o MST se reúne para elaborar uma pauta mínima a ser entregue para a equipe de transição. O texto vai mostrar os pontos emergenciais, na avaliação do movimento. Além das famílias acampadas, mencionará conflitos localizados.
Segundo João Paulo Rodrigues, 22, um dos coordenadores nacionais da entidade, o governo eleito deve fortalecer o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e providenciar um crédito emergencial para que as famílias assentadas produzam alimentos. A idéia é fornecer os insumos para o projeto Fome Zero -bandeira do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não existem grandes preocupações de fazer um grande programa de invasões de terra porque estamos confiantes no futuro governo", afirmou Rodrigues.
A representação parlamentar da questão agrária no futuro governo também deveria aumentar. Segundo Rodrigues, o PT, que possui atualmente dez congressistas no núcleo, deve procurar outros partidos como PDT e PC do B para articular a criação de uma bancada agrária.

Atuação no legislativo
Ontem, o núcleo agrário do PT promoveu um seminário para decidir uma agenda de atuação no início do próximo governo. Sem ter uma ponte concreta com o Executivo, uma vez que Lula centralizou as decisões sobre ocupantes de cargos como o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os deputados decidiram apenas a forma de atuação no legislativo.
A saída encontrada foi a defesa de projetos já defendidos hoje pelo partido, como a instituição do seguro agrícola, para que safras perdidas sejam ressarcidas, e limites para o tamanho de propriedades em diferentes Estados.
O líder do partido na Câmara, deputado João Paulo (PT-SP), afirmou que é preciso paciência para lidar com as expectativas e demandas em relação ao presidente eleito. Mais: as críticas que sempre foram dirigidas ao governo federal terão que cessar.
"Antes, quando estávamos em governos municipais e estaduais, remetíamos a responsabilidade de algumas coisas para o governo federal. Agora não poderemos fazer mais isso." A futura demora em atender os projetos que até ontem eram defendidos pelo PT foi justificada pelo petista pelo "legado de tristeza e muita dificuldade" deixado pela gestão FHC.


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