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TERRA SEM LEI
Para PF, caso está elucidado, mas falta prender o suposto mandante
Polícia diz que a morte de
Dorothy custou R$ 50 mil
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA (PA)
A missionária Dorothy Stang
seria assassinada no dia 11, sexta-feira, em troca de R$ 50 mil prometidos aos pistoleiros pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de
Moura, o Bida. Como na sexta ela
dormiu num local de difícil acesso, foi morta na manhã do dia seguinte. Os pistoleiros acabaram
recebendo só R$ 50 para a fuga.
Essa versão do crime, ocorrido
em Anapu (oeste do Pará), segundo a Polícia Federal, foi passada
por Clodoaldo Carlos Batista, 30,
apelidado de Eduardo, terceiro
acusado pelo assassinato a ser
preso. Encontrado anteontem fugindo pela mata, ele estava sendo
chamado pelo nome de Uilquelano -ainda segundo a polícia, para não atrapalhar as investigações.
Os outros detidos são Amair
Feijoli da Cunha (o Tato), suposto
intermediário do crime, e Rayfran
das Neves Sales (o Fogoió), acusado de ser -junto com Eduardo- um dos pistoleiros que atiraram na freira. Bida, o suposto
mandante, é o último foragido.
Segundo o delegado da PF Ualame Fialho Machado, os depoimentos -principalmente o de
Eduardo- "elucidam" o caso.
"Com esse depoimento está caracterizada a participação do Bida
no crime, que foi um crime de
mando. Falta agora prendê-lo."
O depoimento de Eduardo foi
considerado até agora o mais confiável pela PF. Ele indicou que o
crime foi premeditado e que havia
outras pessoas interessadas na
morte da freira -e que elas possivelmente dividiriam com Bida os
custos da recompensa oferecida.
Dorothy liderava o projeto de
assentamento PDS Esperança, em
Anapu, e queria que as terras que
Bida alega possuir fossem desapropriadas. No dia 11, ela chegou
ao PDS para uma reunião com os
assentados. Dormiu num barracão rústico de madeira fina e palha de babaçu. Eduardo relatou,
segundo a PF, que tentaram assassiná-la na sexta, mas, como ela
dormia num local escuro, resolveram matá-la no sábado.
"Ela falou que a área [lote 55, de
Bida] ia ser do PDS e se abaixou
para nos mostrar um mapa. Rayfran mostrou a arma, ela leu um
trecho da Bíblia, mas o Rayfran
atirou", disse no depoimento.
A oferta de R$ 50 mil foi feita
por Tato, que trabalhava com Bida, segundo Eduardo. "O Tato
propôs a mim e ao Rayfran que tinha R$ 50 mil para matar a velha.
O Tato me pediu para conversar
com o Rayfran sobre a proposta, o
dinheiro era para ser dividido. Eu
disse que não tinha coragem, e o
Rayfran disse: "Eu faço, tu só me
acompanha'", disse. Rayfran, o
Fogoió, disse em seu depoimento
que Eduardo também atirou.
O delegado Machado afirmou
que, com base nos depoimentos
de Eduardo e Fogoió, Bida ratearia o valor da recompensa com
outras pessoas que tinham interesse na morte da freira.
Machado disse que o depoimento de Eduardo esclareceu o
por que de Fogoió ter dito anteontem à Polícia Civil que o mandante do crime era o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, Francisco de Assis
dos Santos Souza, o Chiquinho do
PT. Mais tarde, Fogoió desmentiu
a informação. Segundo a PF, Bida
e Tato disseram aos supostos pistoleiros que, se fossem presos,
apontassem Chiquinho, pois conseguiriam advogados para eles.
Fogoió, Eduardo e Tato foram
indiciados por homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos de reclusão, em regime fechado).
Eduardo foi preso anteontem
em Belo Monte, a 70 km de Altamira, numa operação que envolveu 30 homens das polícias Civil e
Federal, além da 23ª Brigada de
Infantaria de Selva.
Eduardo estava na mata fechada e foi localizado por dez homens da Infantaria de Selva, que
disseram tê-lo encontrado devido
ao odor que exalava de seu corpo
-principalmente de cigarro.
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