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SOMBRA NO PLANALTO
Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, anunciou plano de estatização do setor, ainda em formulação no governo federal
Estatuto das loterias deve moldar bingos
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Ao mesmo tempo em que mantém em vigor a medida que instituiu a proibição provisória dos
bingos, o governo defenderá no
Congresso uma proposta de impor à atividade um estatuto semelhante ao das loterias, controladas
exclusivamente pelo Estado.
Segundo o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, essa é a
vertente pela qual o governo tentará extrair dos parlamentares
apoio ao plano de estatizar o setor. "Não vejo possibilidade de
conceder [os bingos] para a iniciativa privada", afirmou Bastos,
que passa o feriado de Carnaval
em uma casa de praia no Guarujá
(87 km a sudeste de São Paulo).
De acordo com o ministro, a
proposta se encontra em fase de
formulação, mas terá como princípio básico o funcionamento dos
bingos nos moldes das loterias.
"Exatamente. Você pegou o
ponto", respondeu, ao ser indagado sobre a possibilidade de as loterias se converterem no modelo
para o bingo estatal, caso o Congresso dê aval à proposta.
Anteontem, o presidente da
Abrabin (Associação Brasileira
dos Bingos), Olavo Salles da Silveira, previu que, com a proibição
dos bingos, haverá uma "migração natural" dos apostadores para
o mercado de loterias.
O ministro Thomaz Bastos negou que o caso Waldomiro Diniz
tenha sido o único fator a motivar
a guinada radical da posição do
governo, que saltou da articulação de um plano destinado a legalizar a atividade para o extremo
oposto, o da proibição absoluta.
Segundo ele, o grupo interministerial que estudava a legalização não chegou a uma conclusão,
mas fez um trabalho de investigação e de coleta de dados cujo objetivo era subsidiar uma decisão do
governo sobre o assunto.
"O governo não decide no abstrato, não decide assim, no vazio.
Ele decide levando em conta as
circunstâncias, prestando atenção
em tudo o que está acontecendo.
Então, tudo isso foi circunstância
que pesou na decisão, não é só o
caso Waldomiro", declarou.
Bastos está recebendo diariamente do diretor-geral da Polícia
Federal relatórios a respeito das
operações em andamento em todo o país destinadas a garantir o
cumprimento da determinação
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de manter fechados os bingos enquanto não houver uma
decisão do Congresso.
De acordo com o ministro, a
maioria dos bingos cumpriu espontaneamente a medida provisória, mas alguns só fecharam
mediante intervenção da PF.
Para Thomaz Bastos, mesmo
amparadas por liminares (decisões provisórias), as casas de bingos estão obrigadas a suspender
as atividades. O ministro discorda
da avaliação do especialista Rodrigo Canellas Dias, promotor do
Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), para quem um ato de
Executivo não se sobrepõe a uma
decisão judicial. "Como veio uma
norma legal, as liminares ficam
sem efeito. Uma medida provisória é uma lei com efeitos antecipados. Então, ela tem toda a virtualidade que uma lei tem", disse.
Mesmo assim, antevendo questionamentos na Justiça, ele afirmou que o ministério está estudando as eventuais opções de recursos judiciais dos quais poderiam lançar mão os proprietários
de casas de bingos, a fim de adotar
medidas destinadas a "fechar todas as brechas".
"A determinação do presidente
foi muito firme: parar com o jogo
até que o Congresso decida o que
fazer", declarou.
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