São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, anunciou plano de estatização do setor, ainda em formulação no governo federal

Estatuto das loterias deve moldar bingos

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Ao mesmo tempo em que mantém em vigor a medida que instituiu a proibição provisória dos bingos, o governo defenderá no Congresso uma proposta de impor à atividade um estatuto semelhante ao das loterias, controladas exclusivamente pelo Estado.
Segundo o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, essa é a vertente pela qual o governo tentará extrair dos parlamentares apoio ao plano de estatizar o setor. "Não vejo possibilidade de conceder [os bingos] para a iniciativa privada", afirmou Bastos, que passa o feriado de Carnaval em uma casa de praia no Guarujá (87 km a sudeste de São Paulo).
De acordo com o ministro, a proposta se encontra em fase de formulação, mas terá como princípio básico o funcionamento dos bingos nos moldes das loterias.
"Exatamente. Você pegou o ponto", respondeu, ao ser indagado sobre a possibilidade de as loterias se converterem no modelo para o bingo estatal, caso o Congresso dê aval à proposta.
Anteontem, o presidente da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Salles da Silveira, previu que, com a proibição dos bingos, haverá uma "migração natural" dos apostadores para o mercado de loterias.
O ministro Thomaz Bastos negou que o caso Waldomiro Diniz tenha sido o único fator a motivar a guinada radical da posição do governo, que saltou da articulação de um plano destinado a legalizar a atividade para o extremo oposto, o da proibição absoluta.
Segundo ele, o grupo interministerial que estudava a legalização não chegou a uma conclusão, mas fez um trabalho de investigação e de coleta de dados cujo objetivo era subsidiar uma decisão do governo sobre o assunto.
"O governo não decide no abstrato, não decide assim, no vazio. Ele decide levando em conta as circunstâncias, prestando atenção em tudo o que está acontecendo. Então, tudo isso foi circunstância que pesou na decisão, não é só o caso Waldomiro", declarou.
Bastos está recebendo diariamente do diretor-geral da Polícia Federal relatórios a respeito das operações em andamento em todo o país destinadas a garantir o cumprimento da determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter fechados os bingos enquanto não houver uma decisão do Congresso.
De acordo com o ministro, a maioria dos bingos cumpriu espontaneamente a medida provisória, mas alguns só fecharam mediante intervenção da PF.
Para Thomaz Bastos, mesmo amparadas por liminares (decisões provisórias), as casas de bingos estão obrigadas a suspender as atividades. O ministro discorda da avaliação do especialista Rodrigo Canellas Dias, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), para quem um ato de Executivo não se sobrepõe a uma decisão judicial. "Como veio uma norma legal, as liminares ficam sem efeito. Uma medida provisória é uma lei com efeitos antecipados. Então, ela tem toda a virtualidade que uma lei tem", disse.
Mesmo assim, antevendo questionamentos na Justiça, ele afirmou que o ministério está estudando as eventuais opções de recursos judiciais dos quais poderiam lançar mão os proprietários de casas de bingos, a fim de adotar medidas destinadas a "fechar todas as brechas".
"A determinação do presidente foi muito firme: parar com o jogo até que o Congresso decida o que fazer", declarou.


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