São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

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PT NO DIVÃ

Bancada na Câmara também não quer discussão da reforma trabalhista

Petistas são contra votação da autonomia do BC neste ano

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A bancada de deputados federais do PT -a maior da Câmara, com 91 parlamentares- fechou ontem posição contrária à votação da proposta de autonomia do Banco Central neste ano, matéria de interesse da equipe econômica.
Em tensa reunião na noite de ontem, o PT aprovou documento que considera ainda "inoportuna" a discussão da reforma trabalhista em 2005 e pede mais prazo para que seja discutida a mudança na legislação sindical, com a qual o governo se comprometeu.
"A bancada considera inoportuno o envio de projetos que tratem da autonomia do Banco Central e da reforma trabalhista. Quanto à reforma sindical, consideramos imprescindível amplo debate prévio com a bancada", diz o documento aprovado pela bancada e encampado pelo novo líder do partido na Casa, Paulo Rocha (PT), eleito ontem.
A esquerda petista, que compreende cerca de um terço dos 91 deputados, saiu da reunião festejando. "Foi uma vitória enorme", disse o deputado Ivan Valente (SP). "Ter o compromisso da bancada contrário a essa votação é algo importantíssimo", declarou João Alfredo (CE).
Após sua eleição, Rocha preocupou-se em dizer que a bancada não votou quanto à autonomia do BC em si, apenas quanto à "oportunidade" de votá-la em 2005.
"Não discutimos o mérito, mas a temporalidade. É um debate que traz dificuldade para a bancada neste momento. Em outro momento, poderá ser enfrentado de outra maneira", afirmou. Na prática, porém, fica quase impossível votar a questão em 2006, por ser ano de eleição presidencial. Como a autonomia e a reforma trabalhista são temas polêmicos, o governo dificilmente passaria pelo desgaste de discuti-las em 2006.
Rocha disse que não vê a aprovação como uma derrota para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que defende a autonomia argumentando que é importante para reduzir os juros. "O governo tem sua posição, mas a bancada adotou sua própria posição."
O documento quase não saiu. Ele surgiu a partir de um texto da ala esquerda do partido, que tinha uma versão mais forte. Dizia que a autonomia do BC e a reforma trabalhista eram parte de uma "agenda negativa" que teria acolhida apenas na "parte mais despolitizada" da base aliada.
O texto foi considerado inaceitável pela ala mais afinada com o governo, e formou-se comissão de seis parlamentares para achar um texto de consenso que pudesse ser assumido pelo novo líder.
Foi a vez então de a esquerda da bancada reclamar da nova versão. Houve discussão acalorada e ameaça de não votar a escolha do líder. "Estão querendo tratar disso como decidiram o candidato a presidente", afirmou Walter Pinheiro (BA), da ala radical, em referência à escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh para disputar a presidência da Casa.
No final, um apelo do líder do governo, Professor Luizinho (SP), possibilitou um consenso. O texto foi aprovado, mas Rocha se comprometeu a realizar seminário da bancada em março para discutir a "repactuação", ou seja, a relação entre as tendências internas.
Na reunião, o PT escolheu ainda as quatro comissões permanentes de sua preferência, a serem definidas hoje de manhã. Além da Comissão de Constituição e Justiça foram eleitas Finanças, Direitos Humanos e Seguridade Social.
Rocha, o novo líder, é da ala majoritária do PT e um destacado integrante da "tropa de choque" do governo. Técnico em artes gráficas, está no quarto mandato.


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