São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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RUMO A 2006

Alckmin, em São Paulo, e Aécio, em Minas, já disputam nos bastidores a hegemonia do PSDB de olho na sucessão de Lula

Sob PT, tucanos iniciam era "café-com-leite"

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA

Nos estertores da era FHC, os tucanos se reorganizam para iniciar sua fase "café-com-leite", fora do poder central e na oposição a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
O governador eleito de Minas, Aécio Neves, e o reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, articulam para assumir o controle do partido e inaugurar uma nova fase do PSDB, que, com o fim do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso no comando do país, passaria a ter como eixo os governos dos tucanos nos Estados -sete, ao todo.
Ao redor dos governadores de São Paulo e Minas orbitam forças que polarizam os tucanos. Com Alckmin, está o grupo "histórico" paulista, formado, entre outros, pelo senador José Serra, candidato derrotado à sucessão de Fernando Henrique, e o presidente nacional da sigla, José Aníbal.
Aécio Neves, neto do presidente Tancredo Neves, morto em 1985, tem como principal aliado o senador eleito e ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati, que se recusou a apoiar Serra no primeiro turno das eleições.
Os dois grupos medem forças na intenção de comandar o PSDB a partir de maio do ano que vem, quando ocorrem as eleições para a presidência do partido.
A polarização reedita à sua maneira a "política do café-com-leite" - alternância de poder entre as oligarquias paulista e mineira na República Velha, pré-1930.
Divergências à parte, o paulista e o mineiro, conclamados como a "nova geração dos tucanos", comungam a crença de que o PSDB precisa aproximar-se de uma nova agenda de mudanças sociais e fortalecer sua militância, historicamente restrita, para sobreviver em boas condições à "era Lula".
Tanto Aécio quanto Alckmin defendem um PSDB sintonizado com o interesse administrativo dos sete governadores tucanos. Mas os dois, no entanto, têm projetos de ocuparem a vaga de candidato do partido à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.
Os dois dizem não haver disputa entre eles e pregam a união da legenda partidária. A disputa interna visando 2006 estaria, por ora, fora de foco, ao menos no discurso de ambos.
No xadrez político dos tucanos, porém, as peças já se movimentam conforme cada projeto. Não faz parte dos planos de Alckmin, por exemplo, romper com os "históricos" paulistas.
Ele sequer medirá forças com o grupo. Sempre os tratará como aliados, prova disso é que os terá em seu futuro secretariado, pois os únicos nomes anunciados até agora para compor o primeiro escalão paulista foram indicados pelos históricos -Arnaldo Madeira (Casa Civil), Andrea Calabi (Planejamento) e João Carlos Meirelles (Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo) .
A questão para o governador reeleito é apenas deixar de exercer papel secundário no diretório paulista. Alckmin quer se consolidar como uma influente liderança e, para isso, precisa se erguer internamente levando consigo o seu próprio grupo, do qual fazem parte nomes de atuação regional, como o deputado estadual Edson Aparecido, presidente do PSDB em São Paulo, e o secretário da Educação, Gabriel Chalita.
Transformar-se em uma espécie de representante do grupo de governadores tucanos, escorado no peso de São Paulo, cacifaria Alckmin a disputar a indicação do partido para 2006.
O mineiro, de seu lado, considera importante não perder a interlocução com Alckmin, e sabe que assumirá no próximo dia 1º um Estado diante de grave crise financeira. Por isso, avalia, precisará do apoio do partido e do paulista para negociar com o futuro governo petista.
As divergências surgem quando o assunto é o comando do PSDB. Aécio avalia que para o partido ter como eixo os governos tucanos, não ficando à mercê de disputas políticas internas com vistas quase que exclusivas à disputa em 2006, a eleição de Tasso para o cargo de Aníbal seria o ideal. O cearense quer o cargo. Para o qual Serra também está de olho.


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