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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Presidente diz que não é "obrigado a concordar" com metas

Lula pede ao "amigo" MST que o julgue só no fim do governo

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Classificando-se de "verdadeiro amigo" dos movimentos sociais e afirmando que vai "morrer" ao lado deles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem aos sem-terra "apressados" e "nervosos" que não sejam precipitados e que não o julguem até o final de seu governo, em 2006.
"Eu quero pedir àqueles que têm mais pressa, que são mais nervosos, que, se um dia tiverem de me julgar, pela nossa relação de amizade, deixem para me julgar no final do meu governo. Não julguem precipitadamente, porque a gente pode cometer erros por precipitação."
A declaração foi feita em Brasília a cerca de 4.000 sem-terra ligados, na maioria, ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e à CPT (Comissão Pastoral da Terra).
A audiência com as entidades estava marcada para acontecer no Palácio do Planalto, mas foi transferida para um pavilhão em que estão acampados os sem-terra que participaram de uma marcha que saiu de Goiânia. Com isso, evitou-se uma concentração de sem-terra em frente ao Planalto.
Ontem, líderes dos sem-terra se reuniram por sete minutos com a cúpula do governo, incluindo o próprio Lula, os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e José Dirceu (Casa Civil), além do presidente do PT, José Genoino.
Antes de discursar, Lula ouviu as palavras de dirigentes dos sem-terra e o anúncio feito por Rossetto das metas do novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária) até 2006 (400 mil famílias assentadas) e autografou uma bandeira do MST e um boné da Contag.
Durante o discurso de 32 minutos, Lula lembrou a polêmica causada por ele em julho, quando usou um boné do MST.
"A gente está aqui reunido, mas tem gente que não gosta. Vocês viram a confusão que deu quando eu coloquei o chapéu dos sem-terra na cabeça, como se fosse a primeira vez na vida. Eu coloco o chapéu dos sem-terra, da Contag, da CUT, de todos os movimentos pelo menos há 20 anos."
Ontem, porém, Lula não usou nenhum boné.
Sobre a aplicação da reforma agrária, o presidente alertou os sem-terra que ela será feita "dentro das possibilidades", dando prioridade aos que "estão mais necessitados". O Brasil tem cerca de 200 mil famílias acampadas.
"Só sou presidente por quatro anos. Mas quero morrer defendendo a reforma agrária neste país, sendo ou não sendo governo. O trem vai ser colocado nos trilhos. Vai depender da quantidade de carvão que a gente possa colocar na máquina, para fazer mais fumaça e andar mais rápido." Lula ainda cobrou a "lealdade" dos sem-terra. "A gente quer fazer a reforma agrária em parceria com vocês."
Lula enalteceu o trabalho do economista e ex-deputado federal petista Plínio de Arruda Sampaio, que, a pedido do governo, elaborou um anteprojeto do PNRA. Mas disse que não era "obrigado a concordar" com seus números -uma meta de 1 milhão de famílias assentadas entre 2004 e 2007.

Relações internacionais
No discurso, Lula disse que não pretende "afrontar os EUA e a União Européia" e que "não se mete na política de outros países". Sobre a Área de Livre Comércio das Américas, afirmou: "Vamos fazer a Alca naquilo que for possível. O resto vamos ver na Organização Mundial do Comércio".
Ainda diante dos sem-terra, defendeu uma saída marítima para a Bolívia e elogiou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
(EDUARDO SCOLESE, PATRÍCIA COSTA E TALITA FIGUEIREDO)


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