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QUESTÃO AGRÁRIA
Presidente diz que não é "obrigado a concordar" com metas
Lula pede ao "amigo" MST que o julgue só no fim do governo
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Classificando-se de "verdadeiro
amigo" dos movimentos sociais e
afirmando que vai "morrer" ao lado deles, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pediu ontem aos
sem-terra "apressados" e "nervosos" que não sejam precipitados e
que não o julguem até o final de
seu governo, em 2006.
"Eu quero pedir àqueles que
têm mais pressa, que são mais
nervosos, que, se um dia tiverem
de me julgar, pela nossa relação
de amizade, deixem para me julgar no final do meu governo. Não
julguem precipitadamente, porque a gente pode cometer erros
por precipitação."
A declaração foi feita em Brasília a cerca de 4.000 sem-terra ligados, na maioria, ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura) e à CPT (Comissão Pastoral da Terra).
A audiência com as entidades
estava marcada para acontecer no
Palácio do Planalto, mas foi transferida para um pavilhão em que
estão acampados os sem-terra
que participaram de uma marcha
que saiu de Goiânia. Com isso,
evitou-se uma concentração de
sem-terra em frente ao Planalto.
Ontem, líderes dos sem-terra se
reuniram por sete minutos com a
cúpula do governo, incluindo o
próprio Lula, os ministros Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário), Luiz Dulci (Secretaria
Geral da Presidência) e José Dirceu (Casa Civil), além do presidente do PT, José Genoino.
Antes de discursar, Lula ouviu
as palavras de dirigentes dos sem-terra e o anúncio feito por Rossetto das metas do novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária)
até 2006 (400 mil famílias assentadas) e autografou uma bandeira
do MST e um boné da Contag.
Durante o discurso de 32 minutos, Lula lembrou a polêmica causada por ele em julho, quando
usou um boné do MST.
"A gente está aqui reunido, mas
tem gente que não gosta. Vocês
viram a confusão que deu quando
eu coloquei o chapéu dos sem-terra na cabeça, como se fosse a
primeira vez na vida. Eu coloco o
chapéu dos sem-terra, da Contag,
da CUT, de todos os movimentos
pelo menos há 20 anos."
Ontem, porém, Lula não usou
nenhum boné.
Sobre a aplicação da reforma
agrária, o presidente alertou os
sem-terra que ela será feita "dentro das possibilidades", dando
prioridade aos que "estão mais
necessitados". O Brasil tem cerca
de 200 mil famílias acampadas.
"Só sou presidente por quatro
anos. Mas quero morrer defendendo a reforma agrária neste
país, sendo ou não sendo governo. O trem vai ser colocado nos
trilhos. Vai depender da quantidade de carvão que a gente possa
colocar na máquina, para fazer
mais fumaça e andar mais rápido." Lula ainda cobrou a "lealdade" dos sem-terra. "A gente quer
fazer a reforma agrária em parceria com vocês."
Lula enalteceu o trabalho do
economista e ex-deputado federal
petista Plínio de Arruda Sampaio,
que, a pedido do governo, elaborou um anteprojeto do PNRA.
Mas disse que não era "obrigado a
concordar" com seus números
-uma meta de 1 milhão de famílias assentadas entre 2004 e 2007.
Relações internacionais
No discurso, Lula disse que não
pretende "afrontar os EUA e a
União Européia" e que "não se
mete na política de outros países".
Sobre a Área de Livre Comércio
das Américas, afirmou: "Vamos
fazer a Alca naquilo que for possível. O resto vamos ver na Organização Mundial do Comércio".
Ainda diante dos sem-terra, defendeu uma saída marítima para
a Bolívia e elogiou o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez.
(EDUARDO SCOLESE, PATRÍCIA COSTA E TALITA FIGUEIREDO)
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